quinta-feira, 29 de maio de 2025

Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa...

 

"Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa"




As eleições que Luís Montenegro impôs ao país resultaram num vendaval imenso que varreu as posições socialistas e provocou rombos enormes nos partido à sua esquerda: o PCP perdeu um quarto da sua representação parlamentar, o BE perdeu dois terços e o grupo parlamentar. O Partido Socialista perdeu mais de 400 mil votos e 20 deputados e passou de segunda a terceira força política com assento parlamentar.

A esquerda parlamentar sofreu uma enorme derrota. Uma derrota com consequências imediatas como provou a demissão, em direto, do Secretário-geral do Partido Socialista.

A estratégia do Primeiro-ministro não lhe permitiu esconder as trapalhadas para as quais arrastou o seu governo e o país , mas acabou por resultar num reforço parlamentar da aliança que apoia o seu governo.

Não foi tudo favorável para o primeiro ministro. O 18 de maio trouxe-lhe alguns dissabores e muitas preocupações: continua a não dispor da tal maioria maior que reivindicou e viu ascender à segunda posição no parlamento, a extrema direita não democrática, que pretende substitui-lo e à sua maioria, apostando  no discurso do ódio e na mentira

O nosso distrito não ficou imune ao tornado que varreu o país. Também aqui o extremismo não democrático, convenceu o eleitorado que o transformou em força política maioritária do Alto Alentejo, elegendo um dos dois deputados em disputa e assumindo-se como vencedor em 7 dos 15 concelhos do distrito.

São factos que por demais perturbadores ou perigosos não podem ser escamoteados ou desvalorizados. É fundamental que os partidos políticos do arco constitucional assumam a derrota sofrida e procurem encontrar as razões para o sucedido e em particular para o crescimento desabrido do radicalismo não democrático, mas também, as suas próprias culpas.

A análise que urge fazer não pode ser encarada como se cada partido político fosse uma equipa de futebol e os seus responsáveis meros tiffosi de bancada. Se a estes é permitido encontrar sempre no outro, no arbitro, no anti desportivismo do adversário ou na qualidade do relvado a justificação para a derrota, aos partidos políticos e aos seus responsáveis tal não pode ser admitido mesmo sabendo que há muito de verdade, também na ação política, nos comportamentos desleais de quem devia garantir a igualdade de tratamento...

É consensual a ideia de que esta "viragem à direita e a subida dos seus mais radicais" não é um caso português, como igualmente o é a afirmação que os mesmos grupos e interesses que alimentam o crescimento da extrema-direita política e os arruaceiros fascistas pelo mundo fora são os mesmos que estimulam, apoiam e alimentam esses agrupamentos em Portugal.

Mas se análise ficar por aqui não só é poucochinho como impedirá que possamos ultrapassar o problema.

A ascensão da direita e particularmente da extrema direita trauliteira não é uma fatalidade. É uma consequência! É-o em qualquer parte do mundo. É-o igualmente no nosso país, na nossa região, na nossa terra.

A subida eleitoral do extremismo não democrático é a consequência da ganância de uns poucos e dos partidos que lhe dão "colinho". Hoje mesmo a comunicação social anunciava que os cinco maiores bancos "portugueses" tiveram nos primeiros meses de 2025 um lucro de 13 milhões de euros por dia, num tempo e num país onde a esmagadora maioria da população não tem capacidade para arrendar casa ou não consegue pagar ao banco a renda a que se obrigou a pagar.

É a consequência, como escreveu um querido amigo e militar de Abril, da arrogância, cegueira, surdez e totalitarismo dos DDT e é também consequência da nossa incapacidade, em particular dos que construíram e defendem o 25 de Abril e o regime que ele consagra, em constatar as mudanças e agir em conformidade.

E, não vale "chamar nomes feios" aos alunos. O que é preciso é percebermos (professores e educadores) as razões que os estão a impedir de aprenderem...e mudar. Não o programa, mas os métodos de ensino...

Talvez, ainda haja tempo!

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Apagões!

 



Apagões!

A última semana de Março foi marcada pelo apagão que durante mais de 8 horas levou os portugueses a recordarem ou descobrirem que há formas diferentes de (com) viver sem dependermos dos telemóveis e da televisão… Levaram-nos também a descobrir as imensas fragilidades que as dependências nos impõem acrescidas pela impreparação e mesmo incompetência que o estado português deu provas durante as horas que durou este apagão.

Mas este não foi, a meu ver, o pior apagão com que tivemos (temos) que lidar. O apagão de consciência, civismo e humanidade que é como o da electricidade, fruto da cegueira dos homens, tem tido ainda maiores e drásticas consequências.

Falo-vos de mortandades e em particular do genocídio dos palestinianos às mãos dos sionistas que comandam o estado terrorista de Israel, executado à vista de todos e com a maioria a fingir que não vê nem sabe.

Portugal (o estado português) é também aqui de uma leviandade aflitiva. Persiste em não reconhecer o Estado Palestiniano e aceita, neste caso, que o ocupante tenha em Portugal, voz e tempo de antena. Aceita e procura branquear o genocídio e assobia para o lado perante a arrogância do Sr.Benjamin Netanyahu condenado por crimes de guerra e os representantes do seu governo em Portugal: desde o inicio do ano o embaixador Oren Rozenblat e antes o Sr Don Shafira que conhecemos no nosso distrito em visitas a Castelo de Vide.

                Escrevo o presente texto quando comemoramos o Dia da Mãe. Um dia em que todos gostamos (e bem) de exortar e glorificar o papel das nossas mães.

Na televisão passa a noticia da iniciativa tomada por algumas mães na rua de Santa Catarina, no Porto, para chamarem a atenção para o assassínio de muitos milhares de palestinianos na sua grande maioria mulheres e crianças e aqui em casa, os meus netos entregam á mãe a prenda que construíram na escola e que lhe é destinada. Será assim na maioria das casas portuguesas. Pergunto-me! Será que as nossas mães, os nossos pais e os nossos filhos, todos nós, teremos a mais pequena noção do sofrimento das mulheres da Palestina, mães a quem diariamente roubam os filhos, a esperança e a vida?

                Não se pode fazer nada dizem-me alguns e o mesmo dizem os governantes portugueses e da União Europeia ou dizem outros, face à situação imposta aos Palestinianos em Gaza ou na Cisjordânia é inútil tudo o que possamos fazer!

É mais uma hipocrisia!

No que respeita ao estado Português e ao seu governo pode (já devia ter acontecido) reconhecer o Estado da Palestina ao invés de ficar amarrado à decisão do directório da União Europeia. Quanto a esta, conforme a proposta apresentada por diferentes deputados do parlamento europeu, o mínimo que se lhe exige é denunciar o acordo de comércio livre com Israel, que permite a este, isenções aduaneiras para os seus produtos e a estipular sanções económicas e politicas contra o agressor, como faz por exemplo para a Federação Russa.

Não o fazendo, continuando a branquear os crimes e a canina vassalagem ao sionismo e aos senhores da guerra U.E, e o estado Português são cúmplices e apoiantes dos criminosos, têm as mãos e o coração manchados pelo sangue das crianças e das mães de Gaza.

E, tudo o que façamos para denunciar o crime e exigir que parem a matança não é acertado e útil, pois como o meu camarada João Oliveira titula o seu artigo no avante e eu concordo: Gaza – inútil é a inacção!

 

Diogo Júlio Serra