quarta-feira, 26 de maio de 2021

Nos 471 anos de Cidade!

 


QUE VIVA A FESTA!

Assinalámos no passado dia 23 o quadrigentésimo septuagésimo primeiro ano de elevação de Portalegre a cidade.

Em tempos de pandemia, e com o número de infectados de novo a crescer, foi-nos possível usufruir de um programa mínimo (ajustado aos tempos que correm) mas diga-se com o mínimo de dignidade que a efeméride e os portalegrenses merecem: uma componente cultural diversificada, uma componente política com a tradicional cerimónia do hastear da bandeira e a sessão solene com as também tradicionais atribuições de medalhas.

Nenhum reparo. Já no secretismo do programa ou no também tradicional afastamento dos eleitos, fora do círculo próximo da Sra. Presidente, há muitos reparos a fazer.

Na verdade, nada justifica o ensurdecedor silêncio durante as sessões de câmara a não ser a vontade de afrontar as restantes forças políticas representadas no Executivo.

Prática desde há muito cultivada e que teve recentemente duas exemplares manifestações: a não informação à vereação da vinda da Sra. Ministra da Cultura ao concelho de Portalegre e o agendamento para reunião de câmara, a decisão sobre uma pintura de um mural artístico … que estava a ser concretizada desde o dia anterior.

Também a atribuição de medalhas com que a autarquia anualmente reconhece o papel de instituições, personalidades e trabalhadores do município, não merecerá quaisquer reparos. Já a atribuição da medalha de ouro da cidade, quinze anos depois da entrega de igual honraria ao então Ministro da Administração Interna me causa alguma perplexidade. Não que o actual Presidente da República não tenha nada a ver connosco. Escolheu a nossa cidade para as comemorações do Dia de Portugal em 2019 e até já atribuímos uma medalha ao seu megafone nessas comemorações, mas não percebo (ou percebo muito bem) porquê só a ele, se outros Presidentes houve que trataram Portalegre da mesmíssima maneira que ele o fez.

Mas adiante. Fixemo-nos na necessidade de reaprender a viver, de iniciarmos percursos que permitam sarar feridas e minimizar estragos (muitos) que a pandemia nos impôs e em particular, procurarmos homenagear os resistentes e ajudar a que muitos dos mais atingidos não fiquem pelo caminho: refiro o nosso tecido empresarial e em particular as empresas familiares dos serviços, do comércio e da restauração.

Fixemos aí a nossa atenção e sejamos capazes de suprir o que o nosso executivo não fez por incúria, incapacidade ou deliberada má-fé. Mobilizemo-nos para tratar do que é nosso, comprando às nossas gentes, usando os serviços de quem aqui se instalou, animando a economia local e não calando a revolta de quem viu um executivo municipal olimpicamente mobilizado para aforrar meios que lhes permitissem “brilhar” nas batalhas eleitorais, multiplicando-se em obras e em distribuição de estatuária, fingindo não ver nem ouvir, quer os que no nosso concelho se agigantavam para não morrer, quer os seus pares que nos concelhos vizinhos arregaçavam mangas e lado a lado com os seus, participavam na minimização da catástrofe.

Falo-vos dos apoios municipais que os nossos comerciantes não tiveram, do tratamento desigual que levou apoios a uns (muito poucos) em detrimento da esmagadora maioria. Falo-vos da forma como foram tratados os trabalhadores do município e em particular os que em situação de risco nunca deixaram de cumprir o seu papel: nunca deixaram de recolher os lixos e garantir o saneamento, mantiveram o funcionamento do mercado municipal, os que estiveram presentes nas escolas e no apoio aos mais carenciados. Esses mesmos, a quem o nosso município recusou o pagamento desde Janeiro, do complemento de salubridade e risco pelo qual esperaram 13 anos.

Falo-vos ainda dos trabalhadores da Fundação Robinson e do seu núcleo museológico, obrigados a rescindirem os contratos por não pagamento do salário, do próprio museu encerrado por não ter sido pago o fornecimento de luz e que corre o risco de se ver destruído.

Mas retornemos ao 23 de Maio. Gostei!

Diogo Serra

Publicado no Jornal Alto Alentejo de 26-05-2021

1 comentário:

Anónimo disse...

Governar a urbe é (devia ser) somar vontades.