sábado, 25 de abril de 2009
25 de Abril Sempre!*
" Em Portalegre, nos tempos da ditatura, nas mais humildes casas dos operários da Robinson, quando alguém fazia anos, podia não haver dinheiro para bolos e outras iguarias, mas havia sempre festa.
Em Portalegre, no ano de 2009, o facto do Município não ter dinheiro, não pode justificar que o aniversário do 25 de Abril não tenha tido uma festa. Portalegre e os portalegrenses mereciam-na."
Exma Senhora representante do Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Exmo Senhor Presidente da Câmara Municipal
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Celebramos hoje o 35º aniversário da Revolução de Abril no quadro de um brutal agravamento das condições de vida dos trabalhadores e das populações.
Aqueles, como nós, que persistem em viver nas regiões mais afastadas dos centros de decisão, sofrem de forma mais pesada esse agravamento pelo que é perfeitamente justificada a inquietação quanto ao futuro de cada um e da Região, como o é, a luta persistente e abenegada de quantos não se revêem nas politicas que lhes vêm sendo impostas, antes as entendem como o negar dos ideais de Abril.
Hoje, para a esmagadora maioria dos que têm até 45 anos, os que, felizmente, já nasceram no Portugal livre das grilhetas ou os poucos anos que nele viveram não lhes permitem memórias fortes do que foram os anos do fascismo, poderá, porventura, parecer estranho que haja, ainda, alguma coisa para comemorar.
Mas para quantos viveram aqueles tempos, para os que tiveram o privilégio de construir e viver Abril, para os que tomaram em mãos os seu próprio dstino e/ou sentiram os efeitos benéficos que Abril nos trouxe, comemorar Abril é reafirmar o apoio ao Movimento que recolocou Portugal no mapa da Europa e pensámos/sonhámos na rota do desenvolvimento. Para estes,mais que obrigação, é o reafirmar da vontade em continuar a luta para o manter vivo e ajudá-lo a cumprir o seu próprio cumpromisso. Garantir a Portugal e aos Portugueses:
A Democracia
A Descolonização
O Desenvolvimento.
Assinalar Abril é também o cumpromisso de passar às novas gerações os valores da Revolução dos Cravos e dar-lhes testemunho de como era a sociedade de então.
É preciso recordar-lhes o drama da guerra colonial, os salários de miséria e as longas jornadas dos operários da cidade, a proibição de nos juntarmos na via pública, mesmo que só para conversar, a escola para os ricos (o liceu) e a escola para os outros ( a escola industrial), os jornais censurados, a pide no Alentejano e noutros cafés, nas fábricas e nas ruas, a legião e a mocidade, a autorização dos maridos para que as mulheres pudessem ir comprar caramelos a Badajoz e tantas outras malfeitorias.
É preciso dizer a quantos neste concelho e nesta cidade estão hoje no desemprego e são mais de mil e trezentos (1333); aos que trabalham mas não recebem salário; aos jovens licenciados que só encontram emprego, quando encontram, em funções não qualificadas, com baixos salários e na mais profunda precariedade; aos reformados e pensionistas que têm que optar entre a compra do medicamento ou do pão; à generalidade dos Portalegrenses que viram fechar a Fino's, o supermercado Novo Mundo e a Jonhson Control's; aos operários corticeiros que assistem impotentes e revoltados ao destruir da actividade corticeira em Portalegre; aos pequenos comerciantes obrigados a encerrar as portas; que a situação actual é o resultado de um longo processo de recuperação capitalista, do ataque sistemático às conquistas e realizações da Revolução de Abril.
Ataques contra Abril que conduziram à reconstituição dos grandes grupos económicos e ao seu domínio sobre a economia e sobre o poder político, às políticas de desmantelamento das funções sociais do Estado, ao empobrecimento da democracia e a crescentes desigualdades na distribuição do rendimento nacional e são, é preciso afirmá-lo, os causadores das dificuldades que o país atravessa.
