quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O (novo/a) REI SOL!

 


Le soleil c’ est moi!

A afirmação com que titulei o presente texto é atribuída a Luís XIV, rei de França do Século XVII e considerado pelos historiadores como o expoente máximo do absolutismo.

A frase veio-me à memória ao ler a declaração de voto apresentada pela Sra. Presidente da Câmara Municipal de Portalegre na reunião de 13 dezembro e a sua afirmação de que foi ela e não o partido por quem se apresentou e é dirigente, o PSD, quem ganhou as eleições que lhe garantiram a presidência que detém.

A frase não pode ser retirada do contexto, dir-me-ão. A Presidente de Câmara queria tão só ressaltar que não fora a CLIP (de quem procura apoio para governar) mas a Dra. Adelaide Teixeira quem perdeu (para ela) a Câmara Municipal da cidade capital do distrito.

Será assim? Posso acreditar, mas o que de imediato me veio à memória foram os “reinados” de outro “rei sol” que abandonou o barco quando este ameaçava naufragar e que fora, recorde-se, eleito pelo mesmo PPD que agora (parece) ser rejeitado pela Presidente de Câmara em exercício.

Mais, o que restou da gestão desse outro “Luís XIV” e da “regente” que deu seguimento a essa governação “absolutista” foi a total paralisação da cidade e do concelho, com a “natural” perda de gente e de qualidade de vida dos que teimam em ficar.

Foi também a razão da vontade de mudar que levou a que uma grande parte do eleitorado do concelho optasse por mudar embora, infelizmente (é a minha opinião) proporcionando uma volta de 360º e com tal atitude trocando a gestão PSD que substituíra a gestão PSD, por uma nova gestão do PSD.

Confuso? Talvez. Mas na verdade nos últimos 20 anos o Município de Portalegre foi presidido por um “Rei Sol”, um “Rei Sol – feminino) e agora, de novo no feminino, le soleil c’est MOI!

Mas, afirmou-o Manuel Alegre e cantou-o magistralmente o Adriano: Há sempre uma candeia, dentro da própria desgraça… e por isso insisto em acreditar que do absolutismo que se anuncia possamos ver nascer algum Versalhes. Possamos deixar de ter uma cidade em decadência e até, sonho dos sonhos, aspirar a que, a tão falada e necessária reindustrialização possa trazer até nós, alguns efeitos das bazucadas disparadas em Lisboa traduzidos em investimento produtivo, em capacidade de transformar o que de bom aqui produzimos, na possibilidade de mantermos os nossos jovens e atrairmos novas gentes.

Uma cidade que já ostentou o título de capital industrial do Alentejo, que viveu e cresceu a ouvir as sirenes da Robinson, da Fino’s e da Finicisa. Uma cidade que assistiu às metamorfoses desta última até chegar à actual Selenis, que viu nascer e partir a Johnson Control’s, pode e deve exigi-.

Uma cidade rica em produtos agroalimentares certificados que já teve no seu seio a mais importante marca no sector do Leite, a Serraleite entretanto sugada pelo capitalismo reinante, que criou e mantém as fabulosas Tapeçarias de Portalegre e as melhores tecedeiras do mundo e que mantém no seu ADN a cultura operária, pode e deve sonhar que é possível ultrapassar “este cabo das tormentas” e navegar com ventos e mar calmo até ao destino que merece.

E, também, como o escreveu o poeta e nos cantou Adriano, porque temos em nós a cultura operária, contra ventos e marés …há (haverá) sempre alguém que resiste, há (haverá) sempre alguém que diz não!

Diogo Júlio Serra

Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 5-1-2022


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