Uma Fisga ou
uma Bazuca?
E para quê?
A Secretária-geral da CGTP-IN, na
sua intervenção no 1º de Maio pôs o dedo na ferida! Constatando a situação que
todos sofremos e denunciando quer a acção predadora do grande capital quer a
utilização das medidas ditas para combater a pandemia, para desarmar os
trabalhadores face aos avanços patronais, Isabel Camarinha lembrava que o
“armamento “ disponibilizado pela da União Europeia é geralmente muito mais eficaz
na destruição de direitos de quem trabalha do que na resolução dos problemas
reais que afectam as populações.
A mesma constatação pode aplicar-se às políticas dos
diferentes órgãos do Estado Português.
Em Portalegre é possível encontrar exemplos que atestem essa
verdade.
No decorrer da iniciativa que
também aqui assinalou o Dia Internacional dos Trabalhadores a Coordenadora da
União dos Sindicatos do Norte Alentejano deu a conhecer a impossibilidade dos
trabalhadores dos Super e Hipermercados resistirem à “obrigatoriedade de trabalharem
no 1º de Maio” porque, este ano, a declaração do Estado de Emergência, lhes
retirou o direito de convocarem a greve para esse dia e denunciou um conjunto
de situações ilustrativas do aproveitamento da pandemia para algumas empresas
retirarem direitos, aumentarem a exploração e transferirem através da Segurança
Social dinheiro dos trabalhadores para reforçarem os lucros e os dividendos do
capital.
De entre os muitos casos
denunciados registámos a declaração do Lay-off na Hutchinson em Portalegre e Campo
Maior, antecedido da tentativa de retirar direitos, do despedimento de dezenas
de trabalhadores precários e as tentativas de impor o banco de horas. A recusa
do teletrabalho e de meios de proteção individual para os trabalhadores dos centros
de contacto em Elvas, os processos de Lay-off nas empresas que fornecem as
refeições em diferentes instituições e nalguns casos, como em Ponte de Sor, com
as autarquias a deslocarem e pagarem aos seus trabalhadores para garantirem o
trabalho já pago mas que essas empresas deixam de fazer.
Os exemplos avançados mostram
como alguns não hesitam em servir-se da pandemia para aumentarem quer os lucros
quer a exploração e para tal convocam todas os instrumentos de que dispõem: o “seu”
governo, os seus bancos, os seus órgãos de informação, os papagaios que
previamente colocaram na comunicação social, incluindo a que é paga por todos
nós.
Mesmo as decisões e iniciativas
governamentais destinadas a minorar os efeitos da pandemia na vida do país e
dos cidadãos são rapidamente desviadas dos objectivos anunciados para se
integrarem no mecanismo de transferência dos recursos públicos para os “bolsos”
dos DDT – Donos Disto Tudo e para reduzirem mais e mais os rendimentos do
trabalho.
O chamado Lay-off simplificado é
um exemplo perfeito. As grandes empresas que ao longo de décadas registaram enormes
lucro libertam-se de mais de 80% dos custos salariais e descapitalizam a
Segurança Social enquanto aos trabalhadores é reduzida a remuneração em mais de
um terço e continuam obrigados ao pagamento da Segurança Social e do IRS.
E tudo isto sem sabermos ainda se
o governo vai ter a sua Bazuca ou tão só uma fisga.
A experiência dos últimos 45 dias
(e digamos a dos últimos 40 anos) leva-nos a duvidar do que nos interessará
mais: a fisga, a “pressão de ar” ou a Bazuca?
Socorramo-nos do que está a ser preparado para
a Comunicação Social. Também aqui se prepara a distribuição de ajudas para
ultrapassar uma crise que a pandemia veio agravar e também aqui está em marcha
uma campanha para transferir dinheiro do erário publico para os mesmos que,
sabemos, são também os donos dos principais meios de comunicação.
Para aqueles a quem efectivamente
é imprescindível a ajuda, a comunicação social local, ficarão umas pequenas
migalhas, se cá chegarem.
E assim, independentemente de fisga
ou bazuca, os pequenos e muito pequenos empresários de todos os ramos de
atividade continuarão a sua luta pela sobrevivência e a verem sugado o
resultado do seu trabalho pelos que gritam por menos estado na hora de pagar
mas exigem mais e mais Estado na hora de receber.
Entretanto na nossa cidade e
concelho o agrupamento que preside a Câmara, agora robustecido pelo apoio do PS
vai-nos dizendo que está tudo controlado que a oposição (e quem denuncia as
dificuldades existentes) é alarmista e vai permitindo e fomentando essa
situação absolutamente vergonhosa de manter no perímetro municipal
trabalhadores com salários não pagos desde Fevereiro.
Gritam “No problema”! Mas sabem
(e temem) que são cada vez mais os que convictamente afirmam “No pasarán”!
Diogo Júlio Serra
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