sexta-feira, 19 de abril de 2024

Não. Não é coisa do passado.

 

Não. Não é coisa do passado.

25 de Abril Sempre!

 

Comemoramos este ano, alguns só o assinalam, o cinquentenário do 25 de Abril.

Aquela “dia inicial inteiro e limpo” que abriu portas a todos os sonhos, permitiu a Revolução dos Cravos que pasmou o mundo e que haveria de transformar o país cinzentão e “orgulhosamente” só, numa das mais avançadas democracias do mundo. Uma democracia que, em tempo recorde pôs fim à guerra e iniciou a descolonização, elegeu uma assembleia constituinte e criou uma constituição modelar, iniciou o desenvolvimento económico e social e conseguiu integrar sem roturas institucionais ou violências mais de 1 milhão de portugueses que, por vontade própria ou alheia tiveram que rumar ou retornar ao continente português.

O 25 de Abril e o Movimento dos Capitães que o originou, os milhares de resistentes à ditadura que ao longo do quase meio século que durou, mantiveram acesa a chama da esperança, os homens e mulheres jovens e menos jovens que pagaram com a sua liberdade e em muitos casos com a própria vida, o preço daquela madrugada tão esperada, são um marco histórico e belo que mereceu e merece o aplauso da esmagadora maioria dos portugueses.

Assim continua. Independentemente dos olhos e dos interesses com cada um o vê, cinquenta anos depois. Com os olhos e a vontade com que cada um, desde o próprio dia e até hoje, o quis ver, com a forma que o 25 de Abril de 74, respondeu aos seus sonhos e como os seus interesses foram por ele satisfeitos ou beliscados.

 O
25 de Abril de 1974 encerra em si múltiplos dias e sonhos onde cabem todos, inclusivamente essas minorias que desde a primeira hora o combatem por opção de classe, interesse económico ou má formação.

Cabem todos porque ele, o 25 de Abril, é multifacetado e policromo. Até 24 de Abril foi resistência e coragem, no próprio dia começou sendo um golpe de estado militar que rapidamente foi apropriado pelo povo e transformado em Revolução dos Cravos.

No início do dia seguinte voltava à ribalta o golpe militar com o anúncio da Junta de Salvação Nacional, a surpresa da sua composição e a nomeação, em Maio, de Spínola para Presidente da República. Os dias que se lhe seguiram, até ao 11 Março, foram de intensa luta entre o “golpe e a Revolução”.

Face à derrota sofrida pelos golpistas do 11 de Março, a Revolução toma a dianteira e cumpriram-se sonhos: aconteceram as nacionalizações, o salário mínimo passou de 3.300$ para 4.000$ (+ 20%), foram implementados os subsídios de férias e de desemprego e a licença de parto.

A 25 de Novembro de 75, regressa o golpe. A revolução é travada e o país é sujeito às regras das democracias liberais e capitalistas. É o tempo da Europa connosco! Situação que hoje se mantém com Portugal a “vestir-se” no pronto-a-vestir europeu com “fatos” construídos em série e que tentamos depois adaptar.

Todavia, como as últimas eleições deixaram bem visível, de novo aconteceu Abril. Um Abril que permite a alternância através do voto, que respeita o voto popular ao ponto de, com grande pena minha, deixar sentar na vice-presidência da Casa da Democracia um ex-dirigente do movimento bombista que pôs Portugal a arder ou fingir indiferença face à decisão do Presidente da República Portuguesa (Mário Soares já o havia feito mas às claras) de, meio às escondidas, atribuir ao chefe e fundador da organização terrorista de extrema-direita, o Grande Colar da Ordem da Liberdade.

É o conjunto de acontecimentos e de valores que em cada momento e a cada sector da nossa sociedade, entusiasma ou deprime que impõe o 25 de Abril de 1974, então como agora, uma quinta-feira e sempre “ o dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo”

São todos estes “Abriles” que encerram a beleza do Movimento dos Capitães e o espírito de Abril. São todas estas possibilidades de O olhar e O entender que permitem e garantem que o 25 de Abril dos Cravos e da Liberdade não seja “coisa do passado” antes continue a ser futuro para Portugal e para os Portugueses.

