118 anos depois, o sonho mantêm-se vivo!
A Cooperativa Operária Portalegrense, fundada em 1898 para dar resposta às
cíclicas faltas e carestia de pão, mantém-se ininterruptamente em atividade ao
longo dos seus 118 anos.
Constituída pela vontade de 41 trabalhadores da Robinson, só um, Manuel
Ceia, não era operário, cedo se afirmou como uma instituição indispensável à
cidade e ao movimento associativo local.
Sete anos depois da sua fundação, inaugurava a sua sede, um imponente
edifício onde se mantém até hoje e que ocupa todo um quarteirão da rua com o
seu nome.
Foi ali, na sua sede, que 118 anos depois a sua direção reuniu os corpos
sociais, os associados e os amigos, para festejarem o aniversário e reafirmar o
sonho que moveu os seus quarenta e um fundadores.
Ao longo da sua longa existência a Cooperativa Operária Portalegrense
passou por momentos bons e menos bons, por períodos de maior o menor
dificuldade mas soube sempre afirmar-se como baluarte do associativismo
operário e popular. Atravessou vários períodos da nossa história e contribuiu
para a construção, em cada momento, dos caminhos do futuro. Fê-lo sabendo estar
sempre do lado certo da história.
Fundada nos últimos anos da monarquia foi centro difusor dos ideais
republicanos e local de discussão e organização operária. Nas suas instalações
fez-se história.
No salão da cooperativa ocorreram as reuniões constituintes dos primeiros
sindicatos, digladiaram-se os ideais do republicanismo, do socialismo e do
anarco-sindicalismo. Afinaram-se estratégias e organizaram-se solidariedades
enquanto as vendas da loja da cooperativa, durante décadas o maior
“estabelecimento comercial” da cidade, garantiam o financiamento necessário às
suas muitas atividades que incluíam, a partir de 1912, uma escola para os
filhos dos operários da cidade.
O aparecimento dos super e hipermercados e os novos hábitos de consumo que
ditaram o fim da Cooperativa de Consumo a par do desuso em que caíram as bodas
organizadas pelas próprias famílias e os avultados custos de manutenção do seu
património imobiliário, impuseram inúmeras dificuldades aos que ao longo dos
últimos 30 anos persistiram em manter viva a cooperativa operária.
A vontade e o sonho que levou à sua constituição foram os mesmos que
permitiram a sua manutenção até aos dias de hoje e estimulam a equipa que agora
lhe pegou no leme a continuar o caminho iniciado nos finais do século XIX.
Hoje, quando já desapareceram muitas das instituições que nasceram no mesmo
século e não conseguimos sequer preservar o património edificado onde
funcionaram: a fábrica Robinson, a Sociedade União Operária, o Teatro de
Portalegre. Quando algumas outras como a Associação Comercial atravessam
enormes dificuldades de sobrevivência, é motivo de orgulho para os
portalegrenses continuar a comemorar aniversários de quantas, também
centenárias, apesar das dificuldades, mantem acesa a chama da solidariedade e
do desenvolvimento de Portalegre.
A Cooperativa Operária Portalegrense, a Sociedade Euterpe, a Associação dos
Bombeiros de Portalegre e também a Associação Comercial que durante mais de um
século resistiram a todas as adversidades e trouxeram até nós o seu importante
legado são, todas elas, merecedoras do nosso respeito.
*Publicado no Jornal Fonte Nova de 16-05-16
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