Liberdade para obedecer ou decidir?
“A essência da liberdade, tal como a
entendemos, é a liberdade do outro, de escrever, desenhar, pintar, representar,
filmar aquilo com que não concordamos, aquilo que consideramos ofensivo, de mau
gosto, insensato, mesmo vil e nojento. Esta é a nossa concepção de liberdade, a
liberdade de dissídio, do dissent, que, como tudo no mundo, não nasceu da
natureza mas de uma história cultural, política e civilizacional que cada um
escolhe e deseja como quer.”
O
texto com que abro este ‘escrito’ foi retirado de um artigo que Pacheco Pereira
publicou no Público de 9 de fevereiro de 2006, com o título “Mais vale verdes
que mortos” e que associava o que apelidava de cedência face a algumas
religiões com a postura italiana de então, face ao poder crescente da União Soviética.
Num tempo em que a comunicação social escrita, ouvida e
lida pede meças com a histeria instalada nas redes sociais na crucificação de
qualquer voz que se apresente discordante com a narrativa escrita e divulgada
pelas diferentes ditaduras que dirigem o mundo. Situem-se elas na Europa, na
América, na Ásia ou em África e actuem diretamente ou através de capatazes
colocados por voto ou a tiro ao comando das nações, importa revisitar esta
frase e, particularmente, meditar sobre o que entendemos, hoje, como liberdade.
Quantos dos que no plano das ideias se reveem neste texto
de JPP e quantos dos que se reveem neste conceito de Liberdade, a defendem no
seu quotidiano.
E isto a propósito dos equívocos, dos enganos e dos ódios
que a guerra entre grupos opostos do sistema capitalista fez retornar à Europa.
Não me refiro àquilo que alguns resistem em apelidar de
ditadura só porque o sistema lhes permite a falsa esperança de virem a
beneficiar do ‘bolo’ que todos confeccionamos e só alguns saboreiam ou a todos
quantos medem a ditadura ou a liberdade apenas pelo grau de autorização que
lhes concedem para serem megafone ou guarda dos que verdadeiramente decidem.
Falo das ‘élites’ auto-nomeadas que santificam a ‘liberdade de expressão’ sem
cuidarem de pensar ou perceber que não há liberdade sem pão como o pão sem
liberdade não é mais que o satisfazer de uma necessidade de sobrevivência.
No nosso país, como na europa e no mundo, existem
demasiados consumidores de sonhos, falsidades e de ódios e muito poucos (é a
minha opinião) disponíveis para assumirem serem difusores e praticantes deste
conceito de liberdade que JPP escreveu e que eu (em parte) me revejo.
Apenas em parte porque sou dos que entendem, defendem e
aplicam que só “há liberdade a sério quando houver/o pão, a paz, saúde,
habitação…” mas ainda assim muito disponível para procurar compreender o outro.
Para não concordando estar disponível a com ele defender o direito a
discordarmos.
Num tempo em que as “ditaduras reinantes” se afadigam em
impedir-nos de pensar e persistem em fazer-nos esquecer tudo o que aprendemos:
seja o saber ler e saber o que lemos, seja a capacidade de “pôr freio no preconceito
social e ideológico” em que fomos educados. É o tempo de procurarmos pontes em
vez de muros e compreendermos que são as tentativas de arrumação e
sobrevivência de um sistema que como todos os que o antecederam terá um fim que
ditam, agora, o retomar e ampliar das guerras com todos os sacrifícios que
arrastam.
São os senhores da guerra e do Capital. Expressem-se eles
em russo, inglês, ou qualquer outro dialecto. Não devemos esquecê-lo. Mesmo os
que teimamos em apelidar de democracia este sistema em que uma minoria impõe a
sua vontade à esmagadora maioria dos indivíduos a quem controla/governa.
Sou dos que não desistem de procurar outros caminhos.
Sejamos cada vez mais.
Diogo Júlio Serra.
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