Que viva Abril!

Diogo Serra

quinta-feira, 4 de abril de 2024

CADA FIO DE VONTADE SÃO DOIS BRAÇOS...

 


Cada fio de vontade são dois braços!

    Os resultados das últimas legislativas ditaram a redução da representação parlamentar
do PCP com um número de votos e percentagem abaixo do alcançado há dois anos.
O Alentejo seguiu a tendência nacional e a diminuição de votantes na CDU levou à
perda do único deputado do PCP eleito no Alentejo, o deputado eleito por Beja e cujo
empenhamento e ação em defesa do distrito e da região justificavam plenamente a
sua reeleição.
    A votação no Alentejo não difere dos resultados nacionais mas impõe-nos uma
atenção particular o facto de, pela primeira vez desde a revolução dos cravos, o PCP
não ter elegido nenhum deputado na região e ter “perdido” entre 1976 e hoje, 82,24%
do seu eleitorado.
    Urge encontrar respostas para a hecatombe eleitoral que nos atingiu e que irá refletir-
se, mais que na vida do PCP, no dia-a-dia dos alentejanos. A perda de 101.320 votos
entre 1976 e 2024 tem que ter razões mais profundas que a diminuição de eleitores
(48.317) e a postura da comunicação social controlada, apesar destes serem factos
reais.
    Só a constatação de que existem problemas no nosso seio permitirá o empenhamento
de todos na procura da sua resolução.
    Concordo que a batalha eleitoral foi travada num ambiente caracterizado pela
hostilidade e menorização do PCP, pela continuada falsificação dos seus
posicionamentos visando alimentar preconceitos anti comunistas e estreitar o seu
espaço de crescimento e também pela promoção de forças e conceções reacionárias,
etc…etc.. mas não foi, não pode ter sido, e já é tanto, apenas isso.
    Não são apenas as razões que não controlamos a justificarem a perda de votantes de
eleição para eleição e que culminaram com perda do último deputado do PCP na
região quando, pelo esquecimento a que continua votada, pelas dificuldades das suas
gentes, pelas propostas, e posturas do PCP e dos seus eleitos mereciam e justificavam
o aumento e não a diminuição da sua força eleitoral.
    As razões da derrocada anunciada pelas constantes e continuadas perdas, têm que ser
procuradas, também, no interior do Partido, no que podemos e devemos fazer melhor
e, porque a resolução dessas, dependerá exclusivamente da nossa vontade, têm que
ser encontradas e resolvidas sem demora.
    Importa-nos questionar, de novo e mais profundamente, como melhorar a
comunicação. Como tornar mais eficaz o combate à mentira e à calúnia que alimenta o
preconceito anti comunista, como fazer chegar a nossa mensagem e as nossas
propostas, por meios alternativos da comunicação social que o capital transformou em
megafones das suas ideias e projetos.
    No Alentejo a não eleição de deputados comunistas e a eleição de 3 deputados pela
extrema-direita antidemocracia é um ponto negro da nossa vida democrática mas não
significa a existência entre nós, desses milhares de cidadãos saudosistas do “estado
novo”, apoiantes convictos do ódio e da xenofobia, que o programa e a vontade dessa
agremiação representam.
    Os milhares de eleitores que engrossaram a votação desse agrupamento e da restante
direita fizeram-no empurrados pelo ostracismo a que eles, os seus problemas e o
nosso território, têm sido votados. Retornarão ao local de onde “fugiram” logo que
sejam confrontados com o logro em que caíram. Todos, eles e elas, serão recuperados
pela lucidez e pela democracia.
    A questão é sabermos se o PCP, agora diminuído eleitoralmente, terá no imediato a
força e os meios que lhes permitam continuar a estar com os trabalhadores e as
populações, nos locais de trabalho e nas ruas, nas autarquias e nas associações, em
defesa dos direitos que temos e nos avanços que desejamos.

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Cumprir e fazer cumprir a Constituição!

 

Cumprir e fazer cumprir a Constituição!


