Que ninguém fique para trás!
De novo com as
liberdades “cassadas” enquanto crescem os números de doentes e mortes em
Portugal e no mundo por acção de um vírus que, comidas as filhós e visionados
os espectáculos do fogo preso, voltou mais robustecido.
Mais uma vez os
governantes foram mais rápidos a cercear do que a garantir os nossos direitos
constitucionais.
Iniciou-se um
novo “sequestro” de pessoas e empresas enquanto no sector da saúde só as palmas
e as palavras que o eleitoralismo impõe, chegam aos profissionais e aos
serviços há muito exauridos de pessoal, meios materiais e organização e a necessitarem
mais do que aplausos da coragem dos decisores.
O nosso
território é nos dias de hoje a montra que nos mostra tudo o que de melhor e de
pior se passa no país.
Aqui, como em
todo o país, os trabalhadores e os serviços que garantem as primeiras linhas de
combate à doença, continuam o combate diário para salvar vidas, a garantir-nos
a produção e distribuição dos bens alimentares, a higienização e a limpeza, o
ensino aos nossos filhos e a guarda e os cuidados aos nossos idosos, os que
garantem a nossa segurança. Continuam a fazê-lo de forma abnegada, agora mais
cansados e fragilizados pelas baixas que também a eles tem sido infligidas.
Fazem-no
esquecendo as suas próprias dificuldades e problemas e fingindo acreditar que
os meios humanos hão-de ser reforçados, que os meios matérias e o justo
reconhecimento do seu labor (para além das palmas) também irão chegar.
No Norte
Alentejano, como no país, alguns autarcas arregaçaram mangas e integraram-se no
combate sem perdas de tempo ou discussões sobre o que eram ou não competências
suas, mas também vimos os outros que mesmo cercados pelas dificuldades dos seus
munícipes continuaram a assobiar para o lado ou, pior, a protegerem apenas a
sua vaidade e os seus amigos.
Com o tecido
produtivo a meio gás, com as micro-empresas, os empresários em nome individual
e os trabalhadores por conta própria, que são a maioria dos empregadores,
encerrados ou sem clientes e assim condenados a engrossarem a legião dos
desempregados, a perda de rendimentos das famílias faz disparar o número de
pedidos de apoio, nomeadamente de bens alimentares e faz emergir mais e maiores
bolsas de pobreza.
O
“xico-espertismo” também se fez notar. Desde logo pela mão dos que, quais aves
de rapina, procuraram absorver a totalidade dos fundos e apoios
disponibilizados a empresas e trabalhadores, se aproveitaram da situação
pandémica para despedir todos os que por serem precários não lhes impediam a
candidatura ao “subsidiozinho” apesar de saberem que, por serem precários,
aqueles não teriam quaisquer apoios.
Também existiu
o muito bom. Entre esses exemplos um sector que tem vindo a sofrer de grandes e
injustas recriminações: as instituições que garantem a guarda e os cuidados dos
nossos idosos, muitas delas locais de heroísmo.
O medo, a
“injusta” situação de confinamento a que foram e estão sujeitos os seus utentes,
a dor que as infecções e mortes verificadas e que continuam nos causavam e
causam, levaram-nos mais vezes do que deveriam a desviarmos para eles as críticas
e acusações que outros devem assumir. Por tudo isso, para quantos no distrito
de Portalegre e nas outras regiões esquecidas (todo o interior) cuidam dos
nossos idosos: direcções e todos os seus trabalhadores, uma palavra de enorme
apreço. Tão forte quanto a acusação a quantos no governo e nas suas “sucursais”
no território pretenderam fingir que não sabiam que os nossos lares não
poderiam nunca aplicar, sem meios, os muitos planos de contingência que à
distância foram rabiscando.
Fingiam e
fingem não saber que enquanto mantiverem as formas de financiamento actuais
(uma comparticipação fixa - e igual para todo o país- complementada com as
pensões e reformas dos utentes) as instituições do interior com utentes que
recebem pensões de miséria e familiares que recebem o salário mínimo, nunca
sairão dos patamares da mera sobrevivência.
Agora, em que
de novo é preciso o contributo de cada um para ajudar travar a doença e aliviar
a brutal pressão sobre os estabelecimentos hospitalares, que saibamos todos resistir
ao discurso do ódio, às pequenas vaidades que por vezes nos cegam e afirmemos a
nossa condição de cidadãs e cidadãos solidários e actuantes.
Sim, e que não
deixemos ninguém para trás!
Diogo J. Serra
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