Ao contrário do que os promotores da politica de direita querem fazer crer, o brutal agravamento das condições de vida dos Portugueses e dos Portalegrenses não resultam do 25 de Abril nem de nehuma das suas conquistas. Bem pelo contrário! A Revolução de Abril conduziu a profundas transformações que ainda hoje marcam a nossa sociedade:
A conquista da democracia e de amplas liberdades incluindo o direito ao voto e à imprensa livre;
A Reforma Agrária e a liquidação do Latifundio;
O Fim da Guerra Colonial;
O direito à Greve;
A instituição do salário minimo nacional;
A consagração do direito à saúde com a criação do Serviço Nacional de Saúde;
O direito a um sistema de educação de qualidade e gratuita;
A liquidação do capitalismo monopolista de Estado.
A instituição de um Poder Local Democrático.
Como certamente estará na memória dos portalegrenses, os tempos que se sucederam à Revolução de Abril foram de uma pujante elevação das condições de vida, de uma profunda inversão na distribuição do rendimento nacional em benefício dos trabalhadores, de uma enorme participação cidadã na vida publica.
A instituição do salário minimo nacional permitiu à esmagadora maioria da população portalegrense o primeiro contacto com algumas condições básicas de conforto e o desmantelamento do aparelho repressivo fascista permitiu às populações inundarem as ruas da cidade: primeiro (logo a 26 de Abril) os estudantes do então Liceu Nacional de Portalegre a homenagearem o Jornal a Rabeca e quem o construía. Depois, em Maio, toda a cidade reunida no Rossio para aplaudir (em liberdade) alguns dos que, também aqui, ajudaram ao derrube do fascismo: António Teixeira, Joaquim Miranda, Eduardo Basso, João Silva, Feliciano Falcão.
O que se lhe seguiu no país foram a afirmação de liberdade, de emancipação social e de independência nacional que, na nossa cidade passou pela recuperação dos Sindicatos dos Corticeiros, Metalurgicos, Rodoviários e Escritórios e Comércio e pelo movimento que passaria a gestão do Munícipio para uma Comissão Administrativa presidida pelo Dr. Parente Pacheco e integrada, entre outros, por um operário têxtil e por um jovem – Adriano Capote - que desde então, se mantém ligado à defesa dos valores de Abril e de Portalegre.
Minhas Senhoras e Meus Senhores.
Comemorar Abril em 2009 é não só afirmar as suas conquistas e valores mas também um acto de protesto e de condenação às politicas de direita seguidas pelos diferentes governos do país e da cidade e pela exigência de ruptura com essas políticas.
Comemorar Abril, hoje e aqui, é, em nossa opinião, um momento e uma oportunidade para dar vida e sentido aos valores e conquistas de Abril afirmando com verdade que é necessário Mudar de Rumo no país e no concelho.
Porque assim o entendemos, porque certos de que esse é o caminho para cumprir Abril queremos reafirmar o nosso compromisso de continuarmos ao lado dos que trinta e cinco anos depois continuam a luta pela elevação das condições de vida, pelo emprego com direitos, pelo aumento dos salários e das pensões, por uma escola pública e de qualidade, pelo cumprimento do Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito.
Minhas Senhoras
Meus Senhoras
Como há 35 anos, também agora, em Portalegre, 25 de Abril e 1º de Maio não poderão ser vistos de forma isolada.
Há 35 anos o 1º de Maio foi a demonstração do apoio dos portalegrenses à Revolução dos Cravos e a mesma ligação será feita este ano, na nossa cidade.
O 1º de Maio deste ano – em que comemoramos o 111º aniversário da primeiro Maio de rua – será, estamos certos a confirmação de que também aqui, Abril vive e resiste enquanto referência e valor essencial no presente e futuro democratico do país e enquanto testemunho de que é possível resistir e vencer na luta por uma vida melhor, em Portalegre, no País e no Mundo.
Esta é a forma que entendemos ser melhor, para homenagear os capitães que naquela madrugada libertadora deram corpo ao sonho de um povo e à luta dos milhares de homens e mulheres que pagaram com a sua própria liberdade e a vida o alto preço que nos custou a liberdade.
25 de Abril Sempre!
*intervenção proferida na Sessão Solene do 25 de Abril
de 2009, em Portalegre.
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