Ao longo da nossa história enquanto país independente só por quatro ocasiões fizemos reunir Assembleias constituintes que produziram diferentes Constituições.

No século XIX e no seguimento da Revolução Liberal em que pela primeira vez a Nação elaborou e fez aprovar a Carta Constitucional, no século XX quando da implantação da República que elegeu uma Assembleia Constituinte que elaborou e aprovou a Constituição Republicana de 1911, em 1933 quando em plena ditadura Salazar plebiscitou a sua constituição, visando dar um ar de legitimidade à ditadura terrorista que comandava e em 1976 quando a Assembleia Constituinte eleita pela primeira vez, pelo voto geral e universal dos portugueses aprovou a Constituição da República que hoje se mantém e que consagra a Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura e nos recolocou no seio das nações livres e democráticas.

Hoje, quando se cumpre o 48º aniversário da sua proclamação, venho falar-vos dessa Constituição saída da vontade popular expressa nas primeiras eleições gerais, universais e livres, após os 48 anos da Ditadura que uns apelidam de terrorista ou fascista e outros, os que a impunham, denominavam de Estado Novo.

Comemorar o 48º aniversário da promulgação da Constituição da República Portuguesa é festejar um dos acontecimentos mais significativos da Revolução de Abril. O registo em forma de lei da vontade do povo português manifestada na primeira eleição verdadeiramente democrática realizada em Portugal, por sufrágio direto e universal, e que contou com a participação de 91,66% dos 6 231 372 cidadãos eleitores inscritos para votar.

Vontade interpretada de forma sublime pelos deputados constituintes entre os quais os que ali estavam em representação do nosso distrito e que quero aqui recordar: Júlio Miranda Calha, Domingos do Carmo Pereira e João do Rosário Barrento Henriques, eleitos pelo Partido Socialista e António Joaquim Gervásio, que viria a ser substituído por Joaquim Diogo Velez, eleito pelo Partido Comunista Português.

Os processos de revisão constitucional já concluídos (sete) modificaram muitas das suas disposições originárias, adaptando-a às necessidades de cada momento e à correlação de forças politicas e sociais que as promoveram mas mantendo-lhe a marca que a caraterizou desde a sua promulgação em 2 de Abril de 1976 – uma das leis fundamentais mais progressistas da Europa e do mundo que garante: a defesa dos valores do estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais; a subordinação do poder económico ao poder político democrático; os direitos individuais e coletivos dos trabalhadores; o direito ao trabalho, o acesso à saúde, à educação, à cultura, à justiça, à segurança social e à habitação.

No ano em que assinalamos o cinquentenário da Revolução dos Cravos e quando os derrotados em Abril, estão aí, às claras, com as suas habituais charlatanices à procura de oportunidades para capitalizarem o justo descontentamento, em oportunidades do retrocesso de que nunca desistiram, é a hora de refletirmos sobre o país que hoje temos e o que justifica a justa insatisfação de muitos portugueses para com o estado da democracia.

Reflexão tanto mais importante quando a justa insatisfação de muitos portugueses, tantas vezes ignorada ou olhada com desdém, fez-se agora ouvir com estrondo nos resultados eleitorais do passado dia 10 de Março.

Estou certo de que o estado da democracia e dos portugueses não resulta da Constituição mas do seu incumprimento, pelo que o futuro passa pelo seu cumprimento.

Quanto mais cidadãos conhecerem a Constituição e o que nela está expresso, quanto melhor for conhecido o contexto em que nasceu e se concretizou a Revolução que esta consagra, mais portugueses compreenderão que os problemas, graves, que nos afetam e ferem e o estado atual da nossa democracia não resultam da Constituição, mas do seu incumprimento.

A efetivação dos direitos fundamentais constitucionalmente consagrados exige um poder político determinado em cumprir e fazer cumprir a Constituição e a adoção de políticas que se identifiquem com os seus valores e princípios e isso não tem sido conseguido.

É preciso garantir o futuro.

Cumpra-se a Constituição!

Diogo Serra

quarta-feira, 13 de março de 2024

AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU...

