quarta-feira, 14 de abril de 2021

“DA PORTUS ALACER “ AO CAMPEONATO DOS PEQUENINOS

 “DA PORTUS ALACER “ AO CAMPEONATO DOS PEQUENINOS.

Não há cidades pobres. Há cidades sem projecto!

Esta verdade vem-me sempre à memória de cada vez que ouço ou leio afirmações que procuram justificar o “estado a que chegámos” por sermos um território pobre.

Território pobre? Portalegre? Desde quando?

Ouçamos o Padre Diogo de Sotto Maior e atentemos nas razões que justificaram a instalação em Portalegre da Real Fábrica de Panos.

Relembremos a Portalegre Operária com a corticeira, os lanifícios, as sedas, os sabões, as salsicharias, a finicisa e as tapeçarias, rodeada por intensa atividade agrícola característica do minifúndio nas freguesias do norte e a sul, a intensa actividade agro - pastorícia e silvícola, característica do latifúndio.

Chamemos à memória a cidade atravessada por um enorme centro comercial a céu aberto que se abria desde o Alentejano ao Rossio. Atentemos nos cafés repletos de gente e de ideias, as tertúlias do Central e do Facha, o bulício nervoso dos estudantes no Alentejano.

Recordemos a pujança do seu associativismo, os inúmeros jornais aqui sedeados, a intensa atividade artística e cultural, onde o teatro tinha papel de relevo.

Foi a pobreza de ideias e não do território que nos aprisionou nesta tristeza.

Foi o não termos sabido construir (e brigar por ele) um projecto para nós e para o concelho.

Foi por não termos tida a coragem de dizer não, ao controlo social absurdo que nos prendeu e que fechou portas a todas as oportunidades que se nos foram apresentando: As fábricas que não se instalavam para não porem em causa primeiro os “terratenientes” e depois as famílias “industriais” que faziam dos salários de miséria a garantia da sua riqueza e mais recentemente o deixarmos assassinar as perspetivas de um continuar da indústria corticeira, por vassalagem aos novos monopólios que entretanto se instalaram.

Foi essa permanente disposição para sermos heróis à mesa do café (actualmente frente ao teclado do computador) e “gatinhos” frente aos poderes instalados, que aliada ao tradicional entendimento que “o de fora é sempre melhor” e ao preconceito que nos continua a impedir de escolher o que se nos apresenta como mais capaz, que nos aprisionou nos nossos medos e nos empurrou para o “Estado a que isto chegou”.

Medos, ausência de capacidade e vontade de experimentar diferente, que volta a expressar-se de novo, agora que nos encontramos a poucos meses de voltarmos a poder decidir o futuro de Portalegre e dos portalegrenses.

De novo, quando voltamos a poder decidir sobre o governo do nosso território, cidade e concelho, quando com as eleições autárquicas podemos operacionalizar um Projecto para Portalegre e em conjunto construir e levantar a nossa bandeira, o que se perspetiva é mantermos a inércia.

Por medo ou comodismo, aceitarmos repetir o voto em personalidades que já provaram a sua “falta de jeito” para gerirem o concelho ou nas que se perfilam, não por Portalegre mas por não aceitarem que esgotaram o tempo legal para serem autarcas.

Foi assim nas eleições últimas quando aceitámos ter como candidatos autarcas cuja motivação era manterem-se visíveis pelos eleitores dos concelhos a que tinham presidido.

Passado o período de nojo, eles aí estão, já posicionados na linha de partida dos concelhos de onde saíram com a mesma ou com outra camisola.

Entretanto já estão oficialmente anunciadas novas/velhas repetições.

Cidade Pobre? Não!

Pobre cidade que passou a ser “campeonato” onde alguns só vêm jogar para limpar os “castigos”.

Até quando?

Diogo Serra

* Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 14-4-21

Postal

Portalegre - Praça do Municipio
Edição de Bartholomeu da Guerra Conde
(Colecção com 13 clichés)

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