A formiga no carreiro vinha em sentido
contrário…
À guerra não ligues meia
Porque alguns grandes da terra
Vendo a guerra em terra alheia
Não querem que acabe a guerra
(António Aleixo)
Os tambores da guerra voltam a rufar na Europa. É
tempo de justificada apreensão e sobretudo de reflexão sobre as razões de não
conseguirmos aprender com os erros, os nossos e os dos outros.
Antes de continuar esta reflexão que quero
partilhar com os leitores do Alto Alentejo importa recordar-vos dois factos
históricos e fazer uma “declaração de interesses”.
Os factos históricos:
- A União das Repúblicas Soviéticas Socialistas
terminou, em 26 de Dezembro de 1991 por erros grosseiros e em alguns casos
traição dos seus dirigentes e pela ação persistente e coordenada dos inimigos
do (penso eu) futuro da humanidade, tendo dado lugar a um significativo número
de países que acabariam por se distanciar do projeto soviético e integrar-se no
capitalismo dominante.
O PCUS – Partido Comunista da União Soviética
acompanhou o movimento de desintegração territorial “nacionalizou-se” e em cada
país prossegue a luta pelos ideais em que acredita fazendo-o como sempre e em
cada lugar, face às necessidades e nas condições em que age. Assim, o Partido
Comunista da República da Rússia é o partido que lidera a oposição ao regime
autocrático de Putin, enquanto o Partido Comunista da Ucrânia, que viu serem
perseguidos e assassinados os seus militantes e ser declarado “ilegal” assume
na clandestinidade o que entende ser a sua obrigação para com os ucranianos.
Agora a declaração de interesses. Enquanto cidadão
português, convicto que o capitalismo não é, como não o foram os sistemas que o
antecederam, o fim da história e que o futuro será, um dia, “De uma Terra sem
amos, a Internacional” entendo Putin e o seu sistema autocrático tão
desprezível quanto os regimes que a mando dos DNT semeiam guerras, fome e morte
ao sabor dos seus mesquinhos interesses e condeno, agora como sempre, a invasão
militar de um Estado soberano.
Terminada a “introdução” passemos agora ao que aqui
me trouxe. Identifico-me com todos os que de forma sincera têm vindo a público
mostrar a sua preocupação face ao novo conflito bélico que estalou na Europa.
Revejo-me nas preocupações de quantos exigem o fim imediato da escalada
belicista e na solidariedade com as suas vítimas que são, nesta como em todas
as guerras, os que menos ou nenhuma culpa têm das razões que, quem as ordena
pensam existirem.
Consigo perceber que muitas dessas vozes não tenham
estado em situações anteriores, igualmente graves, algumas delas também na
Europa, tão despertas como hoje, porque já cantava o Ary, “quando um povo
acorda é sempre cedo”.
Não consigo é perceber como alguns de nós, pessoas
vividas, cultas, “sensatas”, se deixem enredar pelo preconceito e não consigam
sequer diferenciar a informação da propaganda e da contra propaganda.
Preocupação com a situação no Leste
da Europa, envolvendo operações militares de grande envergadura da Rússia na
Ucrânia, muito para além da região do Donbass, é por mim (e já agora pelo PCP,
partido em que milito) claramente partilhada mas tal situação não pode/não deve
permitir esquecimentos e mentiras: que não houve desmembramento territorial de
países na Europa, esquecendo a destruição da Juguslávia e a carnificina que se
abateu sobre ela; que um país, excepto a Rússia, tenha reconhecido
independências de territórios pertencentes a países terceiros, veja-se de novo
o passado recente no Kosovo, na Sérvia…ou fora da Europa o reconhecimento de
fantoches auto-proclamados presidentes como o Juan Gaidó ou a sra Jeanine Añez,
após terem fomentado o derrube dos Presidentes eleitos.
Também a questão da ocupação militar ou do fomentar de
golpes de estado, assassínios, etc… aqui nem precisamos de sair do teatro de
operações desta guerra: o que soubemos, calámos, ou dissemos do Golpe de Estado
de 2014, que derrubou o governo legítimo na Ucrânia e em particular de que o
estimulou e de quem dele beneficiou.
Por último, quando alguns de nós se procuram munir de
justificações comparando situações vividas nos meses que antecederam a 2ª
Grande Guerra, talvez valha a pena informarem-se melhor sobre quem são e o que
fizeram e fazem alguns grupos militares que os órgãos da propaganda Ianque
procuram transformar em heróis.
Sim, eu sei e concordo que os silêncios e omissões não
devem impedir-nos nunca, agora também, de condenar a guerra e os seus mentores.
Condenar a guerra, prestar solidariedade às suas vítimas e, sobretudo exigir a
PAZ!
O que importa, a meu ver, é empenharmo-nos todos, no
apelo à desescalada do conflito, à instauração de um cessar-fogo e à abertura
de uma via negocial para a resolução pacífica do conflito na Ucrânia e à
resposta aos problemas de segurança colectiva na Europa, no cumprimento dos
princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia.
E aqui, em Portugal, onde intervimos, penso que valerá
a pena empenharmo-nos na exigência do cumprimento da Constituição da República
Portuguesa e em particular no seu artº 7º, nº
2 “… a dissolução dos blocos militares e um sistema de segurança colectiva, com
vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça
nas relações entre os povos.”
NÃO À GUERRA!
VIVA A PAZ!
Diogo Serra*
publicado no Jornal do Alto Alentejo de 2-3-22
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