 

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As Portas que Abril abriu…

Na caminhada eleitoral que ontem terminou tomei partido de forma empenhada pela coligação onde se integra o Partido onde milito, o PCP. Fi-lo, como militante empenhado e como mandatário distrital da candidatura por Portalegre, na companhia de muitos outros democratas e com os companheiros e companheiras que deram rosto à candidatura, a Fátima Dias, o Manuel Coelho, a Susana Teixeira e o Pedro Reis procurámos levar a todo o distrito, concelho a concelho, porta a porta, uma mensagem que era e é de proposta, de dignidade e de confiança.

Os resultados obtidos no distrito e no país ficaram muito aquém do que entendo ser necessário para conseguirmos o país e a região que merecemos e, no que concerne ao nosso distrito, o respeito que devemos merecer dos governos centralistas e surdos às nossas reivindicações e necessidades.

Os resultados obtidos pelo bloco da direita e a subida desmesurada das forças anti-sistema democrático nestas eleições constituem um factor negativo para a resposta e solução de problemas com que os trabalhadores, o povo e o país se confrontam. Facilitam o caminho de retrocesso e de ataque a direitos e favorecem o grande capital e os interesses estrangeiros prosseguindo o percurso de sempre de PSD e CDS.

Potenciam a ofensiva contra o regime democrático, as instituições e a própria Constituição.

Os resultados agora obtidos pela AD e pela direita não democrática são inseparáveis das opções da governação que impuseram as políticas de direita, geradoras   de injustiças e que acentuaram o legítimo descontentamento face ao acumular de dificuldades por parte dos trabalhadores e do povo.

 Essa governação de dezenas de anos, agora acentuada com a maioria absoluta do PS, favoreceu o discurso demagógico, da extrema-direita e levou muitos milhares a acreditarem que estaria aí a resolução para os problemas que os afectam e a esquecerem a acção passada do PSD e do CDS e os seus projectos para a voltarem a pôr de pé.

O resultado da CDU, com a redução da sua representação parlamentar (menos dois deputados) uma percentagem e um número de votos abaixo dos resultados de há dois anos, significa um desenvolvimento negativo, que importa inverter.

Os resultados alcançados no país e também no nosso distrito, não deixando de constituir uma expressão de resistência face a um clima fabricado e caracterizado pela hostilidade e menorização, pela prolongada falsificação de posicionamentos do PCP, não serão apenas isso.

O clima fabricado para alimentar preconceitos anti-comunistas e estreitar o seu espaço de crescimento, para esconder da sua voz e as soluções e política alternativas que propõe não pode fazer esquecer-nos, à CDU e ao PCP, que importa olhar também para dentro de casa e intervir, já, naquilo que está nas nossas mãos fazer.

Importa questionar, de novo e mais profundamente, como melhorar a comunicação. Como tornar mais eficaz o combate à mentira e à calúnia que alimenta o preconceito anti-comunista, como fazer chegar a nossa mensagem e as nossas propostas, por meios alternativos comunicação social que o capital transformou em megafones das suas ideias e projetos.

No Alto Alentejo a eleição de um deputado pela extrema-direita não democrática é um ponto negro da nossa vida democrática mas não significa, estou absolutamente certo, a existência entre nós, desses milhares de cidadãos saudosistas do “estado novo”, apoiantes convictos do ódio e da xenofobia, que o programa e a vontade dessa agremiação representam.

Estou absolutamente certo que essa postura dos milhares de eleitores que engrossaram a votação desse agrupamento o fizeram empurrados pelo ostracismo que eles, os seus problemas e o nosso território, têm sido votados. Retornarão ao local de onde “fugiram” logo que sejam confrontados com o logro em que caíram. Todos, eles e elas, serão recuperados pela lucidez e pela democracia.

Mas, entretanto, no curto prazo, como vai ser? Não são poucos os que me têm feito chegar a sua inquietação encerrada na expressão, e agora?

Agora, libertos da emoção (e da dor) que ontem vivemos, a resposta é muito clara. Os trabalhadores e o povo, do distrito e do país, podem contar com a CDU com a coragem de sempre, para defender os seus direitos, enfrentar os interesses dos grupos económicos e das multinacionais, afirmar os valores de Abril e o que eles transportam de referência para a construção de um Portugal de progresso e soberano.

