quarta-feira, 18 de maio de 2016

Escola Privada? Sim. Claro! Mas têm que pagá-la, certo?


O Ministério da Educação anunciou recentemente que está a decorrer um estudo para evitar o pagamento desnecessário a escolas privadas.

Pretende-se, diz o Ministério, deixar de contratualizar com uma série de estabelecimentos de ensino privados, serviços que a Escola Pública pode e deve garantir.

Este anúncio levantou de imediato uma onda de “indignação” entre os donos dessas escolas e originou a “saída da toca” da direita trauliteira e da “Igreja dos negócios” uns e outros colocando no terreno todo o vasto manancial de meios de que dispõe. Do púlpito à comunicação social, do seio das famílias beneficiadas aos proprietários dos colégios as campainhas tocaram a rebate e eles aí estão de novo no combate em defesa dos seus mesquinhos interesses.

Para quem assiste a partir do Alto Alentejo à infernal barulheira que a direita trauliteira e os megafones e ”paineleiros” que mantem na comunicação social, a que se junta a parte da igreja católica que não entendeu ainda o pensamento do Papa Francisco, todo este frenesim é motivo de apreensão e desilusão.

Para quem, como nós, persiste em viver e trabalhar no distrito de Portalegre e não desiste de lutar para que as populações do interior e as deste distrito em particular tenham tratamento igual aos restantes portugueses, não consegue deixar de notar o cinismo de quem vem agora mostrar preocupação com os direitos das crianças, com o perigo de professores caírem no desemprego ou, pasme-se, com os direitos adquiridos pelos colégios que foram vivendo à custa dos dinheiros públicos.

Onde estavam esses sentimentos e preocupações quando os próprios ou o governo que os representava encerraram no nosso distrito 65 estabelecimentos de ensino: 14 do pré-primário, 42 do primeiro ciclo, 8 do segundo ciclo e 1 do secundário?

Onde pairavam as preocupações agora tão extremadas quando o primeiro-ministro de então, o mesmo politico que agora tão preocupado está, aconselhava os professores a saírem do país?

Onde estava a igreja (a parte dela que não compreende o pensamento do Papa Francisco) quando eram os pais, os professores e as autarquias a denunciarem que o encerramento das escolas obrigava crianças de 6 anos a levantarem-se de madrugada e só regressarem a casa já noite?

Onde estavam os megafones e opinadores quando a direita no governo rasgava os direitos adquiridos pelas crianças e lhes roubava o subsídio, os direitos adquiridos pelos pais e os colocava no desemprego, os direitos adquiridos pelos avós e os obrigava a trabalharem mais tempo e lhes retirava partes da reforma para a qual contribuíram ao longo de uma vida?

Falemos verdade! O que dói à direita trauliteira e ao coro de opinadores que a servem, é o estar provado que, ao contrário do que afirmavam, há outros caminhos para Portugal. O que não conseguem ultrapassar é a derrota que lhe foi infligida e a perda do poder e das benesses que tal poder lhes permitia.

Quanto à igreja (a parte que não quer aprender com os ensinamentos do seu/nosso Papa), a sua integração no “coro dos vencidos” é menos por não perceber a justiça da medida, mas por colocar o seu papel de proprietária à frente das suas obrigações pastorais.

A uns e outros, que Deus lhe perdoe porque eu não sou capaz!

*  Publicado no Jornal Alto Alentejo de dia 18-05-16

    

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