quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

EN TEMPO DE TRANSIÇÃO

 


EM TEMPO DE TRANSIÇÃO

Escrevo nas últimas horas de 2023 o texto que só vos chegará nos primeiros dias de um próximo ano. É o tempo de transição entre o “velho” e o “novo”. O fim de um “annus  horribilis” e o início de uma nova oportunidade.

Quando quase mecanicamente desejamos ao outro “Feliz Ano Novo” limitamo-nos, por norma, a cumprir um ritual. Viramos uma página do calendário, embriagamo-nos de festarolas e apressamo-nos a cometer os mesmíssimos erros que condenaram o ano findo.

E como estamos, todos, carentes de uma oportunidade nova, como importava que entendêssemos o Novo Ano como uma oportunidade de fazer diferente, de fazer melhor.

Quando aos primeiros minutos do ano que para cada um de nós começa ali, na histeria coletiva com que tentamos esconder o óbvio e desejamos a nós mesmos e a cada um dos que nos rodeiam um Ano Melhor, não nos preocupamos, nem por um instante a tentar perceber o que faríamos de diferente para conseguir tal desejo.

No frenesim do momento muitos esquecem que nos despedimos de um Ano cujos maus resultados ultrapassaram as nossas piores expectativas: um mundo devastado pelas guerras que o ódio e a ganância impuseram por todos os continentes; um Planeta à beira do colapso ambiental, com o capital a manter-se cego e surdo, face ao aproximar galopante do ponto de não retorno.

No nosso território, País e Região, foi um ano de regressão social e do desbaratar de oportunidades. Oportunidades políticas com o Partido Socialista a fazer da sua maioria absoluta um instrumento de sobressalto e um veículo de aceleração das políticas de classe sonhadas à direita mas que este executou transvertidas de esquerda e cujas consequências estão à vista com o agudizar e multiplicar de crises na saúde, no ensino, na habitação, nos transportes, nos apoios sociais aos mais fragilizados e no empurrar para a pobreza muitos milhares de trabalhadores que, apesar de trabalharem não conseguem fazer face às despesas do dia-a-dia.

Regressão e desbaratamentos cujos resultados adquirem no Alto Alentejo uma ainda maior dureza fruto da nossa própria fragilidade e da disseminação dos erros, incompetências e “crimes” levados a efeito pelas várias extensões do Poder Central sob o alheamento cúmplice das estruturas locais dos mandantes nacionais.

O resultado é dramático e pode ser ilustrado com uma única situação: O círculo eleitoral de Portalegre, o menor de todos eles e que só elege dois deputados, tem agora ainda menos eleitores que nas eleições de há dois anos e claro, menos cidadãos residentes.

Um Novo Ano é sempre um renovar de esperança. Em 2024, para o país e para a região, mais que esperança é uma oportunidade que não podemos desbaratar.

Arrastados para uma crise politica pelos que conseguiram transformar uma maioria parlamentar num constante viveiro de problemas e de instabilidade, temos agora a possibilidade de arrepiar caminho: condenar nas urnas quem deu sobejas provas de não honrar a palavra dada, quem nos conduziu para o desastre.

E não vale a pena limitarmo-nos à condenação de quem desbaratou a nossa confiança. É fundamental que não os substituamos por outros que serão diferentes, na intensidade e na velocidade com que nos empurrarão paro o caos.

Dois mil e vinte e quatro só será oportunidade e mudança se conseguirmos, desta vez, despir-nos do preconceito e da cegueira ideológica e dermos uma oportunidade a nós próprios elegendo quem está, nas boas e nas más horas, na nossa rua, no nosso emprego, na nossa vida, sempre ao nosso lado.

É difícil encontrá-los? Olhe que não! Dispa-se de preconceitos, rebobine o filme com as posturas dos vários partidos na Assembleia da República, recorde o que foram as promessas eleitorais em 2015 e as práticas desenvolvidas.

Façamo-lo, a hora é de coragem!

Diogo Júlio Serra

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