sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Erradicar a pobreza? Pois...

 



ERRADICAR A POBREZA? POIS…

No passado dia 17 assinalou-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, num tempo em que esta não para de aumentar.

Desta vez, fruto da pandemia que nos atinge, não vimos por cá nenhuma daquelas manifestações propagandísticas com que alguns nos procuram hipnotizar e outros entendem poder expiar a sua própria culpa.

Entretanto são diversas as instituições a denunciarem as desigualdades crescentes:

A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura denuncia que 690 milhões de pessoas (1 em cada 10 pessoas que habitam o nosso planeta) padeciam de fome em 2019 e que este ano se lhes juntarão mais 130 milhões, estudos recentes evidenciam que a fortuna dos muitos ricos cresceu apesar da crise sanitária à escala global.

No país a construção/aprovação do Orçamento de Estado tem lugar num tempo em que a pandemia infecta e mata a cada dia que passa enquanto diminui drasticamente, fruto do desemprego, da diminuição dos salários e pensões e da destruição dos pequenos negócios, o rendimento dos trabalhadores e das famílias com as estatísticas a revelarem que 1 em cada 10 trabalhadores empobrecem a trabalhar.

A nossa região e o nosso concelho são, por características próprias, dos mais atingidos pela perda de rendimentos e pelo empobrecimento.

Conforme tem vindo a ser denunciado pelos responsáveis sindicais e de diferentes entidades de solidariedade, os números do desemprego registado não param de crescer, o trabalho precário e mal pago, as reduções de horário e de vencimento, o regresso dos salários em atraso atingem fortemente as famílias, levando a um aumento muito significativo dos pedido de ajuda de bens alimentares e de apoio para pagamento da renda e dos seus consumos.

Nesta situação de alastramento da pobreza para a maioria são ainda mais condenáveis quer os aproveitamentos dos que dela se servem para aumentar fortunas mas também as posturas dos que podendo, nada ou pouco fazem para minorar o empobrecimento.

Atendamos às posturas, diferentes, com que a pobreza (que todos dizem querer erradicar) é encarada.

A nível global só a voz do Papa Francisco consegue fazer-se ouvir "Persistem hoje no mundo inúmeras formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo económico fundado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar o homem. Enquanto uma parte da humanidade vive na opulência, outra parte vê a própria dignidade não reconhecida, desprezada ou espezinhada e os seus direitos fundamentais ignorados ou violados". (Carta Encíclica Fratelli Tutti)

No país e quando o governo de António Costa se afadiga no convencimento aos partidos à sua esquerda da imprescindibilidade de ser aprovado o Orçamento, o que deste se conhece é que ao contrario do propalado é um orçamento de austeridade. “Um O.E. que aumenta os impostos em 2.839 milhões€, que congela pensões superiores a 659€ e que aumenta as de valor inferior apenas entre 2,6€ e 4,2€ por mês e só para entrar em vigor em 1/8/2020, que congela novamente os salários dos trabalhadores da função pública, que reduz a despesa com a educação e não reforça as transferências para o SNS, em que o investimento público é insuficiente pois é pouco superior ao consumo de capital fixo, é certamente um orçamento de austeridade. (Eugénio Rosa, economista)

Na nossa cidade e concelho, onde desta vez não foi possível o show off com árvores vestidas de malha ou quaisquer outras “invenções”, a situação é ainda mais gritante com o  aumento do desemprego, a precariedade e diminuição dos salários, a perda de rendimentos dos pequenos comerciantes e prestadores de serviços obrigados a encerrar ou que viram diminuir drasticamente as vendas e rendimento.

Uma situação que veio agravar e muito, as precárias situações de muitos portalegrenses.

Esperar-se-ia que o Governo do Concelho reagisse criando as condições de apoio necessárias ao minimizar de tão graves situações.

