quarta-feira, 31 de março de 2021

UMA BANDEIRA P’RA PORTALEGRE!

 



UMA BANDEIRA P’RA PORTALEGRE!

“Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade!”

 

Portalegre não precisa de bandeiras. Errado!

Nos últimos tempos, erradamente penso, a discussão politica em Portalegre tem vindo a centrar-se à volta de questões sempre escorregadias como o são as questões da estética e do gosto e, à boa maneira lagóia, sempre ao sabor de modas impostas por “influencers” mais ou menos modernaças ou, foi agora o caso, por mensagens fabricadas por quem (deliberadamente ou não) vai trocando a nobre função do jornalismo pela opinião pessoal e não fundamentada ou, bem pior, pela “comunicação” de encomenda.

Desta forma, porque partindo de premissas falsas, muito dificilmente a conclusão poderia ser correcta.

Assim, quer a conclusão de que uma rotunda, um pau ou mastro com ou sem bandeira, são fundamentais e por isso justificam, quer a falta de discussão, quer os avultados recursos, é fundamental para o concelho, quer o seu contrário: Portalegre não precisa de bandeiras, pecam por não corresponderem à realidade.

Na verdade, se ´há coisa de que Portalegre (cidade e concelho) carece é de Bandeiras em que os portalegrenses de nascimento e de opção se revejam e acreditem, a ponto de as fazerem coisa sua, pela qual vale a pena “brigar”.

Certamente não será uma qualquer bandeira (por maior simbolismo que encerre) a flutuar no cimo de um pau ou mastro rico, de quase cem mil euros e cuja importância lhe advirá de ser palco de discursata em dia de festa e cenário para fotografia importante para a campanha eleitoral que se aproxima.

Não. Portalegre (cidade e concelho) precisa de bandeiras que correspondam a projectos capazes de dar concretização aos desejos e reivindicações que nos garantam o desenvolvimento e o bem-estar que ansiamos e merecemos. Portalegre (cidade e concelho) precisa de uma bandeira que corresponda a uma ideia de futuro: uma estratégia para o desenvolvimento, um projecto em que todos nos possamos rever e empenhar.

Portalegre cidade operária precisa de uma estratégia de desenvolvimento que potencie a cultura operária que desenvolveu e preserva.

O concelho de Portalegre precisa de uma estratégia de desenvolvimento que consiga unir os portalegrenses na exigência clara de políticas nacionais de valorização deste território, de infra-estruturas que potenciem as capacidades endógenas, em vez de nos prender entre fronteiras construídas, que podem ser (como agora o são) as auto-estradas que nos tocam, os investimentos ferroviários que por cá passam mas nada deixam, ou a incapacidade de potenciar a excelência de ensino e investigação que, as instituições do saber aqui instaladas têm mostrado serem capaz.

Num tempo em que se anunciam para o país disponibilidades financeiras avultadíssimas, acompanhadas da necessidade de serem correcta e rapidamente utilizadas, é fundamental que as regiões como a nossa, sistematicamente arredadas dos investimentos públicos e das políticas capazes de atraírem e manterem o investimento privado, façam ouvir a sua voz e garantam um lugar à mesa da distribuição e aproveitamento desse “robusto” envelope financeiro.

É tempo de eleger e levantar bandeiras e desde logo, aquelas que unirão à sua volta a esmagadora maioria, senão a totalidade dos portalegrenses:

·         A electrificação total da Linha Ferroviária do Leste e a alteração do traçado que a faça chegar à cidade de Portalegre e ponha fim ao estrangulamento rodoviário que provoca em Santa Eulália e a construção de estações na Zona Industrial de Portalegre e em Elvas junto à intercepção com a Linha Sines/Caia.

·         A finalização do IC 13 em toda a sua extensão entre Lisboa e Galegos/Marvão.

·         A Ligação em perfil de auto-estrada entre a A6 e A23 ligando Badajoz a Castelo Branco com passagem por Portalegre.

·         A concretização do IP2 em toda a sua extensão com a resolução dos atravessamentos de Estremoz e Évora e a eliminação dos pontos negros existentes no nosso concelho.

Estas são bandeiras que importa elevar bem alto. Estas são algumas das necessárias Bandeiras para Portalegre.

Assumamo-las!

Diogo Serra

quarta-feira, 17 de março de 2021

TOMAR PARTIDO!

 


TOMAR PARTIDO!

