A 8 Novembro de 1998, cumprem-se
agora 20 anos, realizámos em Portugal o referendo sobre a regionalização
culminando um período de intensa actividade política que opôs os defensores do
cumprimento do preceito constitucional a quantos entendiam que os interesses e
a tradição centralista de Lisboa se deviam sobrepor ao que a Constituição
consagra.
Os eleitores alentejanos votaram
maioritariamente pelo SIM. Aqui, onde o poder local já tinha dado mostras da
sua enorme capacidade para resolver o que décadas de centralismo e ditadura
haviam deixado, os eleitores afirmaram claramente a sua vontade em ver criado o
pilar em falta nesse poder local democrático que trazia desenvolvimento.
O mesmo desejo foi manifestado
por 42 das 47 Assembleias Municipais do Alentejo.
O Sim à criação das regiões
administrativas afirmado no referendo tem vindo a ser confirmado pelos
legítimos representantes do povo alentejano sejam os seus autarcas, sejam os
mais representativos agentes económicos, culturais e sociais.
Vinte anos após o referendo e a
afirmação da vontade dos alentejanos o poder local democrático continua privado
do seu terceiro pilar enquanto, que pela sua necessidade, os diferentes
governos centralistas se desdobram na invenção de estruturas e serviços visando
dar alguma resposta administrativa, muitas vezes sob o disfarce de
descentralização, mas sempre, ferreamente controlados pelo poder central.
Evocar, hoje, o referendo de 1998
e o seu resultado na região é assumir, por quantos se bateram e batem pela
regionalização, que as regiões administrativas são contributo importante para o
desenvolvimento harmonioso do país e no que ao Alentejo diz respeito, são
factor fundamental para garantir o desenvolvimento integrado, harmonioso e
sustentado que reclamamos e merecemos.
Perante a necessidade de
assegurar uma estratégia de coesão económica, social e cultural para o Alentejo
e na ausência das regiões administrativas, o Congresso dos Alentejanos que o
AMALENTEJO organizou em Troia em 2016, aprovou por larga maioria, a proposta de
criação da Comunidade Regional do Alentejo.
Não se trata de abdicar de um
preceito que se entende fundamental e que a nossa Constituição consagra.
Trata-se tão só de uma solução transitória que possa substituir o poder
regional existente – nomeado e sob tutela governamental, até à efectiva criação
e instituição das regiões administrativas.
A criação da Comunidade Regional
do Alentejo é pela sua composição, pelos seus objectivos e pela forma como se propõe
mais uma demonstração da vitalidade e do querer dos alentejanos.
Apontar a sua criação através de
um projecto lei de iniciativa popular apresenta-se como tarefa não só possível
como entusiasmante tendo a proposta sido já subscrita por mais de 12 mil
subscritores mantendo-se o desafio de rapidamente se poderem complementar as 20
mil assinaturas necessárias a que a Assembleia da Republica não a possa
ignorar.
Nos últimos anos e apesar dos
elevados investimentos feitos na Região não só não conseguimos fixar população
como continuamos a perdê-la a um ritmo assustador: em média o Alentejo perde 8
habitantes ao dia e os índices de envelhecimento já poem em causa a regeneração
social enquanto vemos encerrar ou serem
drasticamente reduzidos inúmeros serviços públicos na saúde, no ensino, na justiça,
nos transportes, na segurança, nos correios e até, diversas freguesias.
Num tempo de debate sobre
descentralização de competências para as autarquias que a administração central
diz querer implementar, esquecer as regiões administrativas e fingir que não é
necessário cumprir o que a Constituição impõe é, tão só, continuar a adiar o
que não pode ser adiado.
Diogo Júlio Serra
(publicado no jornal Alto Alentejo de 6-11-2018)
(publicado no jornal Alto Alentejo de 6-11-2018)
Sem comentários:
Enviar um comentário