O Ministério
da Educação anunciou recentemente que está a decorrer um estudo para evitar o
pagamento desnecessário a escolas privadas.
Pretende-se,
diz o Ministério, deixar de contratualizar com uma série de estabelecimentos de
ensino privados, serviços que a Escola Pública pode e deve garantir.
Este anúncio
levantou de imediato uma onda de “indignação” entre os donos dessas escolas e
originou a “saída da toca” da direita trauliteira e da “Igreja dos negócios”
uns e outros colocando no terreno todo o vasto manancial de meios de que
dispõe. Do púlpito à comunicação social, do seio das famílias beneficiadas aos
proprietários dos colégios as campainhas tocaram a rebate e eles aí estão de
novo no combate em defesa dos seus mesquinhos interesses.
Para quem
assiste a partir do Alto Alentejo à infernal barulheira que a direita
trauliteira e os megafones e ”paineleiros” que mantem na comunicação social, a
que se junta a parte da igreja católica que não entendeu ainda o pensamento do
Papa Francisco, todo este frenesim é motivo de apreensão e desilusão.
Para
quem, como nós, persiste em viver e trabalhar no distrito de Portalegre e não
desiste de lutar para que as populações do interior e as deste distrito em
particular tenham tratamento igual aos restantes portugueses, não consegue
deixar de notar o cinismo de quem vem agora mostrar preocupação com os direitos
das crianças, com o perigo de professores caírem no desemprego ou, pasme-se, com
os direitos adquiridos pelos colégios que foram vivendo à custa dos dinheiros
públicos.
Onde
estavam esses sentimentos e preocupações quando os próprios ou o governo que os
representava encerraram no nosso distrito 65 estabelecimentos de ensino: 14 do pré-primário,
42 do primeiro ciclo, 8 do segundo ciclo e 1 do secundário?
Onde
pairavam as preocupações agora tão extremadas quando o primeiro-ministro de
então, o mesmo politico que agora tão preocupado está, aconselhava os
professores a saírem do país?
Onde
estava a igreja (a parte dela que não compreende o pensamento do Papa
Francisco) quando eram os pais, os professores e as autarquias a denunciarem
que o encerramento das escolas obrigava crianças de 6 anos a levantarem-se de
madrugada e só regressarem a casa já noite?
Onde
estavam os megafones e opinadores quando a direita no governo rasgava os
direitos adquiridos pelas crianças e lhes roubava o subsídio, os direitos
adquiridos pelos pais e os colocava no desemprego, os direitos adquiridos pelos
avós e os obrigava a trabalharem mais tempo e lhes retirava partes da reforma
para a qual contribuíram ao longo de uma vida?
Falemos
verdade! O que dói à direita trauliteira e ao coro de opinadores que a servem,
é o estar provado que, ao contrário do que afirmavam, há outros caminhos para
Portugal. O que não conseguem ultrapassar é a derrota que lhe foi infligida e a
perda do poder e das benesses que tal poder lhes permitia.
Quanto à
igreja (a parte que não quer aprender com os ensinamentos do seu/nosso Papa), a
sua integração no “coro dos vencidos” é menos por não perceber a justiça da
medida, mas por colocar o seu papel de proprietária à frente das suas
obrigações pastorais.
A uns e
outros, que Deus lhe perdoe porque eu não sou capaz!
* Publicado no Jornal Alto Alentejo de dia 18-05-16
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