quinta-feira, 31 de outubro de 2024

POLICIAS (?) SIM, BANDIDOS (?) NÃO!

 

POLICIAS (?) SIM, BANDIDOS (?) NÃO!



Por detrás de uma faixa com esta “palavra de ordem” marcharam no passado dia 26 pelas ruas de Lisboa, algumas dezenas de saudosistas dum passado que morreu, alguns que reconheço como bandidos e, espero, alguns outros que o não sejam de todo.

Tratou-se de uma contra-manifestação convocada pelo partido novo formado pelos do partido velho, que procura aprisionar as forças de segurança e diariamente promove políticas de ódio e de afrontamento à democracia e à Constituição que a consagra. Pretendia confrontar uma outra manifestação anteriormente convocada pelo movimento Vida Justa para pedir justiça face à morte de um cidadão efetivada por um agente da PSP.

Sem querer entrar quer na guerra dos números das manifestações, (a comunicação social falava em muitos milhares na Avenida e em três centenas junto ao Parlamento), quer na absolvição ou condenação do agente que abateu Odair Moniz e cujo inquérito de averiguações foi anunciado, não posso deixar de me surpreender por ter sido autorizado a um grupo de arruaceiros, convocar e realizar uma manifestação para o mesmo dia, hora e local de conclusão para os quais já havia sido convocada uma outra, tanto mais que pelos objetivos de cada uma e pela “dramatização” que a comunicação social vinha anunciando era espectável a ocorrência de confrontos.

Ao que nos é dado saber foi a clarividência do movimento Vida Justa ao decidir alterar o local de termo da sua manifestação quem desmontou a previsibilidade de confrontos e tornou menos difícil o papel das forças de segurança na manutenção da da ordem pública.

Este movimento que sob a bandeira “ Sem Justiça não há paz” mobilizou milhares de pessoas podia, é a minha opinião, transportar também a faixa passeada pelos saudosistas até à escadaria do Parlamento. Na verdade quem ali estava mobilizado para exigir justiça e escrutínio sério aos acontecimentos que levaram a que um cidadão fosse abatido por um agente da PSP poderia perfeitamente ter como palavra de ordem Policias Sim, Bandidos Não!

Eu próprio não hesitaria em pegar nessa faixa tendo apenas que precisar melhor o que para mim significam cada uma das palavras ali registadas.

Vejamos:

“Policias Sim!” Claro. Agentes duma polícia democrática e respeitadora da Constituição, com preparação e meios necessários para garantir a segurança de todos, eles incluídos, sem estarem manietados por preconceitos, sejam ditados pela sua formação ou pelas práticas da instituição onde se inserem.

“Bandidos Não!” Claro que subscrevo. Todos os bandidos estejam onde estiverem, tenham a cor que tiverem, estejam nos bairros superlotados e desprezados das periferias das grandes metrópoles, em intervenções no espaço mediático a exortarem à violência e ao assassínio, ou aboletados por detrás do Pano com que alguns desfilaram entre a Praça do Município e o Parlamento.

Sabemos agora (estou a escrever mais de 24 horas depois do termo de ambas as manifestações) que estas decorreram de forma pacífica e ordeira. Ainda bem. Mas fica a mensagem deixada quer pelos organizadores das manifestações quer pelo poder politico. De responsabilidade (do movimento), de irresponsabilidade (dos organizadores da contra-manifestação) e de “desleixo”? de quem não cuidou de evitar (preventivamente) possíveis confrontos.

Agora é o tempo para que se desenvolvam os inquéritos ao que aconteceu, se apurem responsabilidades e se faça justiça e, mais importante ainda, que se tomem as medidas que permitam a todos os portugueses as condições mínimas necessárias a vivermos com dignidade.

Diogo Júlio Serra

 

 

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Travar o terrorismo é missão de todos nós.

 




Travar o terrorismo é missão de todos nós.


O Terrorismo de Estado é seguramente uma das faces mais hediondas deste método de fazer a guerra.

Ela é tanto maior quanto for a desproporção dos meios entre vítimas e opressores e deve, (deveria) merecer o repúdio e o combate de todos, pessoas, instituições e países independentemente do espaço que ocupam, dos credos e ideologias que professam, das alianças político-militares que integram ou aspiram integrar.

Quem olha para o lado para não ver, quem (pessoas e organizações) consegue medir de forma desigual atrocidades idênticas, quem é cúmplice pelo silêncio ou por ações de apoio material e moral não pode ser tratado de forma diferente dos que materialmente desenvolvem ações terroristas.

O genocídio do povo palestino e o arrasar das suas cidades, monumentos e símbolos, o atear deliberado da guerra em todo o médio oriente e o procurar generalizá-la por todos os continentes é um crime repugnante que deveria merecer uma profunda censura e geral condenação por parte da comunidade internacional.

Não é isso a que assistimos para com o Estado de Israel e os terroristas que o controlam. Não é, também, essa a postura para quantos lhe garantem o “colinho”, lhe fornecem armamento que usam no genocídio dos palestinianos, nas ações terroristas em todo o território que ocupam e no levar da guerra aos países limítrofes sejam o Líbano, a Síria ou o Irão. Bem pelo contrário. O chamado ocidente alargado (nome inventado para dizer Estados Unidos da América e seus satélites) não se limita a olhar para o lado face aos atos ilegais e desumanos de Benjamin Netanyahu e das suas gentes, incentiva, protege e arma mesmo quando face à gravidade dos crimes tem de dizer em publico coisa diferente do que faz.

