quarta-feira, 20 de maio de 2020

TRABALHO, HONESTIDADE, COMPETÊNCIA



Trabalho, Honestidade, Competência!*

A pandemia que nos atingiu e as medidas, necessárias, para lhe fazer frente estão a pôr incerteza naquilo que julgámos ser/estar absolutamente certo.
O medo instalou-se na sociedade e apesar de, felizmente, a grande maioria ser capaz de vencê-lo e não desertar das batalhas necessárias para vencer a doença, o certo é que nada voltará a ser igual.
Apesar de não termos sofrido, até agora, o peso sofrido por outras regiões. O Alentejo e particularmente este nosso território mais a norte, tem sido com a região autónoma da Madeira, poupado às mortes que têm fustigado o todo nacional. São já bem visíveis os danos que o coronavírus e as suas sequelas provocaram também aqui, seja no tecido económico, seja na perda generalizada de rendimentos de parte significativa da população. E, penso, o pior ainda está para vir.
Num território como o nosso, onde desde sempre faltam as infraestruturas, a vontade e a capacidade para transformarmos as potencialidades existentes, em riqueza produzida e devidamente distribuída, não podem existir boas perspetivas de futuro.
Num distrito onde a população e particularmente a população ativa vai diminuindo censo a censo e concelho a concelho e onde os poucos jovens têm que procurar lá fora, o que a sua terra lhes nega, o futuro será sempre pintado com cores negras.
Numa sub-região do Alentejo onde até os responsáveis político-partidários que têm vindo a assumir responsabilidades no aparelho de estado, se habituaram a lutar por migalhas e a assumirem-se como capatazes do Centralismo Governativo e aceitando como tarefa prioritária fazerem-nos acreditar que tudo está bem, o futuro não é risonho.
Neste distrito de Portalegre onde muitos dos seus autarcas se afirmam por lutas inter- pares, ódios de estimação, bairrismos “bacocos” e que aceitam que o “tal telefonema” se sobreponha ao que sabem ser seu dever e o interesse das populações, o futuro não poderá ser brilhante.
E se já era assim na “normalidade” anterior à pandemia o quadro tenderá a agravar-se quando começarmos a “pagar” o preço das políticas classistas, que transformaram os apoios às necessidades dos mais frágeis em canais de transferência dos fundos públicos diretamente para os cofres dos “do costume”.
A situação que já hoje é denunciada por alguns: a carência alimentar atinge um cada vez maior número de pessoas e estende-se a sectores que até há pouco o consideravam impossível. A perda total ou parcial dos rendimentos de muitas famílias que, sempre trabalharam, começa a impor níveis de comportamento até então desconhecidos, quer de supressão de gastos até então normais, quer mesmo de cumprimento de obrigações regulares.
A situação poderá ainda agravar-se, e muito, quando às muitas dezenas que já perderam o emprego e muitas centenas ligados às 656 empresas em lay-off no distrito, com perdas significativas de rendimentos se juntarem “as vítimas” em consequência dessa realidade: os que não recebem atempadamente as rendas, os comerciantes que não conseguem receber os seus créditos, os pequenos agricultores esmagados pelas políticas predadoras das grandes superfícies comerciais, os restaurantes e cafés que não tem clientes e por aí adiante…
Estaremos então mais necessitados que nunca de verdadeiras políticas sociais e de investimento publico. Estaremos ainda mais dependentes das infraestruturas que necessitamos, que há muito nos foram prometidas e continuam por fazer como o são: A barragem do Pisão, a eletrificação da Linha ferroviária do Leste e a sua aproximação à cidade de Portalegre.
Serão ainda mais necessárias as obras que há muito reivindicamos, sejam o garantir que na nova linha ferroviária de mercadorias que ligará Sines/ao Caia possam circular pessoas e que sirva o nosso distrito, sejam as ligações rodoviárias que não temos e em particular as ligações em traçado de autoestrada entre a A6 Elvas/Campo Maior e a A23 Nisa/Gavião, a nova ligação entre Abrantes e Portalegre, e a ligação entre Nisa e Cedilho.
Para tanto, é necessário que tenhamos a força necessária para as exigir e tenhamos por nós e ao nosso lado, os agentes políticos, nos partidos, nas autarquias, na Assembleia da Republica, no Governo, munidos do saber, da vontade e da coragem que de outras vezes lhes/nos tem faltado.
Precisamos que a insígnia Trabalho, Honestidade e Competência deixe de ser a consigna de alguns e passe a ser bandeira desfraldada e respeitada por todos!
Diogo J. Serra
* Publicado no A.A. de 20-05-2020

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