quarta-feira, 17 de novembro de 2021

EM PORTALEGRE CIDADE

 




EM PORTALEGRE CIDADE!

 “Que importa perder a vida

Na luta contra a traição

Se a razão mesmo vencida

Não deixa de ser razão!”

A quadra de António Aleixo vem-me à memória quando folheio as notícias que nos dão conta da decisão (justa, diga-se) do Município de Portalegre proceder ao encerramento do Castelo e das ruas expostas a maior perigo, face ao “esboroamento” das madeiras com que foi dotado na última intervenção sofrida 2006/7 e recordo aquelas sessões da Assembleia Municipal em que só a Bancada Municipal da CDU mostrava preocupação por o Executivo Municipal entender aceitar para si tarefas e funções que ao Governo competiam.

Faziam-no, como tantas vezes, sozinhos por entenderem ser um mau serviço ao concelho e aos portalegrenses e por isso se opunha à passagem de “competências” para as autarquias sem que estivessem acauteladas as necessárias contrapartidas que reforçassem estas com os meios financeiros e a capacidade técnica necessárias ao assumir de tais “competências”.

Nessa altura os demais, por demasiado enfeudados aos directórios partidários respectivos ou tão só por impreparação, falta de competências e jeito para tratar da coisa pública, exultavam com a descentralização anunciada e viam mesmo essas medidas como um reforço efectivo do Poder Local.

De que lado estava a razão é, agora, facilmente detectado pelos portalegrenses com a situação do Castelo.

Sem precisarmos de tratar aqui quer da bondade da intervenção e das opções feitas em 2003/6 e da “criminosa” falta de manutenção de materiais que se intuía serem de fácil deterioração (mais uma vez a falta de competência e de jeito para gerir a coisa pública), constacta-se agora estarem o município e os portalegrenses obrigados a “inventarem” soluções, particularmente financeiras, para se substituírem ao Poder Central na definição e pagamento de nova intervenção no Castelo de Portalegre que, note-se, seis anos depois da tão badalada descentralização, passou a ser responsabilidade do Município de Portalegre.

Que é absolutamente necessária nova intervenção que possa eliminar os riscos graves que a deterioração dos materiais utilizados em 2003/6 e que ficaram até hoje sem qualquer manutenção é comumente assumido.

Que esta nova intervenção deve resolver quer os problemas de segurança quer os que a intervenção anterior não só não resolveu como ampliou: a “destruição” do pátio interior, a ocupação como arrumações das partes mais emblemáticas, a “construção de espaços para restauração que já na altura não cumpriam os preceitos técnicos legalmente exigidos, é para todos, compreensível tanto mais que sabemos ser o Castelo de Portalegre, mesmo com tais constrangimentos, o monumento da cidade mais procurado por quem nos visita.

A questão é, como já se defendia quando da aceitação ou não do “presente” dado pelo Poder Central quem e como vai suportar os custos da nova intervenção?

E o pior, sim ainda haverá pior, é que esta é tão só a primeira da prendinhas que alguns se apressaram a receber e que a partir de agora seremos todos a pagar.

Que não venham agora dizer-nos que a culpa é do Rei D. Dinis que o mandou construir nos finais do séc. XIII. Os que não souberam ou não quiseram acautelar tais situações – as políticas e os actores políticos tem rosto e têm nome.

Que a nós (todos) não nos falte a memória!

 Diogo Júlio Serra

Texto publicado no Jornal do Alto Alentejo de 17-11-21

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