quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ARRONCHES – 40 anos de Poder Autárquico.

     Cumprimos em Dezembro de 2016, quarenta anos das primeiras eleições autárquicas do pós 25 de Abril.
     A 12 de Dezembro de 1976 os municípios de todo o país elegeram por voto directo e secreto, os homens e mulheres que haviam de concretizar uma verdadeira “revolução” no que respeita à qualidade de vida das populações.
     Assim foi, também entre nós.
    Em Arronches os resultados eleitorais confirmaram a tendência já verificada nas eleições para a         Assembleia Constituinte e deram a maioria dos votos à candidatura do Partido Socialista, confirmando como segunda força a FEPU – coligação do PCP com o MDP/CDE e independentes e em terceiro e último lugar a direita, então representada pelo CDS.
   O primeiro executivo municipal democrático seria constituído pelo Presidente Miguel Lagarto e pelos vereadores Gil Romão, António Branco Pereira Marouço, José Henrique Gouxo Marouço e Joaquim Carvão Patacas.
  Estava terminado o período difícil mas exaltante de gestão das Comissões Administrativas constituídas pela vontade expressa dos cidadãos e que substituíram os executivos municipais do período fascista.
   As primeiras eleições democráticas para os órgãos municipais e o reconhecimento dos primeiros eleitos ficará gravado na nossa memória, quer pelo simbolismo do acto, quer pelo trabalho realizado e cujos resultados ainda hoje vivenciamos.
   Mais “escondidos” e por isso mesmo a necessitarem de ser recordados, o período e os actores que antecederam a instalação do Poder Local Democrático e a eleição dos seus órgãos.
  Trata-se de recordar e homenagear as Comissões Administrativas eleitas em plenários populares pelo conjunto dos seus concidadãos e ratificadas pelo Movimento das Forças Armadas e que imediatamente a seguir ao 25 de Abril procederam à substituição dos executivos demitidos e iniciaram um trabalho hercúleo para dotarem os seus concelhos com as infraestruturas absolutamente necessárias e que ao longo de décadas não haviam sido concretizadas.
 Em Arronches, logo a 28 de Abril um conjunto de cidadãos reúnem no Centro Republicano Arronchense e elegem uma comissão para se avistar com os representantes do MFA e disponibilizar-se para assumir os destinos do concelho.
Integram essa comissão de cidadãos alguns dos históricos oposicionistas ao “Estado Novo”:
António Ribeiro Ponte, médico; António Branco Marouço, Industrial; João Ponte Romão, agricultor.
No mês seguinte, convocado pelo MDP/CDE, realiza-se um grande plenário na Casa do Povo e ali é eleita a Comissão Administrativa que assumirá a gestão do Município até às primeiras eleições em 1976.
    A Comissão eleita foi assim constituída:
  Domingos do Carmo Pires Pereira, professor; António Branco Marouço, industrial; Francisco Pereira Balbino, funcionário corporativo; José Henrique Gouxo Marouço, comerciante.
  O professor Domingos Pereira, o cidadão mais votado, assumiu a Presidência da Comissão Administrativa tendo, semanas depois, abdicado a favor de António Branco Marouço que acabaria por ser ele a dirigir o município até à tomada de posse do primeiro Presidente Eleito em eleições livres, o Presidente Miguel Lagarto.
   Sem dinheiro, sem quadros, sem equipamentos, deitaram mãos à obra e começaram a resposta aos principais problemas do concelho: a captação e transporte da água desde a Torrinha até à sede do concelho -  a vala aberta com trabalho braçal procurava dar resposta a dois problemas: a falta de água e o desemprego existente; o arranjo das ruas (alcatroando) todas as que mantinham as pedras irregulares, iniciando a eletrificação de todo o concelho, etc…
   De todos os protagonistas dessas batalhas só um se mantém entre nós: Francisco Pereira Balbino. É na pessoa deste nosso concidadão que presto a minha homenagem a quantos, antes e depois de Abril, elegeram a coisa pública como preocupação e a ela dedicaram toda uma vida.

Diogo Júlio Serra
Vereador Municipal entre 1983 e 1994

Publicado no Jornal Noticias de Arronches nº 169 Janeiro de 2017

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