terça-feira, 29 de julho de 2008

...Há sempre alguém que resiste....



… há sempre alguém que resiste…*

Nas últimas décadas, vividas em democracia política, os alentejanos têm vindo a reivindicar as condições necessárias ao desenvolvimento que ambicionam e merecem.
Os trabalhadores e trabalhadoras do Alentejo e o seu movimento sindical de classe têm persistentemente denunciado as políticas geradoras de desemprego e de desigualdades e exigido o fim das medidas penalizadoras da Região e das suas gentes.
Essa atitude de coerência e de combate tem merecido o apoio dos trabalhadores e da generalidade da população mas tem merecido também a censura, aberta ou camuflada, de sectores da sociedade alentejana que dizem, é necessário atenuar a postura reivindicativa e abandonar o discurso de exigência e denuncia que tais sectores gostam de apelidar de “cassete”.
Não querendo assumir as ligações ao capital e aos governos que em representação deste nos têm imposto tais políticas, esgrimem como argumento os importantes envelopes financeiros disponibilizados para a região ao longo dos três quadros comunitários de apoio entretanto concretizados.
Em alguns momentos, no seio do movimento sindical, foi questionada a vantagem, ou não, de continuarmos a insistir na reivindicação e denuncia a par da postura propositora que sempre desenvolvemos, ou ceder aos argumentos dos que apostam no branqueamento das razões e dos responsáveis pela manutenção do Alentejo afastado dos caminhos do progresso e do bem-estar.
Venceu a razão!
Continuamos a acreditar na justeza de nos batermos por politicas que permitam o desenvolvimento que queremos e merecemos e na necessidade de manter o discurso e a acção de acordo com a realidade vivida.
Não podemos pôr de lado a preocupação desde sempre demonstrada face ao desemprego na região, porque este continua a ser um dos principais flagelos do Alentejo e das suas gentes e, apesar da perda acentuada de população e em particular de activos, teima em não se afastar das três dezenas de milhar.
Não podemos deixar cair a denúncia da falta de investimentos, do empobrecimento das populações, do aumento das desigualdades ou da necessidade de emigrar, porque os níveis de desenvolvimento do Alentejo continuam a impor aos que aqui vivem e trabalham um rendimento significativamente abaixo do já baixíssimo rendimento médio Português.
Em 2005 o Rendimento Colectável/per capita era no Alentejo, de 12,8 mil euros enquanto a média do país se cifrava em 13,7 mil euros e o nosso poder de compra fixava-se 14 pontos percentuais abaixo da média nacional.
Esta situação é ainda mais grave se atendermos que uma parte muito significativa da população alentejana é constituída por reformados e pensionistas que auferem reformas e pensões de miséria, por um número muito significativo de desempregados e por uma população empregada (TCO) que aufere salários muito baixos. Daqui resulta que um número muito significativo sobrevive com dificuldades e conforme tem vindo a ser denunciado, um em cada três alentejanos sobrevive com um rendimento que não ultrapassa os 10 euros/dia.

Quanto às desigualdades, basta lembrar quer os números do Eurostat quer o estudo do Prof. Bruto da Costa sobre a situação no país (o detentor da maior desigualdade entre todos os membros da comunidade), para aferirmos a situação vivida no Alentejo, mas importa também recordar que a situação de desequilíbrio se faz sentir no interior da Região.
Os vários indicadores sócio-económicos começam a evidenciar a emergência de manifestações de disparidades entre as sub-regiões e, por essa via, a fragilizar uma das nossas principais valias: a unidade e coesão territorial interna da Região Alentejo.
Em tempo de congresso regional podemos concluir, que vinte e três anos depois de termos realizado em Évora o 1º Congresso do Alentejo e esgotado o ciclo de aplicação de três significativos envelopes financeiros disponibilizados por três quadros comunitários de apoio, o Alentejo manifesta o mesmo tipo de problemas estruturais e os sintomas de fragilidade económica e social, assinalados na década de 80 do século passado e esta conclusão impõe-nos, aos sindicatos e à Região, a necessidade de manter e intensificar o registo reivindicativo, a denúncia da falência das políticas impostas e dos responsáveis pela sua imposição ao país e ao Alentejo.
Estamos conscientes, que não chega constatar e denunciar esta realidade.
É fundamental que consigamos alterar o rumo e delinear e aplicar politicas que tenham em conta as necessidades e as potencialidades desta região e, sobretudo que possamos garantir que o actual QREN não venha a sofrer das mesmas insuficiências dos pacotes financeiros anteriores e possa ajudar a colocar-nos nos caminhos do desenvolvimento económico e social que ambicionamos e merecemos.
São estas as razões que têm mobilizado os alentejanos e alentejanas para a participação empenhada em todas as grandes e pequenas lutas travadas pelos trabalhadores portugueses.
Em cada momento e em cada batalha travada na região ou noutros pontos do país, a voz do Alentejo esteve sempre presente. Foi assim ao longo das últimas décadas. Foi assim nas imponentes jornadas de 2007: na greve geral de Maio, nas Mega Manifestações de Lisboa em Março Outubro na manifestação em Guimarães ou na Marcha dos Professores. Tem sido assim ao longo deste ano: no 25 e no 1º de Maio em Beja, Évora e Portalegre e, mais recentemente, na acção que colocou mais de duzentos mil trabalhadores em Lisboa, entre o Marquês e os Restauradores.
Na mega manifestação de 5 de Junho, com mais de 200 mil participantes o Alentejo voltou a estar presente com uma significativa delegação de mais de três milhares de homens e mulheres que, de forma vibrante e entusiástica, responderam ao apelo do Secretariado Inter Regional do Alentejo, contribuindo para inundar a Av. da Liberdade e dessa forma evidenciar as injustiças sociais que resultam de políticas que não têm em conta a dignidade das pessoas e impõem cada vez mais sacrifícios a quem trabalha, conforme é dolorosamente sentido na nossa Região.
Assim será no futuro próximo, porque os alentejanos e o Alentejo o exigem e merecem.

Diogo J. Serra
* publicado na revista Alentejo nº21

1 comentário:

Anónimo disse...

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