No nosso distrito e no que ao PCP diz respeito, a mesma clareza na resposta. Quando aqueles que elegemos se esquecerem que nós (o distrito e todo o interior) existimos seremos nós, os do costume, a estarmos com os trabalhadores e as populações, nos locais de trabalho e nas ruas, nas autarquias e nas associações, em defesa dos direitos que temos e nos avanços que desejamos.

No caso concreto do Alto Alentejo, espero estar certo, serão também aqueles outros alto-alentejanos que se candidataram e não foram eleitos, a continuarem cá e a fazerem aquilo que alguns dos que “elegemos” prometeram e esquecerão rapidamente.

E, porque Abril se cumpre sempre que se afirma a liberdade, os resultados melhores ou piores para quem os observa, só são possíveis porque houve e há Abril.

Que Viva Abril!

 

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O Alentejo tem Futuro. O Alto Alentejo Também!

 


O Alentejo tem Futuro. O Alto Alentejo Também!

A campanha eleitoral que agora decorre, trouxe de novo aos nossos olhos o facto de o Distrito de Portalegre ser o único círculo eleitoral do país a eleger apenas 2 deputados. Mais grave ainda, elege dois deputados porque a legislação impõe que esse seja o número mínimo. Se tivesse apenas em conta o número de eleitores, previsivelmente elegeria ainda menos.

Como, também, já se tornou um hábito todas as candidaturas lamentam a perda de população e elegem a questão demográfica como o maior problema que aqui se nos coloca.

Fazem-no, quase todas as candidaturas, como se a questão da perda e envelhecimento populacional fossem obra do acaso e os culpados fossem os “transtaganos” que perderam o gosto em procriar. Daí as medidas, demagógicas e erradas: oferta de uns tostões aos pais, quando nasce uma criança, planos e “planozinhos” de apoio financeiro ao regresso de jovens que tenham emigrado, mais uns milhões para construir e inaugurar uns quantos “semilleros” de empresas mais ou menos informatizados e, quanto mais à direita sejam os seus autores, propostas de mais e mais cortes nos impostos a pagar (em particular pelas grandes empresas).

E assim, como as receitas (e os deputados eleitos) são sempre as mesmas, desajustadas e inúteis, não só não combatem como ampliam a doença que nos vai minando.

Todos sabemos, particularmente os que cá nos mantemos, que o Alto Alentejo como a restante Região não é um território pobre e muito menos condenado a viver de mão estendida. Pelo contrário tem inúmeras riquezas, começando pelo seu povo, a sua rica cultura e os seus recursos naturais e paisagísticos.

Sabemos igualmente, que a gravíssima situação demográfica com que nos debatemos, é o resultado das políticas de direita que nos têm sido sistematicamente impostas, independentemente das forças políticas que no governo central e centralista a cada momento se instalam.

Independentemente da “côr” do governo: PS e PPD sozinhos, em conjunto ou acompanhados, cada um, com apêndices ainda mais à direita, as políticas não diferem, como na difere o apoio cego dos seus representantes no terreno.

Para os que como eu se situam entre os que entendem que é à esquerda que lá vamos. O movimento Operário e Sindical e as forças políticas que representam os seus valores entendem, que a nossa região não é pobre, é sim uma região sem projeto, está perfeitamente claro que o combate à perda e envelhecimento demográfico desta região só terá êxito se for à raiz dos problemas que o originam. Desde logo a questão salarial e a estabilidade laboral.

Só com a melhoria salarial e o fim da precariedade será possível manter na região os nossos jovens, todos, e particularmente as muitas centenas que em cada ano são formados nas nossas escolas e no nosso IPP.

Só garantindo o direito à saúde, à habitação e ao ensino de qualidade, será possível atrair novos habitantes e famílias em idade ativa.

Só com horários de trabalho que permitam e estimulem a fruição da família e com rendimentos familiares minimamente dignos se estimula a vontade de trazer ao mundo mais crianças e, no curto prazo, a minimização da perda demográfica tem que passar por conseguirmos captar e manter mais imigrantes no nosso território.

