Foi
ontem. Já passaram cem anos!*
…”E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista.”
A quadra acima encerra o poema que Ary dos Santos escreveu no dia
11 de Agosto de 1975, registando o assalto fascista ao Centro de Trabalho de
Braga. É ilustrativa da vida, do sonho e da firmeza daquele partido politico
nascido a 6 de Janeiro de 1921 e que reflectia a evolução do movimento operário
português e da sua experiência e consciência social e política.
Os primeiros anos de vida do PCP não foram fáceis. Não foi fácil
afirmar uma ideologia revolucionária no movimento operário, tendo em conta, quer
a estrutura e a composição da classe operária à época, quer a influência de
anarquistas e socialistas.
O partido foi desde a primeira hora perseguido e boicotado pelo
regime republicano (a sua primeira reunião marcada para sede Sindical de
Lisboa, no edifício que depois viria a ser a sede da PIDE, foi impedida pela
autoridades, com o argumento que nas sedes sindicais não se podia discutir
politica), situação brutalmente agravada com o golpe militar de 28 de Maio de
1926 que conduziu à instauração da ditadura fascista.
Com apenas cinco anos de
vida, foi proibido e perseguido, passando a desenvolver a sua acção na
clandestinidade e sob a brutal repressão que havia de prender e assassinar
centenas de militantes e dirigentes.
Foi sob essa situação de brutal repressão e na mais severa
clandestinidade que não só atravessou a longa noite fascista, como o fez
garantindo a sua ligação aos trabalhadores e aos seus problemas, organizando a
sua intervenção e luta em todos os sectores de actividade e criando as
condições que, viriam a desaguar no 25 de Abril e na transformação do golpe
militar na Revolução dos Cravos.
A revolução trouxe a liberdade e a acção politica à luz do dia mas
não trouxe nem facilidades, nem o fim das perseguições e do ódio. O PCP
continuou fiel aos seus princípios a ser cimento fundador da democracia e
ferramenta dos trabalhadores para a construção da Democracia e, por isso, a ser
o alvo principal do ódio e da violência orquestradas pelos serventuários dos
monopólios e das forças politicas derrotadas em Abril.
O chamado verão quente de 75 (forma “elegante” com que a direita
bem pensante intitulou a acção terrorista da direita caceteira, contra os
valores de Abril), trouxe de novo à tona a coragem, a capacidade de sacrifício,
a justeza dos valores defendidos e a ligação aos trabalhadores, deste partido
nascido em 1921 e que, tantas vezes, já anunciaram estar moribundo ou mesmo
morto e enterrado.
E aqui estamos. No próximo dia 6 de Março, em cem locais
diferentes, por todo o país e também na nossa cidade, ouvir-se-á alto e bom som
entoar a “Internacional”!
Perguntar-se-ão alguns, como é possível cem anos depois esta
afirmação de vontade? Qual é a receita que permite esta vitalidade? A resposta
é simples e entendível por quantos consigam libertar-se de peias e palas do
preconceito. Esta vitalidade é possível pela profunda ligação aos trabalhadores
e ao povo, por assumir nos seus valores e na sua prática as reivindicações e os
anseios dos trabalhadores e das populações.
É possível porque este é o Partido de Bento Gonçalves, de Álvaro
Cunhal, de Bento de Jesus Caraça, de Alfredo Dinis, Dinis Miranda, António
Gervásio…mas é também, o partido do electricista João Silva, do corticeiro João
Mourato, do comerciante Jorge Arranhado, do professor Manuel Pinho, do operário
químico Leonardo Portalete, do economista Joaquim Miranda e de todos e todas
que a ele e ao nosso povo deram e dão o que de melhor sabem e podem e…tantos
deles a própria vida.
É possível viver um século e continuar menino, sempre com os olhos
no futuro porque estes são:
“100 anos em
que não há nenhuma transformação social, nenhum avanço ou conquista dos
trabalhadores e do povo português a que não esteja directa ou indirectamente
associada à iniciativa, à luta, à acção e à intervenção do PCP. São 100 anos de
vida e de luta de um Partido que, orgulhoso da sua história e aprendendo com a
sua própria experiência e a do movimento comunista e revolucionário
internacional, assume com determinação e confiança as exigências da actualidade
e do futuro.”
Que venham mais cem!
Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo em 3-3-2021
2 comentários:
100 anos!
100!
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