Não foi assim. O Executivo CLIP mais, (muitas vezes) o ombro amigo que o ampara, não só não avançaram com medidas como foram sistematicamente chumbando as propostas para alivio das famílias, ali levadas por vereadores da oposição: a suspensão da cobrança de água ou do estacionamento de superfície, a implementação de subsídios de risco para funções essenciais (como a recolha de lixo, a limpeza urbana, os transportes públicos, ou a manutenção do espaço público, entre outras...), os apoios às associações culturais e desportivas, os apoios escolares em computadores para o ensino à distância ou na aquisição de livros de fichas no regresso às salas de aula, etc...

Não há dinheiro, costuma dizer-se. Não é o caso!

Na primeira reunião de Outubro o saldo de tesouraria era de 3 milhões e, conforme tem sido amplamente denunciado a Câmara de Portalegre decidiu adquirir três imóveis por mais de 200 mil euros para “alugadar” a uma empresa da cidade a quem desde 2005 vem pagando a renda de armazéns que esta ocupa.

Para que nem sequer aceitou distribuir à população mascaras sociais ou prescindir de qualquer parcela dos impostos em benefício dos portalegrenses, apoiar em quase meio milhão de euros uma só empresa é ilustrativo de quem o faz.

Isto surpreende-me? Não. É a luta de classes!

 

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 21-10-2020

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

OS BUFOS

 


Os Bufos – uma fauna desprezível que se mantem actuante!  

Não me refiro, é óbvio aos batráquios como o bufo Alvarius ou às aves como o Bufo Real. Refiro-me aos humanos. Esses humanos desprezíveis que durante a ditadura terrorista dos monopólios e dos agrários alimentavam a PIDE (ostentando este nome ou disfarçada de DGS), que nunca foram detidos e, como afirmou Irene Pimentel continuaram clandestinos, no seio da população e hoje, os mesmos ou os seus discípulos aí se mantem escondidos mas actuantes.

Lidei de perto com esta espécie de gente (só o soube mais tarde) quando ao serviço do Jornal a Rabeca.

Nesse tempo e nesse Jornal então a voz da oposição no distrito uma “dessas coisas” vivia infiltrado, informando a PIDE sobre o que ali se vivia e tudo, pasme-se a troco da sua incontida vaidade que o queria feito árbitro de escalão superior. Seria publicamente desmascarado quando, ostentando o estatuto que não tinha, se sentava em praça pública entre os dirigentes de uma organização politica que dirigira a luta pela democracia.

Nesse Maio de 74 pensei ser a última vez que me confrontaria com “tal gente”. Estava enganado.

Quarenta e seis anos depois sou confrontado com as suas práticas cobardes. Com a mesma rasteira atitude e também, tal como dantes, escondidos por detrás da máscara de boa gente, de democratas…

É óbvio que não quererão ser conhecidos e muito menos como “bufos” continuarão escondidos e a intitularem-se como os melhores e mais puros. Todavia, bem lá no fundo sabem como eu sei que são uns escroques. Chamemos-lhe Bufos, Delatores, Informadores ou, ainda mais “fino” whistleblowers. Serão sempre, uma vergonha de gente!


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Há muitas manchas na cidade branca.

 

Há muitas manchas na cidade branca!

Portalegre já foi a “cidade branca”, já foi uma cidade industrial, já foi um local onde era possível trabalhar e viver. Ostentou (ainda se lhe reconhece o título) a condição de cidade capital de Distrito. Foi há muitos anos mas os portalegrenses continuam a fingir que não reparam no seu definhamento.

Durante décadas seguiu o exemplo (mau) de uma nobreza arruinada que recusa dedicar-se ao trabalho e que continua a olhar para os que o fazem, como gente menor.

Ora as cidades são sempre o que os seus cidadãos querem que sejam. Portalegre também.

Cidade de casas brasonadas e de “terratenientes” que, sempre apostaram num férreo controlo social e nas “virtudes” da fortaleza fechada a novas gentes e a novas ideias, deixou-se definhar, deixou-se ultrapassar pelas cidades que a circundam e dominar pelos” xico-espertos” que aqui assentaram arraiais seja por nascimento, por opção ou por acaso.