Tal só possível se a quem nos procura em busca de segurança ou de melhorias económicas soubermos garantir as condições dignas de trabalho e de habitação que quem trabalha merece e que são exatamente o contrário do que a direita defende e que recentes iniciativas de extremistas da direita mais radical têm vindo a estimular e promover, inventando e filmando e afirmando manifestações de ódio e xenófobas.

Não estamos condenados à pobreza, ao despovoamento e à desertificação.

Ainda podemos dar a volta a isto se combatermos em vez de estimularmos os responsáveis pela situação a que chegámos.

Assim o queiramos!

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Continua o genocídio… e a hipocrisia!

 Continua o genocídio… e a hipocrisia!



O estado terrorista de Israel continua a sua política de genocídio do Povo Palestiniano, em Gaza e no restante território ocupado, perante o silêncio cúmplice e as declarações medrosas da comunidade internacional.

São os povos do mundo inteiro, nas ruas, os que prestam solidariedade face ao terror.

Nos últimos dias, muitas manifestações de apoio à paz no Médio Oriente e à concretização dos direitos nacionais do povo palestiniano encheram praças e avenidas por todo o mundo:

Muitos milhares de pessoas empunhando bandeiras palestinianas e cartazes e faixas condenado a agressão desfilaram em cidades de vários continentes em apoio ao povo palestiniano e ao direito de terem o seu estado reconhecido pela comunidade das nações e com a segurança garantida face aos que lhe negam tal direito.

Mesmo em Paris, Londres e Washington capitais onde nasceu o problema e que agora aberta ou veladamente apoiam os genocidas, os protestos das populações fizeram-se ouvir. Protestos contra os respetivos governos que por intenção e inação apoiam o terrorismo do governo de Israel e lucram milhões com o assassínio organizado de milhares de palestinianos, na sua esmagadora maioria civis e fundamentalmente crianças. 

Portugal, como quase sempre, cumpre o que lhe está destinado pelos “amos a quem serve” e qual menino bem comportado arroga-se, máximo dos máximos a uma leve “exigência” por um cessar-fogo humanitário não esboçando “vergonhosamente” o mais pequeno gesto de apoio ao português que dirige as Nações Unidas e que tem vindo a sofrer os maiores insultos do estado terrorista. 

Um aplauso para a África do Sul, país que por sentimentos de solidariedade, por terem conhecido e sofrido os horrores do apartheid foram os primeiros a avançarem com uma queixa no TPI contra os crimes de guerra do Estado Terrorista de Israel.

E por cá? Em Portugal, como na Europa, os que “apoiam” a guerra lá fora, fomentam-na “cá dentro” contra o seu próprio povo, usando como arma as políticas de empobrecimento, de roubo dos direitos, de empurrar os mais fracos e debilitados para as fronteiras da marginalidade económica e social.

O governo, suportado por uma maioria absoluta na Assembleia da Republica, foi-se desmoronando e viu a Assembleia da Republica ser dissolvida por decisão presidencial.

Os portugueses foram obrigados a ir a votos pelo estado a que as políticas e trapalhadas do governo do PS deixaram o país mas também pela impaciência dos que defendendo as mesmíssimas políticas não aceitavam o seu afastamento do poder, As duas fases do centrão da política e das negociatas, continuam de acordo em salvaguardar os lucros dos poderosos e na adoração ao grande capital.

As eleições que se avizinham trazem-nos, aos que sofrem as consequências da sua governação classista, uma nova oportunidade de meter travão no caminhar para a “tragédia.

Não será fácil, como não o será para os menos atentos, perceber as diferenças entre os que são hábeis na palavra e no fingimento e os que deram e dão provas de honrar a palavra dada.

Para os cidadãos e eleitores não faltarão os “cantos de sereia” os processos de intenção, as condenações às politicas de desastre e à corrupção, aos aumentos brutais nos impostos e à sua pequenez nos salários, à falta de habitação, aos males que a saúde atravessa, à escola publica que atravessa enormes dificuldades, as provas fabricadas a justificarem os crimes da guerra… e a dificuldade será o separar o “trigo do joio”, não perder a memória, olhar e ver para além das promessas que nos são atiradas.

