“Santas”
Eleições
Chegámos a 2017.
Uns melhor que outros mas chegámos. Vamos agora ter acesso às promessas de leite e mel que nos estão guardadas em cada eleição.
O governo central
, tão ou mais centralista do que cada um que o antecedeu, iniciou já o
necessário posicionamento na grelha de partida, de forma a poder atingir um dos
objectivos partidários do PS: conseguir mais câmaras que quaisquer outros e,
assim, garantir a Presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Porque não se
pode perder tempo, aí está o agitar de bandeiras queridas de qualquer autarca,
as promessas nunca cumpridas e o avançar
de propostas legislativas cujo conteúdo e objectivos divergem significativamente
das intenções publicitadas.
É enquadrada
nesta estratégia que o governo central avançou com dois projectos legislativos
visando, diz, reforçar as competências das autarquias locais e incrementar a
legitimização das CCDRs através da eleição do respectivo órgão executivo.
Quaisquer destes
projectos deverá merecer uma atenção cuidada de todos e todas e em particular
dos nossos autarcas uma vez que a serem concretizados alterariam radicalmente o
Poder Local Democrático construído no Portugal pós Abril.
Uma leitura
atenta permite constatar que o conteúdo diverge radicalmente dos propósitos
anunciados e o que de facto se pretende é descentralizar os problemas e
centralizar a decisão.
O projecto de
decreto-lei dito para legitimização das CCDRs garante a eleição do Presidente
por um colégio eleitoral, o que é correcto, mas depois de eleito transforma-o
no executor das politicas que ele, governo central, define.
Já a proposta de
lei que se apresenta como instrumento de reforço da autonomia local aponta para
a descentralização de competências da administração directa e indirecta do
Estado para as autarquias locais colocando-lhe “às costas” mais obrigações sem
as dotar dos meios financeiros e humanos necessários. A proposta de lei aponta,
por exemplo, que sejam os municípios a assumir as competências até agora
atribuídas à ASAE sabendo que os municípios, na sua maioria, nunca terão
condições para assumirem funções de defesa económica, de saúde pública e de
polícia.
Os profissionais
da modulação de opinião não deixarão de agitar os “montes de notas” que virão
para os municípios mas todos nós sabemos o que resultou para as autarquias da
atribuição das competências que já têm: aumento de encargos e diminuição de
receitas.
Colocadas estas
questões importa olhar para estas propostas a partir de Aquém Tejo, território
e gentes que não deixam de exigir o cumprimento do Poder Local que a
Constituição consagra e em particular a criação do pilar que falta: as regiões
administrativas.
Visto deste
ângulo, a leitura do Projecto de
decreto-lei que aponta para a eleição dos dirigentes da CCDR por um colégio
eleitoral constituído pelos autarcas, merecerá o nosso aplauso mas não nos ilude quanto ao fundamental e o
fundamental é continuarmos a ter um órgão de poder na região que
não integra o Poder Local mas sim o Poder Central. Um órgão que vai
concentrar mais competências e poder ao que já hoje detém.
É pois com o
olhar e a ambição de alentejanos que importa continuar o trabalho de
esclarecimento, de convencimento, de afirmação de que o Alentejo pode e deve
construir um caminho legal e constitucional que nos permita “antecipar” e
mostrar as vantagens, da Região Alentejo.
O caminho que foi
consolidado no Congresso que realizamos em Tróia, em Abril do passado ano, e
que apontou para a necessidade de construirmos a Comunidade Regional do
Alentejo.
Não é um caminho
fácil mas não é de facilidades que estamos habituados.
Agora é
acelerarmos o trabalho de recolha das assinaturas necessárias ao Projecto de
Lei de Iniciativa Popular.
Este é o caminho
que propomos a todos e a cada um e uma que AMALENTEJO!
Diogo Júlio Serra
publicado no Jornal Alto Alentejo nº511 de 8/2/2017
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