Intervenção de Diogo Júlio Serra*
Cumprimentos protocolares….
Os meus camaradas de Partido e os
companheiros da CDU deram-me a súbita honra de usar esta tribuna para em seu
nome saudar os portalegrenses, estejam onde estiverem, a Autarquia que a todos
representa e todos os grupos políticos que também no nosso concelho e na nossa
cidade esgrimindo consensos ou diferenças usufruem e consolidam a democracia e
dessa forma honram Abril.
O facto de ser um, somos cada vez
menos e ainda bem, dos que pela já muita idade, podemos testemunhar quer o dia
a dia vivido num país esmagado pela ditadura salazarista, quer a chegada
daquela madrugada azul e limpa como tão bem a definiu Sofia de Melo Anderson e
a Revolução que de imediato permitiu, deverá ter pesado na decisão de me
honrarem com a sua escolha.
Honra que desde já agradeço. Tanto
mais porque ao darem-me a possibilidade de usar esta tribuna permitem que saúde
todos quanto possibilitaram, realizaram, continuaram e defendem a Revolução dos
Cravos: os homens e mulheres organizados ou não PCP que nas fábricas, nos
campos e nas ruas resistiam à fascisação do país e levantavam bandeiras contra
a fome e a guerra, contra a pobreza e a exploração e os capitães de Abril que
derrubaram o regime de opressão e terror e que também souberam interpretar a
vontade da população portuguesa que desde as primeiras horas inundou praças e
avenidas exigindo o fim da guerra, a paz, o pão e a liberdade
Comemorar Abril e a liberdade é usar em cada
momento e em cada situação a liberdade alcançada. É tornar normal aquilo que em
ditadura estava ao alcance de muito poucos – a liberdade de pensamento e a
coragem de o afirmar e de pagar os custos dessa coragem, com perseguições,
prisão e quantas vezes com a própria vida.
Estimados concidadãos,
Comemorar Abril é afirmar e valorizar
todas as suas conquistas e reafirmar a nossa vontade e disponibilidade em
cumpri-lo todos os dias. Mas é igualmente, não deixar esquecer quantos, também
aqui, na nossa cidade e concelho nunca desistiram de lutar por Abril mesmo
quando não era perceptível que O houvesse e muito menos ousássemos antever
quando chegaria.
Permitam-me, pois, saudar algumas
instituições portalegrenses que foram nesses tempos de escuridão escolas de
cidadania e liberdade, alfobres de resistência e viveiros de esperança: A
Cooperativa Operária, o Alentejo Futebol Clube e as muitas coletividades de
cultura e recreio; a Rabeca – Jornal democrata e baluarte da
resistência ao salazarismo e, sobretudo, os ilustres portalegrenses que a
partir de cada uma delas expandiam as virtualidades da democracia sonhada: João
Diogo Casaca, Jornalista, proprietário e diretor da Rabeca, Feliciano Falcão,
médico, que também dirigiu a Rabeca, João Belmiro Contro da Silva, eletricista,
João Dias Mourato, corticeiro, Jorge Feliciano Arranhado, comerciante e dirigente
desportivo (a quem o anterior executivo negou a atribuição do seu nome ao edifício
que foi sede da União Operária Portalegrense e onde durante anos esteve a sede
dos seu Estrela Futebol Clube) Florindo Madeira, primeiro Governador Civil, da
democracia, António Teixieira, Manuel Pinho, José Manuel Barradas, Manuel
Bagina, Júlio Maurício, Elisa Cassola Ribeiro, Joaquim Miranda da Silva, de
entre os que já partiram, mas também os que ainda temos, felizmente entre nós:
a Comendadora Domingas Valente, António Ventura, Eduardo Basso, Nicolau Saião, Joaquim
Carrapiço, Nicolau Dias Ferreira, ligados á segunda fase da vida do Jornal a
Rabeca, Adriano Capote, eleito para presidente da Comissão Administrativa,
cargo de que abdicou a favor de Parente Pacheco, por se entender demasiado
jovem para a função, o Antero, dirigente sindical da Lanifícios desde a
fundação da Intersindical, António José Ceia dos Reis e António Milheiro,
fundadores da União dos Sindicatos de Portalegre.
Alguns deles meus camaradas de partido
mas todos eles e elas camaradas da resistência e construtores em Portalegre, dos
caminhos que permitiram Abril e através deles a minha homenagem a todos quantos
construíram e conservaram os caminhos de Abril.
Estimados concidadãos.
Com o 25 de Abril revolveu-se a vida
no País e, por isso mesmo, não há faceta ou pormenor que o resumam – a
revolução foi, no seu desabrochar imediato, uma explosão de liberdade, é certo,
mas que não perduraria se, de imediato nuns casos, noutros a breve trecho, não
imprimisse em todos os demais aspectos da vida a marca que lhe garantiu e
garante sustentação.
