“DA PORTUS ALACER “ AO CAMPEONATO DOS
PEQUENINOS.
Não há cidades pobres. Há cidades sem projecto!
Esta verdade vem-me sempre à memória de cada vez que ouço ou leio
afirmações que procuram justificar o “estado a que chegámos” por sermos um
território pobre.
Território pobre? Portalegre? Desde quando?
Ouçamos o Padre Diogo de Sotto Maior e atentemos nas razões que
justificaram a instalação em Portalegre da Real Fábrica de Panos.
Relembremos a Portalegre Operária com a corticeira, os lanifícios, as
sedas, os sabões, as salsicharias, a finicisa e as tapeçarias, rodeada por
intensa atividade agrícola característica do minifúndio nas freguesias do norte
e a sul, a intensa actividade agro - pastorícia e silvícola, característica do
latifúndio.
Chamemos à memória a cidade atravessada por um enorme centro comercial
a céu aberto que se abria desde o Alentejano ao Rossio. Atentemos nos cafés
repletos de gente e de ideias, as tertúlias do Central e do Facha, o bulício
nervoso dos estudantes no Alentejano.
Recordemos a pujança do seu associativismo, os inúmeros jornais aqui
sedeados, a intensa atividade artística e cultural, onde o teatro tinha papel
de relevo.
Foi a pobreza de ideias e não do território que nos aprisionou nesta
tristeza.
Foi o não termos sabido construir (e brigar por ele) um projecto para
nós e para o concelho.
Foi por não termos tida a coragem de dizer não, ao controlo social
absurdo que nos prendeu e que fechou portas a todas as oportunidades que se nos
foram apresentando: As fábricas que não se instalavam para não porem em causa
primeiro os “terratenientes” e depois as famílias “industriais” que faziam dos
salários de miséria a garantia da sua riqueza e mais recentemente o deixarmos
assassinar as perspetivas de um continuar da indústria corticeira, por
vassalagem aos novos monopólios que entretanto se instalaram.
Foi essa permanente disposição para sermos heróis à mesa do café
(actualmente frente ao teclado do computador) e “gatinhos” frente aos poderes
instalados, que aliada ao tradicional entendimento que “o de fora é sempre
melhor” e ao preconceito que nos continua a impedir de escolher o que se nos
apresenta como mais capaz, que nos aprisionou nos nossos medos e nos empurrou
para o “Estado a que isto chegou”.
Medos, ausência de capacidade e vontade de experimentar diferente, que
volta a expressar-se de novo, agora que nos encontramos a poucos meses de
voltarmos a poder decidir o futuro de Portalegre e dos portalegrenses.
De novo, quando voltamos a poder decidir sobre o governo do nosso território,
cidade e concelho, quando com as eleições autárquicas podemos operacionalizar
um Projecto para Portalegre e em conjunto construir e levantar a nossa bandeira,
o que se perspetiva é mantermos a inércia.
Por medo ou comodismo, aceitarmos repetir o voto em personalidades que
já provaram a sua “falta de jeito” para gerirem o concelho ou nas que se
perfilam, não por Portalegre mas por não aceitarem que esgotaram o tempo legal
para serem autarcas.
Foi assim nas eleições últimas quando aceitámos ter como candidatos
autarcas cuja motivação era manterem-se visíveis pelos eleitores dos concelhos
a que tinham presidido.
Passado o período de nojo, eles aí estão, já posicionados na linha de partida
dos concelhos de onde saíram com a mesma ou com outra camisola.
Entretanto já estão oficialmente anunciadas novas/velhas repetições.
Cidade Pobre? Não!
Pobre cidade que passou a ser “campeonato” onde alguns só vêm jogar
para limpar os “castigos”.
Até quando?
Diogo Serra
* Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 14-4-21
* Postal
Portalegre - Praça do MunicipioEdição de Bartholomeu da Guerra Conde
(Colecção com 13 clichés)
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