quinta-feira, 3 de janeiro de 2019



MAIS QUE COMEMORAR, IMPORTA CUMPRIR!*

No passado dia 10 de Dezembro assinalou-se por todo o mundo o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O Alto Alentejo ficou de fora, das comemorações e do seu cumprimento.
Por coincidência ou não, três dias antes, dia 7 do mês em que se comemora o aniversário da Declaração, a estrutura regional da CGTP concentrava-se na cidade de Ponte de Sor, frente à porta da Corticeira Amorim Florestal, para assinalar não os 70 anos de vida da Declaração Universal dos Direitos Humanos mas, pasme-se, a eleição daquela empresa como a PIOR empresa instalada no distrito de Portalegre. Ou seja campeão no incumprimento dos direitos dos humanos que ali trabalham.
A concentração destinava-se a denunciar as razões que levaram o movimento sindical a “eleger” aquela empresa como a pior do ano e a denunciar os ataques e afrontas que aquela empresa impõe aos trabalhadores e aos seus representantes e que consubstanciam ataques aos direitos dos humanos que ali trabalham e que foram sendo desfiados pelo dirigente sindical do sector.
Note-se que a situação denunciada à porta da Amorim Florestal não é caso único no distrito. A atribuição do título de PIOR empresa do ano justifica-se pela sua dimensão, pelos elevados lucros que obteve e pela reiterada teimosia em não fazer refletir nos salários os lucros obtidos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, particularmente o seu artigo 23º, é desconhecida ou ignorada por grande parte do nosso tecido empresarial que persistem em manter a democracia fora de portas das “suas” empresas.
O caso mais recente protagonizado por uma empresa “espanhola” sediada em Elvas, a Marktel, um Call Center onde trabalham mais de 500 trabalhadores e em que o contacto com os trabalhadores, à porta da empresa, só foi possível depois de os dirigentes sindicais terem solicitado a intervenção da PSP que, registe-se, impôs o cumprimento da lei.
Em Portalegre, concelho e cidade, não é diferente.
Aqui persiste o conceito tão chinês de “um país dois sistemas”.
Coexistimos com decisões e políticas à medida do “consumidor” a que se destinam ou, tão más como as anteriores, com a ausência de políticas e aqui, à cabeça da lista, está o próprio município.
O Executivo Municipal continua (já assim era nos mandatos de Mata Cáceres) a “empurrar com a barriga” os problemas que não sabe ou não quer resolver. Exemplo do que afirmo a tentativa de passar dívida para os executivos que se lhes seguirem.
E, pior, continua a assumir-se como protagonista da “escravatura dos novos tempos” impondo aos seus próprios trabalhadores a mais cruel precariedade os motoristas e outros trabalhadores de limpeza, anos e anos a “recibo verde” e mesmo o trabalho não pago como a Presidente assumiu na última assembleia, quando informou que os trabalhadores da higiene e limpeza passavam a trabalhar por turnos sem lhe serem pagos os subsídios de turno.
Assim, 70 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos e muitos anos depois de Portugal a ter subscrito, em Portalegre, cidade e distrito, é fundamental aplicá-la.

Diogo Júlio Serra

* texto escrito para o Jornal Alto Alentejo mas que por imperativos de programação não pôde ser publicado.

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