Esta necessidade tem para o nosso distrito uma maior importância. Continuamos a perder população. Só entre o último ato eleitoral e hoje o distrito perdeu mais de mil eleitores,

Na hora da escolha é importantíssimo sermos racionais. Quem tem governado o país nos últimos 40 anos? Quais as forças políticas que tem elegido deputados pelo nosso distrito? Têm cumprido? São merecedoras que voltemos a atribuir-lhes o nosso voto?

Quando vierem juntar-se a nós acusando este ou aquele pela dramática crise de habitação que coloca sem teto milhares e milhares de pessoas e leva um numero ainda maior a ter que escolher entre pagar a renda ou comer, impõe-se puxarmos atrás a fita do tempo e saber o que foi feito pelos governos da direita e pela ministra do CDS, Assunção Cristas de seu nome.

E não esqueçamos, também, que os governos que se lhe seguiram não só nada fizeram para anular tais decisões, como continuaram a apoiar o enriquecimento da banca, à custa do arrastar da população para muitas situações de sem abrigo. 

Os DDTs – donos disto tudo – têm agora ao seu serviço, aqui e por toda a Europa, os sucedâneos do nazifascismo usando gravata em vez da farda, salto alto ou sapato lustroso em vez das botifarras e falinhas mansas em vez da berraria. Também estarão entre nós, prometendo dar o que nos quiseram e querem roubar e juntando-se a nós na condenação à corrupção e a corruptos e corruptores. 

Também aqui é preciso estar alerta e sobretudo não esquecer que o nazifascismo está para a corrupção como o combustível para um incêndio.

Não nos deixemos enganar. Não deixemos que esta nova oportunidade se transforme em suicídio. Assumamos a defesa do nosso futuro!


Diogo Júlio Serra


sábado, 3 de fevereiro de 2024

O MEU CONVENTO

 

                        O MEU CONVENTO




Após um tempo em que a sua degradação me doía, o Convento da Luz, totalmente reabilitado abriu-se aos Arronchenses e a quantos o quiserem visitar.

Dia 15 de Dezembro de 2023 uma data a juntar àquela outra do século XVI em que o Convento nasceu pela mão dos Agostinhos Calçados voltei ao Convento.

Sim, voltei ao Convento e como todos maravilhei-me com os resultados da sua reabilitação. Percorri os Claustros (para mim serão sempre – a cerca) e as belas salas do primeiro andar depois de subir os 28 degraus divididos por dois lanços e retomei a minha meninice. Os meus olhos foram substituídos pelas memórias.

Ao cimo da escadaria vi o que já lá não está! À minha direita a porta de entrada da residência dos proprietários – “o menino Dioguinho”, menino como eu e meu padrinho de batizo e os pais Diogo António Pereira e Dª Aninhas Salgueiro. Em frente, sobre as copas das laranjeiras, que não estão lá, um conjunto de 6 janelas que da direita para a esquerda iluminavam o vestíbulo, a cozinha (duas), a sala dos passados e o quarto de dormir das empregadas dos proprietários. Seguia-se a que me era mais querida a que iluminava o quarto onde dormi desde os cinco aos vinte sete anos. Vinte e dois anos porque os primeiros cinco foram “vividos” os dois primeiros no quarto dos meus pais e os três restantes, após o falecimento da minha mãe, em casa dos meus avós maternos.

Passeio-me pela “varanda” a mesma em fui fotografado ao colo da minha madrinha no dia em que me batizaram, confiro cada uma das portas por onde passo. A primeira sem número - a casa da matança - a que se seguem as habitações arrendadas a famílias diversas.

No nº 2, a residência composta de cozinha e um quarto no r/c e com acesso por uma escada de madeira, um quarto no primeiro piso onde viviam a vizinha Joaquina com o marido e dois filhos – Jaulino e Davide, consigo ouvir as gargalhadas do vizinho Zé à lareira a Jantar. Passo ao nº 3 (número de policia) e frente à porta revejo décadas da minha vida. Vejo o meu avô Domingos nos últimos tempos em Arronches e vejo sobretudo a minha primeira residência de casado. A casa onde nasceu a minha filha e consigo ouvir-nos aos três.

