quinta-feira, 18 de janeiro de 2018


Portalegre (distrito) Merece!*

Portugal é hoje um país profundamente desequilibrado territorialmente e nunca as desigualdades entre a estreita faixa do litoral e todo o resto do território nacional foram tão acentuadas.
Muitos anos e muitos milhões de fundos comunitários depois, a coesão territorial não é mais que uma miragem e não só permanecem as enormes desigualdades, como tende-se para uma crescente concentração da população, do emprego, do tecido produtivo e da criação de riqueza em poucos concelhos do litoral, com enormes custos para o todo nacional.
Todavia, os custos da interioridade não são iguais para todas as regiões nem sequer o são dentro de cada uma das regiões.
O Distrito de Portalegre é, no interior da Região Alentejo, o território que paga mais caro os custos dessa interioridade. Fruto da sua debilidade económica e política que a desindustrialização lhe trouxe e também, assumamo-lo, por deficiências técnico-politicas dos líderes locais, muitas vezes mais interessados na gestão dos seus quintais que na defesa desta parte da Região Alentejo.
Às assimetrias existentes entre o Alentejo e as restantes regiões nacionais nós, os norte- alentejanos, adicionamos-lhes as cada vez maiores diferenças entre os distritos alentejanos e, em particular entre o Distrito de Portalegre e os outros territórios que nos circundam e também entre o restante Alentejo: O Alentejo Central, o Baixo Alentejo e o Litoral Alentejano.
Sem as infraestruturas fundamentais ao desenvolvimento que todos merecemos e que outros no Alentejo e fora dele conseguiram ver concretizadas, o Distrito de Portalegre tem vindo a perder capacidade de gerar riqueza, atrair investimentos e pessoas, vendo definhar a sua capacidade produtiva e reprodutora e entrando numa “espiral de tragédia” que leva a que nós próprios e o país comecemos a acreditar que quaisquer investimentos são aqui, pela baixa densidade destes território, pouco mais do que despesa.
A par da, mil vezes prometida e nunca iniciada, Barragem do Pisão persistem as vias de comunicação obsoletas: sejam as rodoferroviárias, sejam as digitais.
Apesar de ter sido retomado recentemente o trafego ferroviário de passageiros na Linha do Leste, a sua eletrificação entre Abrantes e o Caia continua a ser tão só uma aspiração enquanto continuamos a ter vastas áreas da nossa região onde o acesso à NET nos está vedado.
A situação é de tal ordem que mesmo algumas conquistas do Alentejo e dos territórios circundantes são para o nosso distrito barreiras em vez de pontes.
O caso das autoestradas que nos tocam a Norte e sul e a anunciada linha ferroviária de alta velocidade para mercadorias que irá ligar Sines a Badajoz são exemplos de infraestruturas de importância para os territórios vizinhos que podem funcionar como travão ao nosso próprio desenvolvimento.
A A23 e a A6 só deixarão de ser a fronteira que nos condena se for finalmente assegurada a ligação entre elas com uma via que atravesse o distrito de Norte para Sul e for terminado o IC13 entre Galegos e Lisboa.
O caminho-de-ferro só será uma mais-valia para o nosso distrito se a Linha do Leste for eletrificada em toda a sua extensão e se a cidade capital do distrito passar a ser servida com uma estação de passageiros e mercadorias na zona industrial. Também a nova Linha Ferroviária entre Sines e Caia só terá para nós utilidade se, a Plataforma logística do Caia for um investimento e uma infraestrutura transfronteiriça, pois de outro modo, se a Plataforma logística for tão só um instrumento para agilizar o trafego de mercadorias entre o Porto de Sines e a Europa, o nosso território continuará a ser mero espetador e (contribuinte) do desenvolvimento dos territórios que nos cercam.
Os problemas com que nos deparamos requerem uma estratégia integrada e alargada – procurando responder às dificuldades nos planos económico e social – ao mesmo tempo que se atenda às especificidades concretas e às potencialidades do nosso território.
A estratégia de que necessitamos não pode estar desligada do assumir da realização de investimentos públicos quer em infraestruturas de que fomos arredados (transportes e mobilidades e infraestruturas que potenciam a nossa capacidade produtiva) quer na valorização e reabilitação urbanas, quer na melhoria da resposta dos serviços públicos, nomeadamente nos setores da educação e da saúde, fundamentais para aumentar a atratividade do território.
Não pode, sobretudo, estar desligada da vontade e capacidade de mobilização do Alto Alentejo, das suas gentes e das suas instituições.
Assim o queiramos!

Diogo Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de dia 17-1-2018

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