quinta-feira, 5 de maio de 2022

25 de Abril Sempre

 



25 de Abril Sempre. Fascismo nunca mais!

Quando este texto estiver a ser lido, terão já sido cumpridos, e comemorados, os 48 anos da Revolução dos Cravos, com alegria e liberdade que o 25 de Abril tornou possível.

Fizemo-lo (quase) todos conscientes de que nem tudo está cumprido mas, ainda assim, o balanço entre estes 48 anos e os anteriores 47 anos e trezentos e quarenta e dois dias, tempo que durou a ditadura militar e terrorista imposta pelo golpe militar de 28 de Maio e continuada e intensificada pelo salazarismo é claramente positivo.

Comemorámos Abril num tempo em que, uma parte maioritária da nossa população não conheceu, felizmente, o que significava para os seus pais e avôs a (sobre)vivência num país em que a miséria era condição para o enriquecimento de uns (muito) poucos, imposta e mantida à custa de politicas terroristas de esmagamento dos direitos e de quaisquer veleidades de resistência, desenhadas pelos salazaristas e suportadas numa minoria de privilegiados formada por capitalistas e agrários.

Comemorámos Abril num contexto e num tempo em que são perceptíveis alguns efeitos do que não nos foi possível cumprir, de uma menor atenção à discussão junto das novas gerações do que impôs, o que foi e o que mudou com a Revolução dos Cravos e a valorização do que foi e é viver em Liberdade.

Cumprimos quarenta e oito anos de democracia politica e assinalámos o 46º aniversário da Constituição que a consagra num tempo em que “aceitamos” que a Constituição que todos estamos obrigados a cumprir e outros, não só a cumpri-la mas também a fazer cumpri-la, tenha o seu articulado (algum) falsamente esquecido e ignorado.

Talvez possamos encontrar aí, a par de termos deixado anichar no aparelho de estado inimigos declarados da liberdade e da Constituição e entregue nas mãos do capital nacional e internacional os principais órgãos da comunicação social que estes transformaram em megafones dos seus interesses, alguma justificação para que 48 anos depois de Abril o fascismo comece agora a “sair do armário”.

A campanha orquestrada contra a generalidade dos partidos políticos e a guerra aberta e declarada contra o PCP, a orquestração de meias verdades e mentiras com que procuram impor o regresso às politicas de pensamento único, o estimulo ao branqueamento do fascismo nacional e internacional, o permitir a organizações e instituições estrangeiras opinarem e atacarem instituições portuguesas, o tomarem partido pela guerra e condenarem os que defendem a paz ao arrepio do bom senso e do que a Constituição da Republica impõe são a expressão visível das politicas de branqueamento do fascismo e do que o origina.

Tudo o resto, a posição de cada um (pessoa e grupo) sobre a guerra ou sobre a paz, sobre o ficar em casa ou na rua quando da pandemia, sobre a solidariedade ou propaganda sobre as vitimas da guerra e o apoio ou não aos que procuram (e merecem) refugio, são tão só peças do argumentário com que procuram mascarar os verdadeiros objetivos e sonhos – pôr fim à Liberdade conquistada, pela qual muitos se bateram e alguns ainda não tiveram coragem de retirar da sua simbologia: Pão, Paz e Liberdade.

Em 2022, neste território e neste contexto, celebrar Abril é evidenciar o que foi o fascismo e combater o seu branqueamento. É, tem de ser, assinalar o seu sentido transformador e revolucionário, não rasurar a memória colectiva que o envolve, afirmar o caminho que o tornou possível, rejeitar as perversões e falsificações históricas, denunciar os que o invocam para o amputar do seu sentido mais profundo.

Num tempo em que os senhores da guerra a trouxeram de novo para solo europeu, afirmar Abril é declararmos Guerra à Guerra, contra todas as guerras independentemente do espaço onde se desenvolvem e da cor da pele ou da religião das suas vítimas. É lembremo-lo, saber interpretar, cumprir e fazer cumprir a Constituição da Republica.

Que a cegueira anti-comunista não estimule ou permita aos que já se sentem seguros para “sair do armário” cumprirem o sonho de “apagar” Abril.

Que os que o fizeram (todos) queiram e saibam defender Abril!

Diogo Júlio Serra

* texto publicado no Jornal do Alto Alentejo.

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