ARRONCHES – 40 anos de Poder Autárquico.
A 12 de Dezembro de 1976 os municípios de todo o país elegeram por voto
directo e secreto, os homens e mulheres que haviam de concretizar uma
verdadeira “revolução” no que respeita à qualidade de vida das populações.
Assim foi, também entre nós.
Em Arronches os resultados eleitorais confirmaram a tendência já verificada
nas eleições para a Assembleia Constituinte e deram a maioria dos votos à
candidatura do Partido Socialista, confirmando como segunda força a FEPU –
coligação do PCP com o MDP/CDE e independentes e em terceiro e último lugar a direita,
então representada pelo CDS.
O primeiro executivo municipal democrático seria constituído pelo
Presidente Miguel Lagarto e pelos vereadores Gil Romão, António Branco Pereira
Marouço, José Henrique Gouxo Marouço e Joaquim Carvão Patacas.
Estava terminado o período difícil mas exaltante de gestão das Comissões
Administrativas constituídas pela vontade expressa dos cidadãos e que
substituíram os executivos municipais do período fascista.
As primeiras eleições democráticas para os órgãos municipais e o
reconhecimento dos primeiros eleitos ficará gravado na nossa memória, quer pelo
simbolismo do acto, quer pelo trabalho realizado e cujos resultados ainda hoje
vivenciamos.
Mais “escondidos” e por isso mesmo a necessitarem de ser recordados, o
período e os actores que antecederam a instalação do Poder Local Democrático e
a eleição dos seus órgãos.
Trata-se de recordar e homenagear as Comissões Administrativas eleitas em
plenários populares pelo conjunto dos seus concidadãos e ratificadas pelo
Movimento das Forças Armadas e que imediatamente a seguir ao 25 de Abril procederam
à substituição dos executivos demitidos e iniciaram um trabalho hercúleo para
dotarem os seus concelhos com as infraestruturas absolutamente necessárias e
que ao longo de décadas não haviam sido concretizadas.
Em Arronches, logo a 28 de Abril um conjunto de cidadãos reúnem no Centro
Republicano Arronchense e elegem uma comissão para se avistar com os
representantes do MFA e disponibilizar-se para assumir os destinos do concelho.
Integram essa comissão de cidadãos alguns dos históricos oposicionistas ao
“Estado Novo”:
António Ribeiro Ponte, médico; António Branco Marouço, Industrial; João
Ponte Romão, agricultor.
No mês seguinte, convocado pelo MDP/CDE, realiza-se um grande plenário na
Casa do Povo e ali é eleita a Comissão Administrativa que assumirá a gestão do
Município até às primeiras eleições em 1976.
A Comissão eleita foi assim constituída:
Domingos do Carmo Pires Pereira, professor; António Branco Marouço, industrial;
Francisco Pereira Balbino, funcionário corporativo; José Henrique Gouxo
Marouço, comerciante.
O professor Domingos Pereira, o cidadão mais votado, assumiu a Presidência
da Comissão Administrativa tendo, semanas depois, abdicado a favor de António
Branco Marouço que acabaria por ser ele a dirigir o município até à tomada de
posse do primeiro Presidente Eleito em eleições livres, o Presidente Miguel
Lagarto.
Sem dinheiro, sem quadros, sem equipamentos, deitaram mãos à obra e
começaram a resposta aos principais problemas do concelho: a captação e
transporte da água desde a Torrinha até à sede do concelho - a vala aberta com trabalho braçal procurava
dar resposta a dois problemas: a falta de água e o desemprego existente; o
arranjo das ruas (alcatroando) todas as que mantinham as pedras irregulares,
iniciando a eletrificação de todo o concelho, etc…
De todos os protagonistas dessas batalhas só um se mantém entre nós:
Francisco Pereira Balbino. É na pessoa deste nosso concidadão que presto a
minha homenagem a quantos, antes e depois de Abril, elegeram a coisa pública
como preocupação e a ela dedicaram toda uma vida.
Diogo Júlio Serra
Vereador Municipal entre 1983
e 1994
Publicado no Jornal Noticias de Arronches nº 169 Janeiro de 2017
Publicado no Jornal Noticias de Arronches nº 169 Janeiro de 2017
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