PARTICIPAÇÃO E ENVOLVIMENTO – CHAVES PARA O DESENVOLVIMENTO!
Vinte anos
depois (cumprem-se no próximo dia 8 de Novembro) de termos afirmado na Região o
SIM à implantação do 3º pilar do nosso poder local democrático, encontramo-nos
hoje, em Castelo de Vide, a reafirmarmos a nossa convicção de que o Alentejo
tem futuro.
Após três
décadas de “ajudas comunitárias” e de envelopes financeiros que nos foram
impondo modelos de desenvolvimento desajustados do que queremos e merecemos e
motivaram ou, no mínimo aceleraram, a destruição de parcelas importantes da
nossa economia e a perda, para países terceiros, das principais alavancas do
nosso desenvolvimento, constatamos que as “tais ajudas” reforçaram o poder
centralista e mentor das políticas que nos foram impondo a situação com que
hoje nos debatemos: um país em que a esmagadora maioria do investimento, da
criação de riqueza, dos equipamentos e das pessoas se amontoam numa curta faixa
do litoral deixando a esmagadora maioria do território abandonado à sua sorte,
isolado, sem meios, sem gente e sem projeto.
Este
tornar de Castelo de Vide, por dois dias, a capital de todos os alentejanos, o Congresso
que aqui realizamos e o debate que temos vindo a travar a partir de AMAlentejo e
particularmente a partir de Troia, mostram a capacidade de não deixar morrer a ideia
– o neologismo da moda é a resiliência - de que o Alentejo é necessário ao país
e acrescenta condições à possibilidade de realizarmos o Sonho.
Reafirmamos,
porque disso estamos absolutamente certos, que o Alentejo tem futuro mas,
fazemos notar, que a construção desse futuro impõe condições com as quais não
nos tem sido permitido contar: Planeamento, Investimento Público, Participação
e Desenvolvimento.
No caso
concreto desta Região, ninguém poderá assacar responsabilidades a quem cá
nasceu, vive e trabalha ou alegar carência de competências, saberes e vontade
dos alentejanos: as pessoas e as estruturas e organizações que criaram, adotaram
e sustentam, como formas organizadas de intervenção cívica e política.
Não foi
por falta de participação empenhada dos alentejanos, das suas autarquias e da
grande maioria das suas organizações sociais e políticas que chegámos à dificílima
situação em que nos encontramos.
A riqueza
do debate e das conclusões dos quinze congressos realizados, que percorreram
toda a Região e procuraram o contributo de todos para semearmos novos rumos, aí
estão a provar o forte empenhamento da Região, apesar de (quase sempre) a
colheita dessas searas ter sido arrecadada por quem para ela não trabalhou ou
tenha ficado a apodrecer nos celeiros dos mandantes.
Igualmente
terão que ser outros, que não os alentejanos, a assacarem com a
responsabilidade de quarenta e dois anos depois de aprovada a Constituição da Republica,
o país continuar privado dum pilar importante da governação e as regiões, como
o Alentejo, continuarem a serem governadas por funcionários a mando dos poderes
concentrados em Lisboa ou em Bruxelas em vez de serem elas próprias a traçarem
e executarem o futuro que lhes pertence.
Nesta área
como em muitas outras, os Alentejanos cumpriram as suas obrigações levando até
ao voto a sua vontade de ter a sua Região Administrativa e sabendo construir
plataformas capazes de agregaram essa vontade. As Comissões Organizadoras dos
vários Congressos que percorreram toda a região e agora o AMAlentejo e as
propostas que apresentou para a constituição da Comunidade Regional do Alentejo
a partir duma petição cidadã, aí estão para o demonstrar.
Aqui
estamos de novo, Alentejanos da diáspora, a promover, debater e construir caminhos fundamentais para a Região, constatando que a
situação para onde temos sido arrastados só poderá ser invertida se ao enorme
potencial existente no Alentejo forem adicionadas ferramentas que permitam o
seu integral aproveitamento.
