VELHOS SÃO
OS TRAPOS! Verdade…(?)
Na passada semana tive a
oportunidade de testar a verdade desta afirmação.
No âmbito do Projeto de
intervenção que a Cooperativa Operária desenvolve com o patrocínio da Fundação
Gulbenkian, visitei a Associação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre e no
dia seguinte, participei nas comemorações do 123º aniversário da COP que
realizámos na sua sede, na rua com o seu nome.
Num e noutro lugar pude constatar
quão longe estão a idade cronológica e a idade vivida.
Nos Bombeiros e no decorrer de uma
visita guiada por um jovem operacional da respectiva Corporação, deparámo-nos
com o entusiasmo, a coragem e a paixão juvenis, corporizados por uma Associação
que já cumpriu cento e vinte e dois anos de existência.
Na sede da Cooperativa, na mesma
sala que acolheu e concretizou o sonho de centenas de operários e das suas
famílias, constatámos e comovemo-nos ao testemunhar que cento e vinte e três
anos depois o sonho continua e na casa que os operários corticeiros
disponibilizaram à cidade. Com um profundo respeito pelo passado, constrói-se o
futuro e procuram-se caminhos para que os nossos “Maiores” continuem integrados
e a brindar-nos com a sua experiência e saberes.
O Projecto ENTRE TEMPOS, cujo
desenvolvimento foi dado a conhecer e a atenção que tem vindo a suscitar quanto
à possibilidade de garantir a todos e todas que já deixaram a actividade
profissional o serem e sentirem-se úteis, activos e sonhadores.
E sim, nestes dois espaços e
momentos, era perceptível para todos que…Velhos são os trapos!
Mas, e há (quase) sempre um mas,
houve mais semana para além destes momentos e quer no decorrer da Assembleia
Geral da IPSS, cujos órgãos sociais integro, quer nos contactos mantidos com
outras instituições dedicadas ao apoio (e institucionalização) a idosos foi-me
possível constatar que para muitos, em particular para o governo “de Lisboa” os
Velhos (os nossos pais e avós) são trapos que já tiveram a sua serventia mas são
agora…descartáveis.
Hoje, por todo o distrito e
acredito por todo o interior, as instituições que asseguram aos mais idosos, os
cuidados que ao Estado competem estão a atravessar um período tão ou mais grave
que aquele que a pandemia lhes/nos impôs: sem meios financeiros que acompanhem
o aumento dos custos necessários para garantir as medidas de higiene e
segurança que a situação impõe e abandonados pelo poder político que de longe,
persiste em não perceber que não se pode tratar igual aquilo que é diferente.
No distrito existem instituições
a viverem sob o espectro da insolvência, muitas sem condições para pagarem, no
imediato, os salários e os subsídios aos seus trabalhadores e que têm como
resposta por parte das instituições que as tutelam, que procurem junto dos
familiares dos seus utentes as verbas de que carecem.
Para quantos gostam de afirmar
que “estamos todos no mesmo barco” ou que “Vai tudo ficar bem” aí está o
desmentido que a nossa realidade impõe. Nem estamos todos no mesmo barco,
quando muito no mesmo mar, nem “vai tudo ficar bem”. Vão ficar sequelas e elas
serão tanto maiores quando mais frágeis e desprotegidos estivermos.
As instituições que zelam e
tratam os nossos idosos, eles próprios quase sempre os mais frágeis entre os
frágeis porque já antes o eram, estão entre os que irão pagar o preço mais alto
por terem nas instâncias do poder e particularmente no Governo da República quem
desconhece a realidade dos territórios como o nosso ou, conhecendo, preferem
fingir que não sabem.
E são estes comportamentos e
omissões que nos mostram a diferença abismal entre as palavras e os actos. Que
mostram que não há assim tantas diferenças entre os que apelidam os nossos
maiores de “peste grisalha” e os que, mostrando-se incomodados com tal
adjectivação persistem em “assassinar” as instituições e os projectos que na
nossa região substituem o Estado, na sua obrigação de garantir a todos
condições de viverem com dignidade.
Não permitamos que transformem os
nossos “maiores” em peças inúteis e descartáveis.
Não destruamos as nossas “bibliotecas”!
Diogo Serra
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