 Imediatamente ao lado, a primeira residência (grande) que ocupava toda a fundura do Convento, a casa dos vizinhos Aurélio e Constança e do Manuel Dias (sobrinho) Eles mestres pedreiros e ela doméstica. Continuo a percorrer a varanda e paro no nº 5 a casa do vizinho Barradas e dos seus filhos, o João, a Clarisse e o Estevão e recordo quando lhes batia à porta e aberto o postigo a primeira imagem que tínhamos era a luz da grande janela da cozinha virada para o Páteo.

Segue-se o nº 6. Agora é preciso respirar fundo. Olho em redor: ao canto, encostado ao muro decorado por dezenas de craveiros com flores (alguns com ervas de cheiros), o que foi piscina privada: minha, da minha irmã e dos outros meninos da vizinhança, o tanque para lavar a roupa que todas as vizinhas utilizavam e a piscina privada da garotada em tardes de verão. Pelo ar filas de arame onde se pendurava a roupa para secar.

Ganha a coragem necessária, abrimos a porta e entramos na divisão da casa que foi primeiro a minha sala de jantar mas que depois o meu pai com uma divisória de madeira transformou em duas divisões: na primeira a torneira da água que abastecia a casa, o grande espelho quadrado onde o meu pai gostava de ajeitar o chapéu e a máquina de costura “singer” onde a minha madrinha costurava. Na outra, com a independência que a parede de madeira garantia, o meu quarto.

Seguia-se a cozinha enorme, com a chaminé onde o fogão de lenha permitiu a água quente e a confeção dos alimentos. Ao fundo, à esquerda o poial dos cântaros decorado com inúmeros utensílios de barro e janela que não só iluminava toda a casa mas também me ligava aos vizinhos do Páteo exterior, os Carêtos e os filhos Augusto, Manuel, Antónia Rita, Maria Antónia e a Célia. Do lado direito a entrada para dois outros espaços: o quarto dos meus pais e da minha irmã e a casa de jantar, ambos com amplas janelas viradas para a muralha.

Sim, esta é a minha casa. Está bem bonita. Ostenta agora, esta e as restantes, pinturas, altares e pormenores antes tapados pela cal branca que desconhecíamos.

Regresso à varanda (não á realidade) e consigo ver/ver-me com a Clarisse e o “Dioguinho” em brincadeiras com jogos inventados ou com os brinquedos do único dos três que os possuía e partilhava. Vejo o Manuel Dias e o João Barradas já homens a saírem depois do trabalho para a coletividade ou o cinema, vejo-me na casa da vizinha Constança a escolher os livros de banda desenhada (os livros de “cobóis”) que o Manuel Dias me emprestava.

Vejo e ouço os diferentes vizinhos sentados em cadeiras de bunho a cavaquear uns com os outros na noites quentes de verão enquanto nós, os mais pequenos transformávamos a varanda em território de disputas entre “ indíos e cóbois” ou em interessantes partidas de futebol em que não poucas vezes a bola “voava” para a cerca e era preciso esperar pelo dia seguinte para que o Sr. Matias, responsável pelos carreiras ou a Maria Jacinta – a cozinheira dos proprietários, abrissem o portão e nos permitissem a recolha.

E vejo ainda (tão nítido) uma mesa estendida por toda a varanda com muitos amigos à volta a celebrarem o meu casamento, nessa altura com mais uma família a morar ali e por isso na minha boda, a família Casaca, ele médico veterinário e ela professora.

Volto à realidade. Quatro décadas depois, é lindo voltar a pisar aquele chão e, mais lindo ainda, viver o Convento da Luz, reabilitado, lindo, e pronto para iniciar um novo ciclo, com novas funções, novas cores, novos espaços e novos “moradores”.

Como a generalidade dos arronchenses orgulho-me do que Arronches é. Esta obra redobra o meu orgulho. É a minha casa!

Diogo Júlio Serra