É Justo e necessário … o aumento
do salário!
Os Patrões portugueses, o seu
Governo e a sua secção (anti) sindical assinaram um “papelucho” contendo as
orientações para o empobrecimento do país e a intensificação do assalto aos
direitos dos trabalhadores.
Apelidaram-no de Acordo de
Médio Prazo de Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade e
ordenaram aos seus megafones, disfarçados de órgãos de informação, que o gritem
até à exaustão.
Sabem bem que não o é mas usam este título como usam
muitas palavras que tornaram “moda”: enganar os menos avisados, retirarem
direitos, empobrecerem quem trabalha, continuar a multiplicação dos lucros.
Os referenciais propostos pelo Governo fazem
com que no final de 2023, se tenha um menor poder de compra do que aquele que
os trabalhadores tinham em 2021. Propor 5,1% de crescimento salarial, quando a inflação
acumulada em 2022 e 2023 é superior a 11%, não é aumento é empobrecimento!
Acresce ainda que os aumentos no sector
privado não se fazem por decreto. É a contratação colectiva que fixa os
salários e o Governo persiste em manter a norma da caducidade e continuar a
negar a reintrodução plena do princípio do tratamento mais favorável, mantendo
os bloqueios que permitem a chantagem patronal, impede a concretização do
objectivo da valorização dos salários na contratação colectiva.
Escrevo este texto no dia em que os trabalhadores
portugueses decidiram levar à rua o seu protesto face às tentativas do governo
e daqueles a quem serve, em retirarem não só os direitos de quem trabalha mas
também os instrumentos necessários à sua conquista e defesa.
A poucas horas de desfilarem nas ruas do Porto e de
Lisboa, os trabalhadores portugueses e as suas justas reivindicações vejo-me e
vejo-os em Lisboa a chegarem ao local de concentração trazendo nos olhos o
sonho e no coração a vontade de defenderem o que foi duramente arrancado ao
grande capital e aos seus governos.
Quando já se fazem ouvir as palavras de ordem e as
faixas começam a ser estendidas, quando a praça se enche de firmeza e
convicções volto a questionar-me sobre as razões que podem levar um governo que
ainda gosta de se afirmar de esquerda, a pactuar com o assalto aos direitos e
às condições de vida de quem vive do seu trabalho ou da sua reforma?
A meu lado alguém grita. “Ladrões, querem roubar-nos
tudo! Uma afirmação forte, movida, talvez por algum desespero. Será? Quando um
repórter questiona um manifestante com o facto de o “acordo” ter sido assinado
pela UGT (em representação dos trabalhadores, afirmou.) a resposta saiu
ligeira: É tudo farinha do mesmo saco e pagos do mesmo bolo. Os trabalhadores e
os seus sindicatos estão aqui. Vamos afirmar o que pensamos e o que queremos,
hoje, aqui e no Porto. Amanhã e nos outros dias em cada local de trabalho em
cada canto de Portugal.
Ainda esbocei a intenção de lhes chamar a atenção
para com as palavras usadas, Ladrões, querem roubar-nos tudo… mas de imediato
desisti. Porque não convenceria ninguém, porque eu próprio não estava, nem
queria ser, convencido:
- Quando nos tiram pela força o que é nosso e nos
faz falta, como o definimos? ROUBO!
- Quando esse roubo é praticado por pessoas ou
organizações, como os definimos? LADRÕES!
- Quando num roubo não se arrombam portas ou janelas,
antes se paga a alguém que a partir de dentro lhes abra a porta e fique de
vigia para avisar se “vem alguém”, como chamamos a tal gente? Traidores e
igualmente Ladrões porque, diz o povo na sua imensa sabedoria, tão ladrão é o
que rouba como o que fica a vigiar!
Foi ainda comigo envolto nesses pensamentos que se
iniciou o desfile. Ao escutar as palavras de ordem gritadas pelos
manifestantes: “ É urgente e necessário o aumento do salário!”, “ Pobreza em
Portugal é vergonha nacional!”, “direitos conquistados, não podem ser
roubados!” dei comigo a pensar das razões que levaram à dissolução da anterior
Assembleia, das vantagens, para uns, e desvantagens, para outros do fim do
espartilho que a esquerda colocava aos amantes do sistema capitalista e a
quantos vivem para servir os , sejam estes emanados dos diretórios nacionais ou
internacionais.
Na verdade, sem o fim do compromisso da esquerda e
do PS na Assembleia da República, não seria possível ao capital recuperar as
posições perdidas, não seria possível aos muitos que viveram tais momentos com
tristeza, venerar o “Deus Capital” e os seus oráculos estejam eles na Casa
Branca ou Bruxelas, tenham como pitonisa a Nato, a U.E ou …Marcelo.
Aa maiorias dão estabilidade! Pois… a quem?
Diogo Júlio Serra