120 anos de vida ao
serviço de Portalegre e das suas gentes
Portalegre era então um oásis
industrial no coração de um Alentejo profundamente rural e fora de quaisquer
rotas de progresso.
Num concelho com 18.500
habitantes a cidade de Portalegre contava então com 9.303 habitantes (censos de
1900) que exerciam os mais variados ofícios nas inúmeras oficinas espalhadas
pela cidade: alfaiates e costureiras, carpinteiros, ferreiros e ferradores e
nas fábricas existentes, particularmente corticeiros, tecelões, salsicheiros,
alvanéus e padeiros.
A corticeira Robinson era a maior
empregadora e foi a partir dela que se concretizaram a maioria dos projetos
sociais e políticos que haveriam de marcar a cidade.
Da fábrica ou das famílias a ela
ligadas haveriam de sair as ideias e por vezes “os capitais” que permitiram
dotar a cidade e os portalegrenses com os instrumentos necessários ao
crescimento e fortalecimento da cidade e da região.
O associativismo conheceu nessa
época um enorme desenvolvimento: a Associação dos Artistas e os Montepios
Fraternidade Portalegrense e Euterpe fundados entre 1895 e 1861 e com a última
delas a chegar até aos dias de hoje.
Em 1888 nasce o Montepio Operário
e Artístico Portalegrense que integra no seu seio uma grande maioria de
operários corticeiros e oito anos depois é constituída a primeira associação
não mutualista, com uma forte presença de operários – A Sociedade União
Operária. Esta associação cuja sede inaugurada em 1905 chegou até nós obrigava
a que os sócios ordinários (os que podiam votar e ser eleitos) fossem
operários.
É nesta “Portalegre” que em 1898,
quarenta e um trabalhadores da fábrica Robinson dos quais apenas um, Manuel
Maria Ceia, não era operário, fundam a Cooperativa Operária Portalegrense com o
objetivo imediato de dar combate à falta de pão e a sua carestia.
A Cooperativa diversifica a sua atividade
e rapidamente se transforma numa referência económica e social da cidade. Em
1905 inaugura a sua sede – o grande edifício onde ainda hoje se mantem e é a
partir dali que se consolida transformando-se na mais importante unidade
comercial da cidade e num centro difusor dos ideias do republicanismo e do
sindicalismo.
Na sua sede funcionava uma escola
para os filhos dos associados e os seus salões eram um viveiro do associativismo
sociocultural que se consolidava e o salão de festas da cidade.
Assim foi ao longo de décadas. A
loja da Cooperativa era a referência comercial da cidade e os seus salões o
palco privilegiado para festas fossem elas o bailarico, a festa de Natal ou o
casamento dos associados ou familiares.
Os novos hábitos de consumo
trazidos pelos supermercados, a maior oferta de espaços para a realização de
eventos e as melhorias económicas dos portalegrenses que permitiram às famílias
deixarem de serem elas a confecionarem e servirem os banquetes ligados ao
casamento e batizado dos seus familiares, ditaram o definhar dos objetivos que
haviam justificado a criação e o desenvolvimento da cooperativa e impuseram aos
seus cooperantes a obrigação de alterarem o seu objeto.
Assim se fez. Hoje, 120 anos depois, no mesmo
edifício inaugurado em 1905, a Cooperativa afirma-se em cada dia como difusor
cultural e sobretudo espaço de solidariedade inter geracional.
No próximo dia 29 de Abril, o seu
imponente edifício/sede voltará a lotar-se com os cooperantes e os amigos que
ali irão cantar-lhe os parabéns.
Estamos todos convidados porque a
Cooperativa e Portalegre merecem esta festa.
Diogo Serra
(Publicado no Jornal Alto Alentejo de 18-04-18)
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