Le soleil c’
est moi!
A afirmação com que titulei o presente texto é atribuída a
Luís XIV, rei de França do Século XVII e considerado pelos historiadores como o
expoente máximo do absolutismo.
A frase veio-me à memória ao ler a declaração de voto apresentada
pela Sra. Presidente da Câmara Municipal de Portalegre na reunião de 13 dezembro
e a sua afirmação de que foi ela e não o partido por quem se apresentou e é
dirigente, o PSD, quem ganhou as eleições que lhe garantiram a presidência que
detém.
A frase não pode ser retirada do contexto, dir-me-ão. A
Presidente de Câmara queria tão só ressaltar que não fora a CLIP (de quem
procura apoio para governar) mas a Dra. Adelaide Teixeira quem perdeu (para
ela) a Câmara Municipal da cidade capital do distrito.
Será assim? Posso acreditar, mas o que de imediato me veio à
memória foram os “reinados” de outro “rei sol” que abandonou o barco quando
este ameaçava naufragar e que fora, recorde-se, eleito pelo mesmo PPD que agora
(parece) ser rejeitado pela Presidente de Câmara em exercício.
Mais, o que restou da gestão desse outro “Luís XIV” e da
“regente” que deu seguimento a essa governação “absolutista” foi a total
paralisação da cidade e do concelho, com a “natural” perda de gente e de
qualidade de vida dos que teimam em ficar.
Foi também a razão da vontade de mudar que levou a que uma
grande parte do eleitorado do concelho optasse por mudar embora, infelizmente
(é a minha opinião) proporcionando uma volta de 360º e com tal atitude trocando
a gestão PSD que substituíra a gestão PSD, por uma nova gestão do PSD.
Confuso? Talvez. Mas na verdade nos últimos 20 anos o
Município de Portalegre foi presidido por um “Rei Sol”, um “Rei Sol – feminino)
e agora, de novo no feminino, le soleil c’est MOI!
Mas, afirmou-o Manuel Alegre e cantou-o magistralmente o
Adriano: Há sempre uma candeia, dentro da própria desgraça… e por isso insisto
em acreditar que do absolutismo que se anuncia possamos ver nascer algum
Versalhes. Possamos deixar de ter uma cidade em decadência e até, sonho dos
sonhos, aspirar a que, a tão falada e necessária reindustrialização possa
trazer até nós, alguns efeitos das bazucadas disparadas em Lisboa traduzidos em
investimento produtivo, em capacidade de transformar o que de bom aqui
produzimos, na possibilidade de mantermos os nossos jovens e atrairmos novas
gentes.
Uma cidade que já ostentou o título de capital industrial do
Alentejo, que viveu e cresceu a ouvir as sirenes da Robinson, da Fino’s e da
Finicisa. Uma cidade que assistiu às metamorfoses desta última até chegar à
actual Selenis, que viu nascer e partir a Johnson Control’s, pode e deve
exigi-.
Uma cidade rica em produtos agroalimentares certificados que
já teve no seu seio a mais importante marca no sector do Leite, a Serraleite
entretanto sugada pelo capitalismo reinante, que criou e mantém as fabulosas
Tapeçarias de Portalegre e as melhores tecedeiras do mundo e que mantém no seu
ADN a cultura operária, pode e deve sonhar que é possível ultrapassar “este
cabo das tormentas” e navegar com ventos e mar calmo até ao destino que merece.
E, também, como o escreveu o poeta e nos cantou Adriano,
porque temos em nós a cultura operária, contra ventos e marés …há (haverá)
sempre alguém que resiste, há (haverá) sempre alguém que diz não!
Diogo Júlio Serra
Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 5-1-2022
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