A política é,
por vezes, tão igual ao amor … com que Miguel Esteves Cardoso titulou um livro
seu!
A partir de 1975 os portugueses reassumiram o seu direito de votar e as
portuguesas conquistaram esse direito que mesmo na Primeira Republica lhes fora
sonegado.
Desde então o direito/dever de votar instalou-se na nossa sociedade e vem
sendo exercido por um número maior ou menor de cidadãos eleitores, consoante a
proximidade dos órgãos a eleger e o maior ou menor confronto
politico/partidário que a disputa suscita. Todavia cada acto eleitoral agita e
desperta os territórios e as gentes.
A vida ensinou-nos que é a eleição dos autarcas a que mais mobiliza o
eleitorado. E porque as próximas eleições autárquicas estão já à distância de
poucos meses começamos a ser confrontados com toda uma panóplia de nomes (uns a
corresponderem aos candidatos em presença, outros para testarem possibilidades e
outros ainda para queimarem possíveis adversários), com a presença insistente
das máquinas partidárias e também, com a já “normal” cosmética para embelezar
nomes, projectos, e territórios.
Portalegre não fica imune a tudo isto. Os “políticos de café”, os “opinadores
encartados” e os staffs partidários já há muito estão no terreno para, à boa
maneira “lagóia” apregoarem as virtudes dos que vierem de fora e apontarem os
“defeitos” dos da casa que, regra geral, serão sempre piores do que os importados.
Não é só na política. É assim, também, quando nos encontramos fora de
portas a comprar (tantas vezes por preço mais alto) a mesmíssima coisa que
poderíamos adquirir na nossa cidade ou mesmo, em cada domingo de verão, quando
nos encontramos nas esplanadas dos concelhos vizinhos a apontar defeitos às que,
na nossa cidade, deixámos ao abandono e, tantas vezes, impossibilitadas por
falta de gente de se manterem em funcionamento.
Mas voltemos às eleições e aos nomes que alguns nos querem “vender” para
mostrar aos de cá, como se fazem as coisas.
Uns, porque não podem, por força de lei, recandidar-se nos seus concelhos
outros porque o seu Ego já não cabe naquelas fronteiras apresentam-se-nos agora
como os “Salvadores” do Portus Alacer, de tal modo perfeitos que colocaram já
fora da corrida todos e todas que nas respectivas áreas políticas aqui se
mantiveram na luta politica e social para não deixarem morrer a cidade e o
concelho.
Nem todas as forças políticas, espero, seguirão este caminho. Partidos Políticos,
Coligações Partidárias e Grupos de Cidadãos continuarão a permitir-nos escolher
de entre nós, portalegrenses por nascimento ou opção, quem possa garantir-nos
uma governação autárquica com políticas que reponham a cidade e o concelho no
caminho que compete a uma cidade Capital de Distrito que já ostentou o título
de Cidade Industrial do Alentejo e que não merece ser destratada como o tem
sido por sucessivos elencos municipais.
Se assim não for, não serão apenas os que se reveem nas áreas políticas que
já manifestaram esta atração pelo “de fora”, os que não deixarão de identificar
a politica com a mesma definição que Miguel Esteves Cardoso encontrou para o
amor.
Diogo Júlio Serra
Publicado no Jornal Fonte Nova de 21-02-2017