Às operações programadas e depois
executadas pelos Capitães de Abril e que desarmaram o regime opressor,
associou-se a inundação de ruas e praças pela população que validavam a
iniciativa militar e gritando, exprimiram livremente o que pensavam e queriam:
Liberdade de pensamento e de expressão
sim, mas também liberdade de organização e de luta.
Luta por mais pão, luta por saúde,
educação e justiça para todos.
Exigiam-no e começaram de imediato a dar-lhe
corpo. Com avanços e recuos, melhores ou piores resultados, mas sempre em
confronto com as ideias e as práticas do passado e quase sempre em rutura total
com elas.
Assim, comemorar Abril exige afirmar o
que a Revolução representa e expressa enquanto processo libertador com
profundas transformações na sociedade portuguesa e um dos mais altos momentos
da vida e da história do povo português e de Portugal.
Comemorações em que é imperativo não
deixar submergir o que ela foi e representou na avalanche interpretativa dos
que lhe negam a sua natureza, alcance e características ímpares.
Celebrar Abril é evidenciar o que foi
o fascismo e combater o seu branqueamento, é destacar a luta anti-fascista,
pela liberdade e a democracia.
Celebrar Abril é assinalar o seu
sentido transformador e revolucionário, não rasurar a memória colectiva que o
envolve, afirmar o caminho que o tornou possível, rejeitar as perversões e
falsificações históricas, denunciar os que o invocam para o amputar do seu
sentido mais profundo, sublinhar o que constitui hoje de valores e referências para
um Portugal desenvolvido e soberano que décadas de política de direita têm
contrariado.
Por mais que reescrevam, Abril foi uma
revolução, não uma “evolução” ou “transição” entre regimes, um momento e um
processo de ruptura com o regime fascista, o derrube do fascismo e do que o
suportava.
Abril foi possível porque é fruto de
uma longa resistência antifascista, de uma abnegada dedicação à luta pela
democracia e liberdade de comunistas e de outros democratas, de uma intensa
luta de massas da classe operária, da juventude, do povo.
Comemorar Abril, é assinalar e afirmar
todas as suas conquistas e continuar os caminhos para a sua defesa e garantir a
concretização das que falta cumprir.
E porque estas são as comemorações
organizadas pelo Município importa salientar que o Poder Local Democrático é
ele próprio uma dessas conquistas.
Comemorar Abril é, também, defender e
valorizar o poder local hoje ameaçado, pelo subfinanciamento, pela imposição de
aceitar encargos disfarçados de transferência de poderes, pela ingerência
tutelar, pela instrumentalização que procura reconduzi-lo, a mero executor
técnico das opções de terceiros.
Comemorar Abril é exigir que se cumpra
a Constituição e o que ela consagra e determina quanto à criação de regiões
administrativas completando assim o edifício do poder local que continua por
cumprir.
Comemorar Abril é reafirmar que o
Poder Local Democrático continua vivo e com energia bastante para resistir e se
regenerar se essa for a vontade dos que, nos seus órgãos, se dedicam à causa
pública e se souberem juntar-lhe as mil vontades dos cidadãos que representam.
Comemorar Abril é também,
particularmente neste momento em que se procura subverter os seus objetivos e
retomar os velhos caminhos da intolerância e do ódio e se ouvem, de novo, os
gritos de exaltação à guerra, saber interpretar, cumprir e fazer cumpri a
Constituição da Republica.
Quando cumprimos o 48º aniversário da
Revolução dos Cravos, cumprir Abril é, como sempre foi, reafirmar os seus
valores e usar em cada dia a liberdade conquistada.
É impedir pelas palavras e por ações que
os valores de Abril sejam sequestrados pelos que sempre os combateram.
É impedir o regresso do discurso do
ódio, da imposição do pensamento único, da rotulagem como mau, de tudo o que
não se deixa dominar, do regresso às posturas do “quem não é por nós é contra
nós”, da divisão do mundo e das gentes entre os bons e os maus, da tentativa de
colagem dos que sempre foram e são pela Paz a um dos lados da guerra.
Num tempo em que os senhores da guerra
a trouxeram de novo para solo europeu, afirmar Abril é declararmos Guerra à
Guerra, contra todas as guerras independentemente do espaço onde se desenvolvem
e da cor da pele ou da religião das suas vítimas. É sermos militantes ativos
pela Paz é, em suma, cumprir o Espirito de Abril e a Constituição que o
Consagra.
25
de Abril Sempre.
Fascismo nunca mais!
*Intervenção
na sessão solene comemorativa
Do
25 de Abril, em nome da CDU/Portalegre
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