GREVE CIRÚRGICA ou GUERRILHA URBANA?
Vê moinhos, são moinhos!
Vê gigantes, são gigantes!
A “auto-proclamada” greve de uns quantos enfermeiros e a decisão do
governo em declarar a requisição civil tem merecido os mais díspares
comentários de (quase) todos os sectores da sociedade.
Compreensão para com as razões da greve (mesmo quando não concordam com
os meios utilizados) por parte de grande número de enfermeiros e de outros
sectores em luta;
Aplauso entusiástico e apoio sem reservas por parte da direita politica
e dos negócios incluindo franjas de outras áreas politicas enfeudadas aos
negócios da saúde;
Repudio generalizado e acção política
intensa contra a luta que vem sendo desencadeada não pela forma mas, pasme-se,
por entenderem que aqueles profissionais, os enfermeiros que trabalham no
sector público, “ganham de mais”.
Por último apareceram, nos últimos dias em maior número, os apoiantes
do partido do governo a aplaudirem a decisão da requisição civil.
Os primeiros, nos quais me incluo, compreendem o descontentamento da
classe, toda a classe, e da sua luta mas recusam aceitar que a direita, a
comunicação social a ela enfeudada e muitos dos consumidores da propaganda
ventilada nas redes sociais, persistam em chamar greve a uma acção de guerrilha
contra o Serviço Nacional de Saúde e o arranjo politico que expulsou a direita
do poder e permitiu uma forma governativa estável e eficaz.
Os segundos, os que não conseguiam sequer disfarçar que o seu apoio
entusiástico tinha muito mais a ver com os seus objectivos de derrota daquilo a
que apelidam de geringonça do que com as aspirações dos enfermeiros afadigam-se
agora “na defesa” dos direitos de quem trabalha e de um direito que sempre
combateram - o direito à greve.
Os últimos, os que se movem não pela razão mas pelos interesses
partidários ou simplesmente para agradar ao poder constituído, veêm agora quer
naquela versão feminina do que de pior encerrava o cavaquismo quer nos grupos
de amarelos que se intitulam sindicato e que em muitos casos por omissão ou por
acção ajudaram a nascer, um perigo para a democracia e para os cidadãos.
Quase todos, excepção (talvez) para os que integram o primeiro grupo,
estão-se nas tintas para os enfermeiros e para as suas necessidades e
aspirações, para os doentes, para as populações e para os direitos
constitucionais fundamentais sejam o direito à saúde ou o direito à greve.
Os mandantes da guerrilha apelidada de greve cirúrgica afadigam-se para
tentar manter em alta a contestação à forma governativa que odeiam por lhes ter
provado que existem alternativas às políticas de empobrecimento e destruição de
Abril que preconizaram e impuseram e apostam no confronto com o Poder, no
continuar da paralisação dos hospitais, no impedimento da retoma normal das
cirurgias necessárias.
Os governantes e seus apoiantes fingem desconhecer as justas
reivindicações dos enfermeiros e restantes sectores da saúde: dotação de meios
humanos que faltam em todos os serviços, condições que garantam a integração de
médicos, enfermeiros e outros técnicos nos quadros em vez de delapidar os meios
financeiros, escassos, para alimentarem a gula de empresas alugadoras dos
profissionais necessários.
E pelo caminho, uns e outros, procuram tornar natural o que são as
violentas acções contra o direito constitucional à greve como o são a
requisição civil contra os grevistas, a descredibilização de toda uma classe
profissional apesar de apenas uma ínfima parte estar envolvida na acção
guerrilheira.
Persistem na tentativa de ganhar a opinião pública para a descredibilização
dos sindicatos apesar de se saber que o sindicato representativo dos
enfermeiros – o SEP – Sindicatos dos Enfermeiros Portugueses nunca ter
estimulado ou apoiado esta acção desencadeada e alimentada por duas estruturas
de pouca representatividade criadas e alimentadas por quantos desde há muito
sonham com o partir da espinha à Intersindical e em que a Bastonária da Ordem
dos Enfermeiros se tem empenhado de forma avassaladora.
Os próximos capítulos desta “novela” mostrar-nos-ão de que lado está a
razão. Se dos que se afadigam em lançar gasolina para a fogueira seja com
apelos à insurreição dos enfermeiros seja com a declaração da requisição civil
para acabar com a “greve” ou, dos que como a CGTP-IN se mobilizam para
estimular o diálogo entre os vários sectores da saúde pública de forma a serem
supridas as carências há muito identificadas e a fortalecer-se o Serviço
Nacional de Saúde universal e público.
Diogo Júlio Serra
Artigo publicado no Jornal Alto Alentejo de 13-02-2019
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