Entre a
“Geringonça” e o Lamaçal!
“Uma maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho…É uma
responsabilidade acrescida, é governar para todos os portugueses. Assim, esta
maioria absoluta será uma maioria de diálogo com todas as forças da Assembleia
da República”
Passados treze meses do derrube do
governo, que a direita revanchista chamava de “geringonça”, levado a cabo pelo
próprio primeiro-ministro e pelo seu presidente da república e quase a
atingirmos um ano do acto eleitoral que concedeu a maioria absoluta ao partido
socialista o país vive “atolado em notícias de desmandos governamentais”, com
demissões no governo ao ritmo superior a uma demissão por mês.
Alguém ainda se recorda das razões
invocadas (e penso que negociadas) por Costa e Marcelo para justificarem a
dissolução de uma Assembleia com maioria parlamentar e governo em funções e
partirem para novas eleições? Possivelmente não! Mas o invocado era,
diziam-nos, a necessidade de estabilidade governativa e, por isso, Costa e o PS
reclamaram dos eleitores uma maioria absoluta.
Os eleitores fizeram-lhes a vontade e
António Costa apressou-se a afirmar-nos, conforme citação acima, que uma
maioria absoluta não é poder absoluto…
Os resultados vemo-los agora.
O Governo assumiu-se como campeão das
remodelações somando demissões em cadeia. Entre ministros e secretários de
estado já lá vão (à data em que escrevo) 13 demissões e são anunciadas outras
mais escandaleiras que podem vir a fazer subir estes números.
Os esquecimentos de muitos (demasiados)
do que devem ser, quer a ética republicana, quer a gestão da coisa pública está
a tornar-se uma “chaga” que vai muito para além das trapalhadas dos membros
“escolhidos” para o governo Central e espraia-se para autarcas e gestores públicos,
identificados pela sua ligação ao “Centrão” da política e das negociatas. O
mesmo centrão que suporta e apoia o governo do PS e/ou apoia Marcelo enquanto
“representantes políticos desse mesmo “Centrão”.
Hoje já está suficientemente claro o
que há pouco mais de um ano, só alguns denunciávamos: o chumbo de um mau
orçamento de estado impunha um orçamento melhor e não uma crise institucional.
A dissolução do Parlamento só se justificava para tentar manter em maioria o “centrão”
das negociatas, liberto das amarras que o escrutínio da esquerda lhes ia
impondo.
E assim, à falsamente apelidada de
“geringonça” sucedeu o lamaçal e, tão mau quanto o primeiro, abriu portas a
práticas de criminalização da política, à generalização a todos, das práticas e
crimes de só alguns: …”são todos iguais, a política é mesmo assim… a culpa é
dos partidos… o que é preciso é alguém…para os meter na ordem…etc…etc….”
Uma parte da comunicação social, ela
própria, propriedade e arma do “tal Centrão” afadiga-se a lançar essas ideias
do que é preciso é de um “salvador” enquanto a “extrema-direita caceteira” leva
para o próprio Parlamento a gritaria fascizante que utilizaram para serem
eleitos e toda a direita procura “normalizar-lhes” o discurso e as intenções.
Não há problema, dizem-nos alguns.
Não?
Eu não esqueço os processos iguais
usados (pelos mesmos) noutras paragens e os resultados que alcançaram.
Apenas dois exemplos, muito recentes:
As mani pulite (mãos limpas) em Itália
terminaram em Silvio Berlusconi e o processo Lava Jato em Bolsonaro.
Não o esqueçamos!
Diogo Júlio Serra