sábado, 16 de julho de 2022

LIBERDADE PARA OBEDECER OU DECIDIR?

 

Liberdade para obedecer ou decidir?



 

“A essência da liberdade, tal como a entendemos, é a liberdade do outro, de escrever, desenhar, pintar, representar, filmar aquilo com que não concordamos, aquilo que consideramos ofensivo, de mau gosto, insensato, mesmo vil e nojento. Esta é a nossa concepção de liberdade, a liberdade de dissídio, do dissent, que, como tudo no mundo, não nasceu da natureza mas de uma história cultural, política e civilizacional que cada um escolhe e deseja como quer.”

O texto com que abro este ‘escrito’ foi retirado de um artigo que Pacheco Pereira publicou no Público de 9 de fevereiro de 2006, com o título “Mais vale verdes que mortos” e que associava o que apelidava de cedência face a algumas religiões com a postura italiana de então, face ao poder crescente da União Soviética.

Num tempo em que a comunicação social escrita, ouvida e lida pede meças com a histeria instalada nas redes sociais na crucificação de qualquer voz que se apresente discordante com a narrativa escrita e divulgada pelas diferentes ditaduras que dirigem o mundo. Situem-se elas na Europa, na América, na Ásia ou em África e actuem diretamente ou através de capatazes colocados por voto ou a tiro ao comando das nações, importa revisitar esta frase e, particularmente, meditar sobre o que entendemos, hoje, como liberdade.

Quantos dos que no plano das ideias se reveem neste texto de JPP e quantos dos que se reveem neste conceito de Liberdade, a defendem no seu quotidiano.

E isto a propósito dos equívocos, dos enganos e dos ódios que a guerra entre grupos opostos do sistema capitalista fez retornar à Europa.

Não me refiro àquilo que alguns resistem em apelidar de ditadura só porque o sistema lhes permite a falsa esperança de virem a beneficiar do ‘bolo’ que todos confeccionamos e só alguns saboreiam ou a todos quantos medem a ditadura ou a liberdade apenas pelo grau de autorização que lhes concedem para serem megafone ou guarda dos que verdadeiramente decidem. Falo das ‘élites’ auto-nomeadas que santificam a ‘liberdade de expressão’ sem cuidarem de pensar ou perceber que não há liberdade sem pão como o pão sem liberdade não é mais que o satisfazer de uma necessidade de sobrevivência.

No nosso país, como na europa e no mundo, existem demasiados consumidores de sonhos, falsidades e de ódios e muito poucos (é a minha opinião) disponíveis para assumirem serem difusores e praticantes deste conceito de liberdade que JPP escreveu e que eu (em parte) me revejo.

Apenas em parte porque sou dos que entendem, defendem e aplicam que só “há liberdade a sério quando houver/o pão, a paz, saúde, habitação…” mas ainda assim muito disponível para procurar compreender o outro. Para não concordando estar disponível a com ele defender o direito a discordarmos.

Num tempo em que as “ditaduras reinantes” se afadigam em impedir-nos de pensar e persistem em fazer-nos esquecer tudo o que aprendemos: seja o saber ler e saber o que lemos, seja a capacidade de “pôr freio no preconceito social e ideológico” em que fomos educados. É o tempo de procurarmos pontes em vez de muros e compreendermos que são as tentativas de arrumação e sobrevivência de um sistema que como todos os que o antecederam terá um fim que ditam, agora, o retomar e ampliar das guerras com todos os sacrifícios que arrastam.

São os senhores da guerra e do Capital. Expressem-se eles em russo, inglês, ou qualquer outro dialecto. Não devemos esquecê-lo. Mesmo os que teimamos em apelidar de democracia este sistema em que uma minoria impõe a sua vontade à esmagadora maioria dos indivíduos a quem controla/governa.

Sou dos que não desistem de procurar outros caminhos. Sejamos cada vez mais.

Diogo Júlio Serra.

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