Quando nos aproximamos de novo acto eleitoral, desta vez para os órgãos de poder mais próximos dos cidadãos e quando a campanha eleitoral já está no terreno a partir de quem, ainda, exerce o poder, importa, penso, tomar partido.

Em 1975 um revolucionário que era então primeiro ministro de Portugal afirmou convictamente que não há meios-termos “ ou se está com a Revolução ou se está com a Reação!”.

Passados 46 anos é-nos fácil perceber que também aqui, Vasco Gonçalves estava com a razão. Mas também é acertado pensarmos que hoje, quarenta e sete anos depois de Abril e passados 45 (cumprem-se em Dezembro) das primeiras eleições livres para as autarquias locais aqueles termos mesmo que certos não se adequam à linguagem actual e por isso prefiro colocá-lo assim: Hoje, em Portalegre, também não pode haver “meias tintas”: ou se está com o desenvolvimento e o bem-estar de Portalegre e dos portalegrenses ou se está com quem está a destruir a cidade e o concelho a favor de uns poucos, se está com o passado.

O concelho e a cidade estão num estado de retrocesso acelerado nos seus interesses e valores: de cidade industrial passou, por culpas próprias e alheias, a cidade de mão estendida.De concelho reconhecido como motor de desenvolvimento da região envolvente, para concelho da inércia e do atraso face aos restantes seus vizinhos.De detentor e promotor de uma cultura industrial, a promotor de uma “indústria/angústia do desemprego, da descrença e da paralisia.

Está na hora de “Tomar Partido”! Talvez nos esteja a ser oferecida a última oportunidade de retomar os caminhos do progresso que merecemos, do desenvolvimento que aspiramos, do orgulho que já tivemos.

As candidaturas começam a ser conhecidas, as movimentações dos diferentes actores já são bem visíveis e para lá dos anúncios já feitos quanto a candidatos e das normais especulações, todos sabemos quais as forças políticas que irão estar em presença e conhecemos quer as suas promessas, quer sobretudo, os seus objectivos.

Voltaremos a poder escolher entre o grupo que deteve a governação (ou falta dela) na última década, os comunistas e verdes coligados, os defensores da Social-democracia divididos (como sempre) em dois grupos distintos: uns apresentando-se sozinhos e outros em coligação com os democratas cristãos que restam no CDS.

Os saudosistas que durante décadas, por cobardia, se espalhavam por diferentes forças políticas do chamado arco da governação aparecerão agora com o partido que encomendaram e pagam, depois de perderam o medo de dar a cara pelo retrocesso que anseiam.

Assim, no quadragésimo quinto aniversário das primeiras eleições livres, em Portalegre vamos ter que TOMAR PARTIDO e também aqui e agora, como o afirmou o Militar de Abril, então Primeiro-ministro, não pode haver outras vias. Ou se está com a Liberdade, a Democracia e o Futuro ou se está com o Preconceito, o Ódio e o Passado Retrógrado Colonial/Salazarista.

E, porque estamos num tempo em que as palavras proferidas e escritas nem sempre correspondem ao que se quer e ao que se faz permito-me transcrever porque com ele me identifico o que o Primeiro-ministro de Portugal nos 4º e 5º Governos Provisórios entendia por Liberdade.

A liberdade não se define ou não se consubstancia, apenas, nos direitos políticos, no direito de poder falar livremente, no direito de opinar e contestar ou de se organizar colectivamente sem ser preso. …São necessárias estruturas políticas, económicas, sociais, culturais que garantam o exercício das liberdades consagradas na Constituição. O desemprego, a miséria, a fome, a falta de instrução, a falta de habitação, as relações sociais de exploração são contrários ao exercício livre da liberdade. Mesmo esta (a liberdade política) tem condicionamentos económicos e sociais, culturais e até, ambientais. Por exemplo, o novo código de trabalho, as novas leis aprovadas em 2004 nos domínios da segurança social, da saúde, da educação, do arrendamento urbano, limitam claramente as condições de vida das pessoas… Têm uma influência decisiva sobre a igualdade de oportunidades, condição indispensável para o exercício das liberdades. Outro exemplo: o domínio dos meios de comunicação social de maior difusão pelo sistema do capital. A desinformação deliberada influencia negativamente a formação cultural, a formação da consciência social e política dos cidadãos, e, consequentemente, o exercício do direito à liberdade.”

Tomemos partido!

