quarta-feira, 2 de março de 2022

A Formiga no carreiro vinha em sentido contrário!

 


A formiga no carreiro vinha em sentido contrário…

 

À guerra não ligues meia

Porque alguns grandes da terra

Vendo a guerra em terra alheia

Não querem que acabe a guerra

(António Aleixo)

 

Os tambores da guerra voltam a rufar na Europa. É tempo de justificada apreensão e sobretudo de reflexão sobre as razões de não conseguirmos aprender com os erros, os nossos e os dos outros.

Antes de continuar esta reflexão que quero partilhar com os leitores do Alto Alentejo importa recordar-vos dois factos históricos e fazer uma “declaração de interesses”.

Os factos históricos:

- A União das Repúblicas Soviéticas Socialistas terminou, em 26 de Dezembro de 1991 por erros grosseiros e em alguns casos traição dos seus dirigentes e pela ação persistente e coordenada dos inimigos do (penso eu) futuro da humanidade, tendo dado lugar a um significativo número de países que acabariam por se distanciar do projeto soviético e integrar-se no capitalismo dominante.

O PCUS – Partido Comunista da União Soviética acompanhou o movimento de desintegração territorial “nacionalizou-se” e em cada país prossegue a luta pelos ideais em que acredita fazendo-o como sempre e em cada lugar, face às necessidades e nas condições em que age. Assim, o Partido Comunista da República da Rússia é o partido que lidera a oposição ao regime autocrático de Putin, enquanto o Partido Comunista da Ucrânia, que viu serem perseguidos e assassinados os seus militantes e ser declarado “ilegal” assume na clandestinidade o que entende ser a sua obrigação para com os ucranianos.

Agora a declaração de interesses. Enquanto cidadão português, convicto que o capitalismo não é, como não o foram os sistemas que o antecederam, o fim da história e que o futuro será, um dia, “De uma Terra sem amos, a Internacional” entendo Putin e o seu sistema autocrático tão desprezível quanto os regimes que a mando dos DNT semeiam guerras, fome e morte ao sabor dos seus mesquinhos interesses e condeno, agora como sempre, a invasão militar de um Estado soberano.

Terminada a “introdução” passemos agora ao que aqui me trouxe. Identifico-me com todos os que de forma sincera têm vindo a público mostrar a sua preocupação face ao novo conflito bélico que estalou na Europa. Revejo-me nas preocupações de quantos exigem o fim imediato da escalada belicista e na solidariedade com as suas vítimas que são, nesta como em todas as guerras, os que menos ou nenhuma culpa têm das razões que, quem as ordena pensam existirem.

Consigo perceber que muitas dessas vozes não tenham estado em situações anteriores, igualmente graves, algumas delas também na Europa, tão despertas como hoje, porque já cantava o Ary, “quando um povo acorda é sempre cedo”.

Não consigo é perceber como alguns de nós, pessoas vividas, cultas, “sensatas”, se deixem enredar pelo preconceito e não consigam sequer diferenciar a informação da propaganda e da contra propaganda.

Preocupação com a situação no Leste da Europa, envolvendo operações militares de grande envergadura da Rússia na Ucrânia, muito para além da região do Donbass, é por mim (e já agora pelo PCP, partido em que milito) claramente partilhada mas tal situação não pode/não deve permitir esquecimentos e mentiras: que não houve desmembramento territorial de países na Europa, esquecendo a destruição da Juguslávia e a carnificina que se abateu sobre ela; que um país, excepto a Rússia, tenha reconhecido independências de territórios pertencentes a países terceiros, veja-se de novo o passado recente no Kosovo, na Sérvia…ou fora da Europa o reconhecimento de fantoches auto-proclamados presidentes como o Juan Gaidó ou a sra Jeanine Añez, após terem fomentado o derrube dos Presidentes eleitos.

Também a questão da ocupação militar ou do fomentar de golpes de estado, assassínios, etc… aqui nem precisamos de sair do teatro de operações desta guerra: o que soubemos, calámos, ou dissemos do Golpe de Estado de 2014, que derrubou o governo legítimo na Ucrânia e em particular de que o estimulou e de quem dele beneficiou.

Por último, quando alguns de nós se procuram munir de justificações comparando situações vividas nos meses que antecederam a 2ª Grande Guerra, talvez valha a pena informarem-se melhor sobre quem são e o que fizeram e fazem alguns grupos militares que os órgãos da propaganda Ianque procuram transformar em heróis.

Sim, eu sei e concordo que os silêncios e omissões não devem impedir-nos nunca, agora também, de condenar a guerra e os seus mentores. Condenar a guerra, prestar solidariedade às suas vítimas e, sobretudo exigir a PAZ!

O que importa, a meu ver, é empenharmo-nos todos, no apelo à desescalada do conflito, à instauração de um cessar-fogo e à abertura de uma via negocial para a resolução pacífica do conflito na Ucrânia e à resposta aos problemas de segurança colectiva na Europa, no cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia.

E aqui, em Portugal, onde intervimos, penso que valerá a pena empenharmo-nos na exigência do cumprimento da Constituição da República Portuguesa e em particular no seu artº 7º, nº 2 “… a dissolução dos blocos militares e um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.”

NÃO À GUERRA! VIVA A PAZ!

Diogo Serra*

publicado no Jornal do Alto Alentejo de 2-3-22

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