Nos
trabalhos integrados na preparação deste Congresso, fomos cimentando a nossa
convicção de que não é mais possível continuarem a adiar a implantação das
infraestruturas fundamentais para a região e há muito reclamadas: as redes
energéticas e de águas; o porto de Sines e a barragem do Pisão, as infraestruturas
aeroportuárias; as questões da ciência e formação, os investimentos públicos na
saúde, educação, equipamentos de apoio social à 3ª idade e à infância; as políticas
de emprego e a importância do poder local foram temas profundamente debatidos.
Mas constatámos
também que apesar de algumas mudanças nos discursos do poder se mantém o mesmo
alheamento quando não o criminoso comportamento de afastar o nosso território
das rotas do progresso.
A não
inclusão do território e das nossas aspirações no PNPOT em discussão pública,
encerrada no passado dia 15, e as intenções manifestadas de não reconhecimento
de infraestruturas da região na resolução de problemas, graves, existentes no
país – como é o caso da sobrelotação do aeroporto de Lisboa, são prova do que
afirmamos e por isso nos empenhámos na batalha para levarmos os poderes de
Lisboa a dilatarem o período de discussão do PNPOT, a inscreverem nele as
nossas principais aspirações e a olharem o aeroporto situado no Alentejo, como
opção viável, economicamente favorável e importante para o desenvolvimento que
exigimos e merecemos.
Constatámos,
ainda, que as respostas que o país e esta Região reclamam e precisam não podem
ser encontradas em ações pontuais, em políticas avulsas e desgarradas,
independentemente de lhes chamarmos Plano Piloto ou Ação de Valorização, da
maior ou menor boa vontade de quem as decide ou do volume dos montantes
financeiros com que as tentem esconder.
O Alentejo
com futuro, que queremos e o país necessita, impõe a definição de uma política
nacional de desenvolvimento Integrado, que responda às reivindicações e
propostas já apresentadas. Impõe também, que na sua definição, construção e
implementação sejam envolvidos todos os atores locais garantindo-se a participação
de todos os cidadãos e as suas estruturas representativas em todas as etapas do
processo.
A participação
de todos e o envolvimento sem medos ou tabus, de todos os atores locais, desde
a conceção à sua implantação é fundamental para o êxito de quaisquer políticas.
E não vale
falar em participação e envolvimento de todos apresentando como exemplos as
milhentas comissões e conselhos que se foram criando para fingir que se
discutem opções e políticas ou porque o politicamente correto ou as regras comunitárias
no-lo exigem. Esses são modelos já testados e cujos resultados aí estão para
provar a sua nulidade.
Muito
menos tentar convencer-nos de que se envolvem os atores locais quando sentamos
à mesa estruturas e instituições criadas com o objetivo de aumentar o poder
centralista concentrando nelas parcelas do poder que se retiram às autarquias e
fingindo ver nelas instrumentos de associativismo autárquico.
Quando
falamos da necessidade de discutir com todos e envolver todos os atores,
estamos a recordar as práticas do poder local democrático na nossa região e do
envolvimento das populações na construção das medidas que depois, todos,
assumiam como suas.
Estamos a
falar da necessidade do envolvimento e participação de todos, num trabalho em
rede. E, porque vivemos e trabalhamos no distrito de Portalegre, estamos a lembrar-nos
das técnicas da nossa indústria de Lanifícios, da nossa tapeçaria única e do
papel da Teia (a tal rede) para garantir a solidez e beleza do produto final.
A
afirmação “Ninguém viu um alentejano a cantar sozinho” não é tão só uma
afirmação cultural, é o reconhecimento que é com o envolvimento de todos que se
conseguem as melhores soluções.
É nessa
convicção que baseamos a nossa postura de que nenhumas políticas poderão
alterar os caminhos para onde nos empurraram se não contarem com a participação
comprometida de todos e todas – pessoas e organizações empenhadas e
interessadas em mudar o rumo a que temos sido sujeitos.
Essa
deverá ser também, acreditamos, uma recomendação deste congresso.
Portalegre,
30 de Junho de 2017.
Comunicação que apresentei no 2º Congresso do AMAlentejo ( no 2º painel).
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