QUE VIVA A
FESTA!
Assinalámos no
passado dia 23 o quadrigentésimo septuagésimo primeiro ano de elevação de
Portalegre a cidade.
Em tempos de
pandemia, e com o número de infectados de novo a crescer, foi-nos possível
usufruir de um programa mínimo (ajustado aos tempos que correm) mas diga-se com
o mínimo de dignidade que a efeméride e os portalegrenses merecem: uma
componente cultural diversificada, uma componente política com a tradicional
cerimónia do hastear da bandeira e a sessão solene com as também tradicionais
atribuições de medalhas.
Nenhum reparo.
Já no secretismo do programa ou no também tradicional afastamento dos eleitos,
fora do círculo próximo da Sra. Presidente, há muitos reparos a fazer.
Na verdade,
nada justifica o ensurdecedor silêncio durante as sessões de câmara a não ser a
vontade de afrontar as restantes forças políticas representadas no Executivo.
Prática desde
há muito cultivada e que teve recentemente duas exemplares manifestações: a não
informação à vereação da vinda da Sra. Ministra da Cultura ao concelho de
Portalegre e o agendamento para reunião de câmara, a decisão sobre uma pintura
de um mural artístico … que estava a ser concretizada desde o dia anterior.
Também a
atribuição de medalhas com que a autarquia anualmente reconhece o papel de
instituições, personalidades e trabalhadores do município, não merecerá
quaisquer reparos. Já a atribuição da medalha de ouro da cidade, quinze anos
depois da entrega de igual honraria ao então Ministro da Administração Interna
me causa alguma perplexidade. Não que o actual Presidente da República não
tenha nada a ver connosco. Escolheu a nossa cidade para as comemorações do Dia
de Portugal em 2019 e até já atribuímos uma medalha ao seu megafone nessas
comemorações, mas não percebo (ou percebo muito bem) porquê só a ele, se outros
Presidentes houve que trataram Portalegre da mesmíssima maneira que ele o fez.
Mas adiante. Fixemo-nos
na necessidade de reaprender a viver, de iniciarmos percursos que permitam
sarar feridas e minimizar estragos (muitos) que a pandemia nos impôs e em
particular, procurarmos homenagear os resistentes e ajudar a que muitos dos
mais atingidos não fiquem pelo caminho: refiro o nosso tecido empresarial e em
particular as empresas familiares dos serviços, do comércio e da restauração.
Fixemos aí a
nossa atenção e sejamos capazes de suprir o que o nosso executivo não fez por
incúria, incapacidade ou deliberada má-fé. Mobilizemo-nos para tratar do que é
nosso, comprando às nossas gentes, usando os serviços de quem aqui se instalou,
animando a economia local e não calando a revolta de quem viu um executivo
municipal olimpicamente mobilizado para aforrar meios que lhes permitissem “brilhar”
nas batalhas eleitorais, multiplicando-se em obras e em distribuição de estatuária,
fingindo não ver nem ouvir, quer os que no nosso concelho se agigantavam para
não morrer, quer os seus pares que nos concelhos vizinhos arregaçavam mangas e
lado a lado com os seus, participavam na minimização da catástrofe.
Falo-vos dos
apoios municipais que os nossos comerciantes não tiveram, do tratamento
desigual que levou apoios a uns (muito poucos) em detrimento da esmagadora
maioria. Falo-vos da forma como foram tratados os trabalhadores do município e
em particular os que em situação de risco nunca deixaram de cumprir o seu
papel: nunca deixaram de recolher os lixos e garantir o saneamento, mantiveram
o funcionamento do mercado municipal, os que estiveram presentes nas escolas e
no apoio aos mais carenciados. Esses mesmos, a quem o nosso município recusou o
pagamento desde Janeiro, do complemento de salubridade e risco pelo qual
esperaram 13 anos.
Falo-vos ainda
dos trabalhadores da Fundação Robinson e do seu núcleo museológico, obrigados a
rescindirem os contratos por não pagamento do salário, do próprio museu
encerrado por não ter sido pago o fornecimento de luz e que corre o risco de se
ver destruído.
Mas retornemos
ao 23 de Maio. Gostei!
Diogo Serra
Publicado no Jornal Alto Alentejo de 26-05-2021