Um hino à
amizade
No passado sábado participei numa
iniciativa convocada pelo Movimento “Não podem ser sempre os mesmos a pagar” destinada
a fazer publica demonstração do descontentamento face aos brutais aumentos dos
preços, que agora com a desculpa da guerra, nos estão a empobrecer em passo
rápido e a exigir medidas que permitam o alívio em vez da sobrecarga aos
trabalhadores e restante população mais desprotegida.
Na moção lida e aprovada no final
da iniciativa constatei com agrado que a mesma confirmava um profundo
conhecimento da situação que está a flagelar os trabalhadores e as populações e
não deixava de registar outras vítimas da carestia que sob a “desculpa” da
guerra os especuladores continuam e intensificam as políticas que já haviam
desenvolvido em tempos de pandemia para engrossarem com a desgraça alheia, os
cofres e o poder do capitalismo.
Que a “culpa” do que já estamos a
viver e do que ainda está a caminho, não é da Guerra mas sim do Capitalismo
ficou ali claramente registado como igualmente ficou que a própria guerra é ela
também uma consequência do Capitalismo.
A moção aprovada (também por mim)
exige entre outras medidas a redução do IVA dos combustíveis, que os lucros
escandalosos que as grandes empresas, das petrolíferas às cadeias alimentares,
estão a registar sejam canalizados não para dividendos aos acionistas mas para
um fundo que permita fazer face aos custos da energia.
E foi no decorrer dessa
iniciativa de protesto e exigência quando com outros participantes comentava a
presença, ali, de dirigentes e ativistas do PCP que constatámos o significado e
justeza da palavra de ordem que estes não se cansam de afirmar - ” a teu lado,
todos os dias ”.
Claro que constatámos também a
dificuldade de alguns desligarem das motivações que vão do medo e do
preconceito à cegueira ideológica e persistirem em não ver quem ganha e quem
perde com os contextos onde nos enredam sejam eles a pandemia, as catástrofes
“naturais” ou a guerra.
Ontem mesmo, no momento em que se
iniciava a marcha de protesto, alguns que à partida concordam com a necessidade
de travar os aumentos da energia e dos combustíveis mediam a iniciativa não
pelos objetivos anunciados mas pelo posicionamento politico-ideológico de
alguns participantes.
Percebi ali a enorme dificuldade
em defender a verdade face ao preconceito e os muros que se erguem à perceção
de que gestos e posições a favor da Paz mas recusando esquecer o que as origina
não são necessariamente a favor de um qualquer dos contendores.
E compreendi, como e porquê, a
recusa de parlamentares europeus em aceitarem baixar o IVA no armamento quando
se recusa baixá-lo na energia e nos combustíveis, pode ser divulgado como
recusa a defender a paz e de apoio a quem ordenou uma invasão militar.
Entretanto também no passado fim-de-semana os
Europeus ficaram a saber que ser a favor da Paz é retomarem práticas há muito
entendidas como do passado e que os colonialistas sempre praticaram nas “suas”
propriedades: a obrigação de comprarem nas lojas do patrão os bens que este
disponibilizava a preços que ele próprio impunha e que em muitos casos
significava entregar-lhe a totalidade da “féria” e ainda ficar em dívida.
Como todos ficámos a saber os
Estados Unidos e a União Europeia assinaram um acordo que preconiza que os
Estados Unidos fornecerão o gaz liquefeito à União Europeia a um preço que
dizem-nos será apenas…oito vezes mas caro do que o preço até agora cobrado
pelos Russos.
Ainda bem que são nossos amigos!
Diogo Serra
(publicado no Jornal do Alto Alentejo de 30-3-2022