Cantar os parabéns em tempos de Pandemia!
A Cidade
“Branca” cumpriu no passado dia 23 o seu 470º aniversário.
Em tempos de pandemia apresentou-se-nos como normal a anormalidade de
não haverem comemorações e onde apenas as presidências, a que está e a que quer
vir a estar, tiveram voz, mesmo que à distância.
Mas não foi “apenas” por isso que as “comemorações” deste ano tiveram
este cunho (ir)real. Os 470 anos foram cumpridos com os museus encerrados e não
(apenas) por medidas preventivas contra a doença. Na verdade um deles fechou muito
antes da chegada do coronavírus. Fechou motivado por um outro vírus que teima
em não sair de Portalegre. O Núcleo Museológico da Fundação Robinson encerrou
uns meses antes porque “quem manda” na Fundação e no concelho – e são os mesmos
– não pagaram uma conta de Luz de cerca de 200 euros e a EDP cortou a eletricidade.
Cumprimos o aniversário “feridos” por vários vírus e todos eles de
enorme perigosidade para os portalegrenses: a corona (o que até agora menos
danos nos causou) a insensibilidade e pouca competência de quem governa o
concelho, e o cunho de classe inscrito em muitas das medidas de âmbito nacional
e nas poucas de âmbito local, ditas de combate à pandemia.
No primeiro caso inscrevem-se: a situação “escandalosa” de permitirem
que em empresas do perímetro financeiro municipal encontremos trabalhadores a
quem não são pagos os salários, já lã vão três meses, e o sermos dos poucos
municípios do distrito e do país em que a intervenção social do seu executivo
se mede “só” por intenções!
No segundo caso inserem-se as posturas de apoio rápido,
desburocratizado e robusto aos poderosos, muitos deles conhecidos predadores
dos recursos nacionais em contraponto com a lentidão, ineficácia e
“unhas-de-fome” para os que realmente estão em dificuldades: os pequenos e
muito pequenos empresários, a agricultura de subsistência e os milhares de
trabalhadores já atirados para o desemprego e, quantas vezes, por aqueles que
já receberam gordos pacotes de “ajudas”.
470 anos depois da sua elevação a cidade, Portalegre vive um momento
particularmente difícil, com perda acelerada de população, desmantelamento do
seu tecido produtivo e particularmente da sua capacidade industrial, a que se
soma a notória “falta de jeito” dos autarcas que a comandam para “inventarem”
outras medidas que não sejam a propaganda, o autoisolamento e a vitimização.
Os resultados são bem visíveis.
O casco histórico assemelha-se a uma zona bombardeada enquanto a cidade
se expande desordenadamente (para dentro da serra e para lá das vias que a
deviam circundar) tendo como único critério os lucros da especulação
imobiliária.
O desemprego e a precariedade crescem a ritmo incontrolado sob a
indiferença, quando não o aplauso das entidades que os deviam combater.
Algumas ideias para combater a inércia (os projetos turísticos a
instalar na Robinson, com os quais não concordei, por não irem complementar mas
destruir o Espaço Robinson) acabaram por esbarrar nas trapalhadas e ilegalidades
em que os partidários do não partido e o seu Executivo Municipal são useiros e
vezeiros.
E enquanto isto, o Executivo Municipal e a alargada maioria que o
suporta (os que o assumem e os outros) jogam porta fora tudo o que pode ajudar
a travar este caminho para a tragédia: as capacidades, o entusiasmo e a vontade
dos muitos que persistem em aqui continuar. Os saberes, competências e sonhos
dos muitos que provaram “lá fora” tudo o que são capazes e tem persistentemente
dados sinais que gostariam de voltar à sua cidade!
Ainda é tempo!
Diogo Serra
(publicado no Alto Alentejo de 3-6-2020)
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