quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

QUE NINGUÉM FIQUE PARA TRÁS!

 


Que ninguém fique para trás!

 

De novo com as liberdades “cassadas” enquanto crescem os números de doentes e mortes em Portugal e no mundo por acção de um vírus que, comidas as filhós e visionados os espectáculos do fogo preso, voltou mais robustecido.

Mais uma vez os governantes foram mais rápidos a cercear do que a garantir os nossos direitos constitucionais.

Iniciou-se um novo “sequestro” de pessoas e empresas enquanto no sector da saúde só as palmas e as palavras que o eleitoralismo impõe, chegam aos profissionais e aos serviços há muito exauridos de pessoal, meios materiais e organização e a necessitarem mais do que aplausos da coragem dos decisores.

O nosso território é nos dias de hoje a montra que nos mostra tudo o que de melhor e de pior se passa no país.

Aqui, como em todo o país, os trabalhadores e os serviços que garantem as primeiras linhas de combate à doença, continuam o combate diário para salvar vidas, a garantir-nos a produção e distribuição dos bens alimentares, a higienização e a limpeza, o ensino aos nossos filhos e a guarda e os cuidados aos nossos idosos, os que garantem a nossa segurança. Continuam a fazê-lo de forma abnegada, agora mais cansados e fragilizados pelas baixas que também a eles tem sido infligidas.

Fazem-no esquecendo as suas próprias dificuldades e problemas e fingindo acreditar que os meios humanos hão-de ser reforçados, que os meios matérias e o justo reconhecimento do seu labor (para além das palmas) também irão chegar.

No Norte Alentejano, como no país, alguns autarcas arregaçaram mangas e integraram-se no combate sem perdas de tempo ou discussões sobre o que eram ou não competências suas, mas também vimos os outros que mesmo cercados pelas dificuldades dos seus munícipes continuaram a assobiar para o lado ou, pior, a protegerem apenas a sua vaidade e os seus amigos.

Com o tecido produtivo a meio gás, com as micro-empresas, os empresários em nome individual e os trabalhadores por conta própria, que são a maioria dos empregadores, encerrados ou sem clientes e assim condenados a engrossarem a legião dos desempregados, a perda de rendimentos das famílias faz disparar o número de pedidos de apoio, nomeadamente de bens alimentares e faz emergir mais e maiores bolsas de pobreza.

O “xico-espertismo” também se fez notar. Desde logo pela mão dos que, quais aves de rapina, procuraram absorver a totalidade dos fundos e apoios disponibilizados a empresas e trabalhadores, se aproveitaram da situação pandémica para despedir todos os que por serem precários não lhes impediam a candidatura ao “subsidiozinho” apesar de saberem que, por serem precários, aqueles não teriam quaisquer apoios.

Também existiu o muito bom. Entre esses exemplos um sector que tem vindo a sofrer de grandes e injustas recriminações: as instituições que garantem a guarda e os cuidados dos nossos idosos, muitas delas locais de heroísmo.

O medo, a “injusta” situação de confinamento a que foram e estão sujeitos os seus utentes, a dor que as infecções e mortes verificadas e que continuam nos causavam e causam, levaram-nos mais vezes do que deveriam a desviarmos para eles as críticas e acusações que outros devem assumir. Por tudo isso, para quantos no distrito de Portalegre e nas outras regiões esquecidas (todo o interior) cuidam dos nossos idosos: direcções e todos os seus trabalhadores, uma palavra de enorme apreço. Tão forte quanto a acusação a quantos no governo e nas suas “sucursais” no território pretenderam fingir que não sabiam que os nossos lares não poderiam nunca aplicar, sem meios, os muitos planos de contingência que à distância foram rabiscando.

Fingiam e fingem não saber que enquanto mantiverem as formas de financiamento actuais (uma comparticipação fixa - e igual para todo o país- complementada com as pensões e reformas dos utentes) as instituições do interior com utentes que recebem pensões de miséria e familiares que recebem o salário mínimo, nunca sairão dos patamares da mera sobrevivência.

Agora, em que de novo é preciso o contributo de cada um para ajudar travar a doença e aliviar a brutal pressão sobre os estabelecimentos hospitalares, que saibamos todos resistir ao discurso do ódio, às pequenas vaidades que por vezes nos cegam e afirmemos a nossa condição de cidadãs e cidadãos solidários e actuantes.

Sim, e que não deixemos ninguém para trás!

 

Diogo J. Serra

 

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