Viva o Santo António, Viva o S. João
Viva o 10 de Junho e a Restauração.
Os tempos que se aproximam trouxeram-me à memória a
“Marcha do Pião das Nicas” que o saudoso Carlos Paião imortalizou.
Falava-nos de “chico-espertismo” e das disponibilidades
sempre muito presentes de nos deixarmos levar por um qualquer “bem-falante”
apostado em prometer o que os nossos ouvidos querem ouvir.
No nosso território, distrito e concelho, sabemos bem
tratar-se da versão “tuga” do pão e circo usados pelos grandes do império
romano. Sabemos também, confirmamo-lo no dia-a-dia, da existência de
conterrâneos nossos que mantêm grande disponibilidade para ouvirem os cantos de
sereia e, pior, confiarem nos “encantadores” de serviço o seu e nosso futuro.
Tem sido assim ao longo das últimas décadas.
As escolhas erradas, o sentimento de que “o que vem de fora
é sempre melhor que o da casa”, o medo que alimenta o preconceito e esse
sentimento “tão nosso” de fingir que está bem o que sabemos e sentimos estar
pior que mal, colocaram-nos e mantêm-nos (distrito e concelho) no patamar de
baixo do país, ele próprio nos últimos lugares dos países europeus, no que
respeita a qualidade de vida, recomposição demográfica, trabalho com direitos,
igualdade de oportunidades e níveis de rendimento.
Portalegre, cidade e concelho, são exemplo elucidativo
desde desdenhoso deixa andar que nos tem caracterizado.
Concelho “fronteira” entre o Alentejo e as Beiras, ele
próprio ostentando essa “divisão” com as freguesias a norte caracterizadas pelo
minifúndio e pela agricultura familiar características Beirãs e as freguesias a
sul onde imperava o latifúndio e as formas de concentração e exploração
agrícolas marcadamente alentejanas. Viveu sempre dividido entre a geografia
política e a “geografia religiosa e, tal “fidalgo arruinado” carregado de
dívidas mas de nariz bem empinado.
A vida de Portalegre e dos portalegrenses desenvolveu-se
sob um apertado controlo social exercido por meia dúzia de famílias que
entendiam o isolamento como instrumento precioso para a manutenção do seu poder
quase absoluto: as indústrias não eram bem-vindas porque “roubavam” braços aos
campos e subserviência aos seus donos, mais tarde as novas fábricas eram
empurradas para Castelo Branco, pelas razões anteriores mas também para que os
salários de miséria aqui praticados não fossem abalados.
As mesmíssimas razões que já em democracia as
auto-estradas nos tocaram ao de leve (a A6 em Elvas a caminho de Espanha e a
A23 a norte a caminho de Castelo Branco) e agora o propalado maior investimento
de sempre em transporte ferroviário tocará Elvas a caminho “das europas”, todas
tratando o distrito e o concelho como barreiras e não pontes, ao nosso desenvolvimento.
Vai ser (também) sobre isto que iremos de novo às urnas
expressar a nossa vontade. Desta vez para decidir quem queremos ao leme do
nosso concelho.
Todos, os que se empenharam na gestão da coisa pública
fosse no governo do concelho ou na oposição. Todos os portalegrenses que
aplaudiram, protestaram, propuseram e agiram nos locais próprios ou escondidos
ao teclado do computador…voltam a ter a oportunidade de fazerem-se ouvir e
decidirem do seu e do nosso futuro.
Não vai ser fácil a escolha? Claro que não vai ser fácil.
O que “o povo lagóia” tem que decidir é se quer ou não
alterar os caminhos (logo as politicas), que nos colocaram em 2021 como capital
de um distrito que é o menos desenvolvido, o menos populoso, o menos jovem …de
todos os distritos do continente.
E, tomada esta decisão, como fazer para a alterar?
Insistir no “mais do mesmo“ e validar a falta de “jeito e
de tino” para governar o concelho? Apostar nos que agora com megafones
renovados, são os do “antigamente: os das fogueiras para purificar os hereges,
da pide para os tais “safanões”, da masmorra para o que pediam pão? Chamar os
que de novo insistem em tratar-nos como campeonato para “lavar cartões” e aqui
apresentam quem vindo de “campeonatos de divisão inferior” quer tempo e palco
para “fintar” a lei que lhe impõe limite de mandatos?
Dar, desta vez, oportunidade a quem nunca governou a
nossa cidade e concelho e cujo passado e prática podem ser selo de garantia de
autenticidade e competência?
São estas algumas das interrogações com que se irão
confrontar os eleitores do concelho e será a cada uma destas interrogações que
as candidaturas em presença deverão procurar responder.
Importa que nestas eleições possamos ter presente o poema
de um portalegrense por adoção e possamos agir em conformidade: ouvindo sem
preconceito, escolhendo o que pensamos ser o melhor para Portalegre e para as
suas gentes e tendo sempre presente o desejo/acção de todo um povo – Fascismo
nunca mais!
Assim “armados” procuremos a escolha acertada levando
como ponto de partida as palavras de Régio: …Não sei para onde vou … sei que não vou por aí!.
Diogo
Serra
Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 9-6-2021
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