E é esse “colinho” dado pelo Tio Sam que permite a Israel, ao seu governo e ao seu exército assassinar mulheres e crianças (quase 50 mil em Gaza), na Cisjordânia, no Líbano, na Síria e no Irão, ou, pasme-se atacar militarmente as forças das Nações Unidas e declarar “persona non grata” o seu Secretário-Geral, no caso o nosso conterrâneo António Guterres.

Também aqui, os sempre tão sensíveis apoiantes da “democracia” anichados numa “tal de União Europeia” não vislumbram qualquer ato censurável: quais TPIs, quais mandados de captura internacional, quais sanções ao país e aos seus mandantes? Por maiores e mais hediondos que sejam os crimes praticados não só não há censura como continuam os fornecimentos de armamento usado para o genocídio e o conforto moral nos areópagos internacionais.

Em todo este processo a postura do Estado Português é ilustrativa dos valores que o norteiam e da total subordinação a interesses e ditames que nada tem a ver com o interesse nacional.

Vejamos:

Continua a não reconhecer o Estado da Palestina, não só não condena a postura terrorista de Israel como lhe fornece armamento, continua a apoiar a ocupação da Palestina e o genocídio dos palestinianos.

O Estado português tão lesto a reconhecer os heróis que lhes impõe o imperialismo não tem coragem para levantar um dedo (ou um grito) para apoiar o Secretário-Geral da ONU, cidadão português e ex-primeiro-ministro destratado pelo governo sionista de Israel.

Seria assim se fosse um dirigente russo, ou venezuelano, ou chinês, ou cubano, ou… possivelmente não e não o seria pelas qualidades ou defeitos de cada um. Não o seria porque assim lho teriam ordenado as senhoras von der Leyen ou os Tios Sam deste mundo.

Até quando?

 

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

SETEMBRO, MÊS DE TODOS OS MALES?

 



Setembro, mês de todos os males?

Quando este meu texto estiver nas mãos dos leitores do “nosso” alto Alentejo já teremos passado quer o equinócio do outono, quer o nono mês do calendário que adoptamos. Terão por isso sido ultrapassadas as muitas datas que anualmente assinalo com tristeza, umas, alegria outras e, até, algumas com um duplo sentimento de dor e alegria.

Permitam-me que exemplifique. Em cada ano setembro começa em alta, para mim e milhares de outros que habitualmente rumam para a Terra dos Sonhos a edificar ou a usufruir a Festa do Avante. Uma festa que é muito mais que uma grande manifestação politica e ideológica do partido que a promove é, como este ano voltou a mostrar, uma festa para todos, todos, todos.

Mas porque a Festa são três dias de imediato se apresentam as datas que nos recordam o que de pior o homem pode ser. Com a chegada do dia 11, dia em que a barbárie se fez sentir em vários pontos do mundo, Em 1973 com o golpe fascista de Pinochet que afogou em sangue o sonho de todo um povo que em redor de Salvador Allende acreditou ser possível construir um Chile de progresso e paz e em 2001 com o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center. Uma e outra destas “efemérides” continuariam a matar muito para além das datas citadas.

E chegou o equinócio de outono arrastando consigo recordações de má memoria para os alentejanos. A 27 de setembro de 1979, no Escoural, dois operários agrícolas, Caravela e Casquinha, eram assassinados a tiro, por uma força da GNR, quando procuravam defender o fruto do seu trabalho, Um crime brutal a mando de um ministro apostado em restabelecer o latifúndio.

Recordo que também a nossa cidade não se alheou da onda de repúdio que este duplo assassinato suscitou. Portalegre assistiu a uma das maiores manifestações aqui realizadas, manifestação em silêncio que partiu do Rossio e terminou frente ao Governo Civil e com os comerciantes a cerrarem as portas à sua passagem como se do verdadeiro funeral se tratasse.

 No dia a seguir no mês mas cinco anos atrás Portugal havia sentido e derrotado uma das primeiras tentativas de Spínola na Presidência da Republica, travar pela força a marcha da Revolução. Era a maioria silenciosa, principescamente paga para colocar o general do monóculo como caudilho de país autocrático que a sua desmedida ambição impunha.

O golpe, mais um, foi derrotado mas num tempo em que alguns procuram reescrever a história transformando heróis em implicados de Abril e terroristas em heróis e democratas importa que recordemos os objetivos dos golpistas encabeçados por Spínola.

·         Organizar até 31 de outubro um referendo destinado à aprovação de um projeto de Constituição provisória e adiar as eleições para novembro de 76

·         Acabar com o MFA – Movimento das Forças Armadas, ficando o Presidente, ele, com o poder supremo das forças armadas.

·         O Presidente da Republica, ele próprio, ficaria com competência de nomear e exonerar livremente o primeiro-ministro e os ministros.

Foram derrotados e a Revolução pode continuar e, também por isso, o 28 de setembro é para mim, em cada ano, assinalado com um misto de tristeza e alegria. Tristeza por não terem, os vencedores, sabido aprofundar essa vitória. Alegria por ter sido possível travar mais essa tentativa golpista e por eu próprio com muitos outros termos podido participar nas barreiras que também no nosso distrito desmontaram a golpada.

Outros golpes e outras intentonas se foram sucedendo com estes ou outros protagonistas, com maior violência e sucesso mas o importante é que apesar de tudo a Revolução aí está. Adiada é certo, mas viva e capaz de retomar o caminho que iniciou e a Constituição da Republica acolhe.

Setembro terminou. Que viva Abril!

Diogo Júlio Serra