25
de Abril Sempre. Fascismo nunca mais!
Quando este texto estiver a ser lido,
terão já sido cumpridos, e comemorados, os 48 anos da Revolução dos Cravos, com
alegria e liberdade que o 25 de Abril tornou possível.
Fizemo-lo (quase) todos conscientes de
que nem tudo está cumprido mas, ainda assim, o balanço entre estes 48 anos e os
anteriores 47 anos e trezentos e quarenta e dois dias, tempo que durou a
ditadura militar e terrorista imposta pelo golpe militar de 28 de Maio e continuada
e intensificada pelo salazarismo é claramente positivo.
Comemorámos Abril num tempo em que,
uma parte maioritária da nossa população não conheceu, felizmente, o que
significava para os seus pais e avôs a (sobre)vivência num país em que a
miséria era condição para o enriquecimento de uns (muito) poucos, imposta e
mantida à custa de politicas terroristas de esmagamento dos direitos e de
quaisquer veleidades de resistência, desenhadas pelos salazaristas e suportadas
numa minoria de privilegiados formada por capitalistas e agrários.
Comemorámos Abril num contexto e num
tempo em que são perceptíveis alguns efeitos do que não nos foi possível
cumprir, de uma menor atenção à discussão junto das novas gerações do que
impôs, o que foi e o que mudou com a Revolução dos Cravos e a valorização do
que foi e é viver em Liberdade.
Cumprimos quarenta e oito anos de
democracia politica e assinalámos o 46º aniversário da Constituição que a consagra
num tempo em que “aceitamos” que a Constituição que todos estamos obrigados a
cumprir e outros, não só a cumpri-la mas também a fazer cumpri-la, tenha o seu
articulado (algum) falsamente esquecido e ignorado.
Talvez possamos encontrar aí, a par de
termos deixado anichar no aparelho de estado inimigos declarados da liberdade e
da Constituição e entregue nas mãos do capital nacional e internacional os
principais órgãos da comunicação social que estes transformaram em megafones
dos seus interesses, alguma justificação para que 48 anos depois de Abril o
fascismo comece agora a “sair do armário”.
A campanha orquestrada contra a
generalidade dos partidos políticos e a guerra aberta e declarada contra o PCP,
a orquestração de meias verdades e mentiras com que procuram impor o regresso
às politicas de pensamento único, o estimulo ao branqueamento do fascismo
nacional e internacional, o permitir a organizações e instituições estrangeiras
opinarem e atacarem instituições portuguesas, o tomarem partido pela guerra e condenarem
os que defendem a paz ao arrepio do bom senso e do que a Constituição da
Republica impõe são a expressão visível das politicas de branqueamento do
fascismo e do que o origina.
Tudo o resto, a posição de cada um
(pessoa e grupo) sobre a guerra ou sobre a paz, sobre o ficar em casa ou na rua
quando da pandemia, sobre a solidariedade ou propaganda sobre as vitimas da
guerra e o apoio ou não aos que procuram (e merecem) refugio, são tão só peças
do argumentário com que procuram mascarar os verdadeiros objetivos e sonhos – pôr
fim à Liberdade conquistada, pela qual muitos se bateram e alguns ainda não
tiveram coragem de retirar da sua simbologia: Pão, Paz e Liberdade.
Em 2022, neste território e neste
contexto, celebrar Abril é evidenciar o que foi o fascismo e combater o seu
branqueamento. É, tem de ser, assinalar o seu sentido transformador e
revolucionário, não rasurar a memória colectiva que o envolve, afirmar o
caminho que o tornou possível, rejeitar as perversões e falsificações
históricas, denunciar os que o invocam para o amputar do seu sentido mais
profundo.
Num tempo em que os senhores da guerra
a trouxeram de novo para solo europeu, afirmar Abril é declararmos Guerra à
Guerra, contra todas as guerras independentemente do espaço onde se desenvolvem
e da cor da pele ou da religião das suas vítimas. É lembremo-lo, saber
interpretar, cumprir e fazer cumprir a Constituição da Republica.
Que a cegueira anti-comunista não estimule ou permita aos que já se sentem seguros para “sair do armário” cumprirem o sonho de “apagar” Abril.
Que os que o fizeram (todos) queiram e saibam defender Abril!
Diogo
Júlio Serra
* texto publicado no Jornal do Alto Alentejo.
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