MAIO, MADURO
MAIO…*
Dia 27 de
Maio, por todo o país e incluindo todos os setores de atividade os
trabalhadores voltam à rua para reafirmarem as exigências do 1º de Maio de
Trabalho digno e com Direitos pelo aumento dos salários e das pensões pelo
direito à contratação coletiva e pela jornada de trabalho semanal de 35 horas
para todos os trabalhadores.
E porque, como
não se cansam de afirmar o aumento do salário é (de facto) justo e necessário,
exigem, e com razão, o aumento do salário mínimo para níveis que garantam um
mínimo de dignidade mas também, que ele empurre em vez de absorver os salários
superiores de forma a inverter a tendência de esmagamento do salário médio.
Em 2022, 136 anos
depois dos acontecimentos de Chicago e 60 anos depois da conquista das oito
horas nos campos do Alentejo e Ribatejo continuam a ser os salários dignos e a
redução dos horários de trabalho as bandeiras desfraldadas pelo movimento
sindical em praças e avenidas de todo o país.
Como sempre,
desde que a classe trabalhadora assumiu a luta pelos seus direitos, não lhes
faltará quer o apoio dos seus representados quer a censura dos que continuam a
entender os trabalhadores como peças descartáveis na sua sede de lucros. Não
faltarão ainda os que por desconhecimento ou cegueira ideológica continuarão a
ver justeza nas reivindicações mas impossibilidades de concretização pelas mil
e uma razões que o capital lhes vendeu e vende.
Importa pois,
partir para o debate e ganhar a sociedade para a justeza da exigência de
trabalho digno e com reposição de direitos.
O apoio da
classe trabalhadora é não só esperado como da maior justiça tanto mais que as
reivindicações correspondem a uma necessidade por todos reconhecida, face à
perda de poder de compra dos salários. Situação que se vem agravando na última
década.
Também a
censura de quantos persistem em ver os trabalhadores como peças do (seu)
mecanismo de multiplicação de lucros não será surpresa. Como também não o serão
as posições marcadas pelos medos semeados pelos próprios detentores do capital
ou pelos seus megafones de serviço na comunicação social ou até entre a classe
trabalhadora.
É para estes últimos, para os que por medo ou traição se posicionam contra a justeza das reivindicações e das lutas necessárias à sua concretização, que deverá ser canalizado o esclarecimento e a persuasão. E não será difícil mostrar-lhes que as reivindicações apresentadas pelos trabalhadores portugueses no 1º de Maio e renovadas no próximo dia 27 são não apenas justas e necessárias mas também possíveis de satisfazer.
O gráfico acima da autoria do economista Eugénio Rosa mostra-nos a evolução da distribuição da Riqueza Produzida entre o capital e o trabalho. Um olhar, por menos atento, notará de imediato que independentemente da evolução da riqueza produzida ela é injustamente distribuída: os trabalhadores receberam em 2019, sob a forma de “ordenados e salários” 35% do PIB enquanto para os donos do capital reverteu em “excedente bruto da exploração” 41% do PIB.
É uma trajetória que tem vindo a ser agravada. Entre 2008 e 2019, a parte do Trabalho no Produto Interno Bruto, diminuiu de 36,5% para 35% enquanto a do Capital aumentou de 40,6% para 41%
O problema, é
já de um problema nacional que se trata, não pode ficar mais tempo sem solução.
A perda acentuada do poder de compra dos salários e o esmagamento dos
rendimentos dos trabalhadores mais qualificados (que incorretamente gostam de
apelidar de classe média) está a colocar problemas em cadeia e que ultrapassam
em muito a tragédia que significa em Portugal empobrecer-se a trabalhar.
Atente-se que
são os trabalhadores qualificados do público e do privado os que “alimentam” as
economias locais e têm sido esses os que têm sofrido as maiores perdas nas
últimas décadas.
O exemplo da Função pública aqui ilustrado com a tabela de evolução salarial dos Assistentes Técnicos é ilustrativo da perda de poder de compra dos salários, do esmagamento do salário médio e da passagem a um país de salário mínimo.
Uma situação
que coloca problemas gravíssimos à gestão dos recursos humanos das empresas
onde já coexistem trabalhadores com décadas de experiência e altas
qualificações com recém admitidos, unidos pelo salário mínimo ou muito próximos
desse patamar.
São estas as
razões que justificam a luta.
É Justo e
Necessário o aumento do salário.
Diogo Júlio
Serra
*publicado no Jornal do Alto Alentejo (sem os gráficos)