"Se o governo quer realmente enfrentar rigidezes estruturais que
comece pelo ninho de vespas que é a sua própria casa e deixe em
paz o ninho de abelhas que trabalha, produz e sustenta a
economia";
(José Bonito , gestor. In Jornal Publico de 3-dez-2024)
O presente texto chegará às vossas mãos, presumo, em vésperas de greve geral. A
décima primeira em democracia e em consonância com o direito constitucional.
Este tem sido um tema de intenso debate na sociedade portuguesa com defensores e
detratores a esgrimirem razões ou tão só as suas opções politicas face aos direitos que
os trabalhadores foram conquistando ao longo de gerações e que, no caso português a
Constituição consagra.
Lamentavelmente esta discussão tem incidido mais na greve geral convocada pelos
trabalhadores e menos, muito menos nas razões que a impõem. No caso a
apresentação por parte do governo de um novo Pacote laboral visando agravar ainda
mais as condições de trabalho e de defesa dos trabalhadores portugueses.
Greve geral e "roubo de direitos" não são novidades em Portugal.
A greve geral convocada para 11 de dezembro é a 11ª cumprida no nosso país desde
que a Revolução de Abril repôs a liberdade sindical e politica em Portugal
Greves Gerais no Portugal de Abril
Greve Data Governo
1ª 12-fev-1982 AD
2ª 11-mai-1982 AD
3ª 28-mar-1988 Cavaco
4ª 10-dez-2002 Durão Barroso
5ª 30-mai-2007 José Sócrates
6ª 24-nov-2010 José Sócrates
7ª 24-nov-2011 Passos Coelho
8ª 22-mar-2012 Passos Coelho
9ª 14nov-2012 Passos Coelho
10ª 27-jun-2013 Passos Coelho
As Leis Laborais, também elas, objeto de diversas alterações que retiram direitos aos
trabalhadores e reforçaram o poder dos empregadores, alteraram significativamente o
equilíbrio entre trabalho e capital nas relações de trabalho e desmentem claramente o
argumentário agora utilizado pelo governo e a sua ministra das "corporações".
Vejamos! A Lei 99/2023 (Pacote Laboral de Bagão Félix) é agora apresentado como
resquícios do PREC e, mesmo que entendamos Bagão Félix como um perigoso
esquerdista, esse pacote laboral já sofreu outras alterações ainda mais gravosas para
quem trabalha, num governo de José Sócrates (Lei nº 007/2009) e posteriormente
com Passos Coelho e as troikas que facilitaram os despedimentos e reduziram as
compensações aos trabalhadores. As principais mudanças incluíram a flexibilização dos
tempos de trabalho, a terminação dos contratos de trabalho e o corte de benefícios e
direitos.
É, neste contexto, que o governo dos patrões vem agora procurar arrastar-nos para o
século XIX, procurando roubar direitos sociais e humanos, abrindo portas ao sonho
patronal de despedir sem regras ou travões, reduzir salários e desarmar os
trabalhadores quer com a destruição do direito à greve quer impedindo a ação
sindical no local de trabalho.
A direita e a extrema direita agora no poder querem, também no mundo laboral,
acertar contas com o 25 de Abril e fazer-nos regressar a tempos que ainda não
esquecemos nem queremos de volta.
No Pasarón!
Diogo Júlio Serra

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