Como não me canso de afirmar “O Futuro tem Partido”! Nas autárquicas, em Portalegre, o Passado (parece) Também.

Saibamos escolher!

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 3 de março de 2021

Foi ontem. Já passaram cem anos!



 

Foi ontem. Já passaram cem anos!*

…”E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista.”

A quadra acima encerra o poema que Ary dos Santos escreveu no dia 11 de Agosto de 1975, registando o assalto fascista ao Centro de Trabalho de Braga. É ilustrativa da vida, do sonho e da firmeza daquele partido politico nascido a 6 de Janeiro de 1921 e que reflectia a evolução do movimento operário português e da sua experiência e consciência social e política.

Os primeiros anos de vida do PCP não foram fáceis. Não foi fácil afirmar uma ideologia revolucionária no movimento operário, tendo em conta, quer a estrutura e a composição da classe operária à época, quer a influência de anarquistas e socialistas.

O partido foi desde a primeira hora perseguido e boicotado pelo regime republicano (a sua primeira reunião marcada para sede Sindical de Lisboa, no edifício que depois viria a ser a sede da PIDE, foi impedida pela autoridades, com o argumento que nas sedes sindicais não se podia discutir politica), situação brutalmente agravada com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 que conduziu à instauração da ditadura fascista.

 Com apenas cinco anos de vida, foi proibido e perseguido, passando a desenvolver a sua acção na clandestinidade e sob a brutal repressão que havia de prender e assassinar centenas de militantes e dirigentes.

Foi sob essa situação de brutal repressão e na mais severa clandestinidade que não só atravessou a longa noite fascista, como o fez garantindo a sua ligação aos trabalhadores e aos seus problemas, organizando a sua intervenção e luta em todos os sectores de actividade e criando as condições que, viriam a desaguar no 25 de Abril e na transformação do golpe militar na Revolução dos Cravos.

A revolução trouxe a liberdade e a acção politica à luz do dia mas não trouxe nem facilidades, nem o fim das perseguições e do ódio. O PCP continuou fiel aos seus princípios a ser cimento fundador da democracia e ferramenta dos trabalhadores para a construção da Democracia e, por isso, a ser o alvo principal do ódio e da violência orquestradas pelos serventuários dos monopólios e das forças politicas derrotadas em Abril.

O chamado verão quente de 75 (forma “elegante” com que a direita bem pensante intitulou a acção terrorista da direita caceteira, contra os valores de Abril), trouxe de novo à tona a coragem, a capacidade de sacrifício, a justeza dos valores defendidos e a ligação aos trabalhadores, deste partido nascido em 1921 e que, tantas vezes, já anunciaram estar moribundo ou mesmo morto e enterrado.

E aqui estamos. No próximo dia 6 de Março, em cem locais diferentes, por todo o país e também na nossa cidade, ouvir-se-á alto e bom som entoar a “Internacional”!

Perguntar-se-ão alguns, como é possível cem anos depois esta afirmação de vontade? Qual é a receita que permite esta vitalidade? A resposta é simples e entendível por quantos consigam libertar-se de peias e palas do preconceito. Esta vitalidade é possível pela profunda ligação aos trabalhadores e ao povo, por assumir nos seus valores e na sua prática as reivindicações e os anseios dos trabalhadores e das populações.

É possível porque este é o Partido de Bento Gonçalves, de Álvaro Cunhal, de Bento de Jesus Caraça, de Alfredo Dinis, Dinis Miranda, António Gervásio…mas é também, o partido do electricista João Silva, do corticeiro João Mourato, do comerciante Jorge Arranhado, do professor Manuel Pinho, do operário químico Leonardo Portalete, do economista Joaquim Miranda e de todos e todas que a ele e ao nosso povo deram e dão o que de melhor sabem e podem e…tantos deles a própria vida.

É possível viver um século e continuar menino, sempre com os olhos no futuro porque estes são:

“100 anos em que não há nenhuma transformação social, nenhum avanço ou conquista dos trabalhadores e do povo português a que não esteja directa ou indirectamente associada à iniciativa, à luta, à acção e à intervenção do PCP. São 100 anos de vida e de luta de um Partido que, orgulhoso da sua história e aprendendo com a sua própria experiência e a do movimento comunista e revolucionário internacional, assume com determinação e confiança as exigências da actualidade e do futuro.”

Que venham mais cem!

 

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo em 3-3-2021