Foi esta postura que a partir da segunda metade do século passado impôs o definhar da indústria tradicionalmente aqui instalada e levantou barreiras a outras indústrias que face às dificuldades foram optando por instala-se nas cidades vizinhas. O medo da concorrência e a ideia (errada) que industriais e “terratenientes” só resistiriam se mantivessem os salários baixos foram o cimento para tais posições.

O receio do diferente, a aversão ao pagamento justo a quem lhes vendia a força de trabalho, a desconfiança para com a escola e os seus valores, tiveram sempre presentes nas políticas municipais que foram ao longo dos anos aplicadas, quase sempre, por “estrangeiros” ou não o sendo, meros capatazes dos mandantes nacionais.

Nos últimos tempos a cidade e o concelho optaram por ter na direcção do município um grupo de cidadãos que se dizia independente e isento dos vícios de que enfermavam os partidos tradicionais e de onde a maioria saíra em rotura. Nada mudou!

Era uma vez…Uma cidade branca que tinha na Presidência um “terreteniente” com sonhos altos e baixa competência.

Sonhou com uma Câmara instalada em edifício nobre e meteu “mãos à obra”. Começou por se libertar de quem habitava o espaço escolhido sem olhar a meios e a custos.

 A Sociedade Euterpe foi para a estrada da Serra, a EMIVET foi para a rua, a Manufactura de Tapeçarias ganhou um edifício novinho em folha e à COOPOR (organização que lhe era querida) foi-lhe entregue uma “pensão vitalícia”. Tudo isto em 2005.

Entretanto o Presidente saiu de cena, deixando como herança um Protocolo que custou aos portalegrenses até aos dias de hoje 240.000 euros, a que juntou o ICTVR que nos custou mais uns milhares e a Fundação Robinson transformada em grupo de amigos e armadilhada por decisões não fundamentadas, nem assumidas pelo colectivo municipal.

Sucedeu-lhe Adelaide Teixeira que nas eleições seguintes descobriu (ao que se sabe quando foi preterida como cabeça de lista) os males que os partidos políticos encerram e constituiu um grupo de amigos para “salvar” o município.

Passaram-se quinze anos desde o tal protocolo, nove anos desde que a actual Presidente assumiu a presidência e sete desde que descobriu que iria purificar as gestões partidárias. A última assembleia municipal foi confrontada com a decisão tomada pela Câmara de Adelaide Teixeira, de adquirir (usando as mesmas razões e mecanismos do seu antecessor) 3 garagens por 226 mil euros para oferecer à COOPOR a troco de 167 euros por mês. Dito de outra maneira, para pôr mais 226 mil em cima dos 240 mil já gastos pelo Município a favor de uma única empresa da cidade.

Perceberam a diferença entre a gestão partidária de Mata Cáceres e a gestão “independente” do CLIP e Adelaide Teixeira?

Mas há diferenças. Na primeira etapa, a do protocolo assinado, a decisão foi tomada por unanimidade dos eleitos na câmara (seis do PPD e um PS).Desta vez, mantendo-se a composição da maioria que o permitiu (Dissidências do PPD renomeados de CLIP e, de novo, o PS) a unanimidade não foi possível: tiveram a oposição do PPD/PSD e da CDU.

Na Assembleia Municipal a decisão foi autorizada pela Aliança CLIP/Partido Socialista com a oposição dos eleitos do PPD/PSD e da CDU.

Moral da história: (sim, todas as histórias encerram uma moral). Um município que procura justificar a inércia por falta de receitas, que aumenta aos seus munícipes o preço da água, os penaliza com o IMI e não abdica da sua parte no IRS. Uma câmara que não limpa, não conserva, não recupera o seu património, que não é solidária com quem sofre os efeitos da grave pandemia que nos atinge, que não apoia as nossas colectividades, nem promove as atividades desportivas e culturais, entrega a uma única empresa da cidade uma “dádiva” de cerca de meio milhão de euros.

 Já não é apenas uma nódoa na cidade Branca é só uma grande nódoa!

Diogo Júlio Serra