Trabalho,
Honestidade, Competência!*
A pandemia que nos atingiu e as medidas,
necessárias, para lhe fazer frente estão a pôr incerteza naquilo que julgámos
ser/estar absolutamente certo.
O medo instalou-se na sociedade e apesar
de, felizmente, a grande maioria ser capaz de vencê-lo e não desertar das
batalhas necessárias para vencer a doença, o certo é que nada voltará a ser
igual.
Apesar de não termos sofrido, até agora,
o peso sofrido por outras regiões. O Alentejo e particularmente este nosso
território mais a norte, tem sido com a região autónoma da Madeira, poupado às
mortes que têm fustigado o todo nacional. São já bem visíveis os danos que o coronavírus
e as suas sequelas provocaram também aqui, seja no tecido económico, seja na
perda generalizada de rendimentos de parte significativa da população. E,
penso, o pior ainda está para vir.
Num território como o nosso, onde desde
sempre faltam as infraestruturas, a vontade e a capacidade para transformarmos
as potencialidades existentes, em riqueza produzida e devidamente distribuída,
não podem existir boas perspetivas de futuro.
Num distrito onde a população e
particularmente a população ativa vai diminuindo censo a censo e concelho a
concelho e onde os poucos jovens têm que procurar lá fora, o que a sua terra
lhes nega, o futuro será sempre pintado com cores negras.
Numa sub-região do Alentejo onde até os responsáveis
político-partidários que têm vindo a assumir responsabilidades no aparelho de
estado, se habituaram a lutar por migalhas e a assumirem-se como capatazes do
Centralismo Governativo e aceitando como tarefa prioritária fazerem-nos
acreditar que tudo está bem, o futuro não é risonho.
Neste distrito de Portalegre onde muitos
dos seus autarcas se afirmam por lutas inter- pares, ódios de estimação,
bairrismos “bacocos” e que aceitam que o “tal telefonema” se sobreponha ao que
sabem ser seu dever e o interesse das populações, o futuro não poderá ser
brilhante.
E se já era assim na “normalidade”
anterior à pandemia o quadro tenderá a agravar-se quando começarmos a “pagar” o
preço das políticas classistas, que transformaram os apoios às necessidades dos
mais frágeis em canais de transferência dos fundos públicos diretamente para os
cofres dos “do costume”.
A situação que já hoje é denunciada por
alguns: a carência alimentar atinge um cada vez maior número de pessoas e
estende-se a sectores que até há pouco o consideravam impossível. A perda total
ou parcial dos rendimentos de muitas famílias que, sempre trabalharam, começa a
impor níveis de comportamento até então desconhecidos, quer de supressão de
gastos até então normais, quer mesmo de cumprimento de obrigações regulares.
A situação poderá ainda agravar-se, e
muito, quando às muitas dezenas que já perderam o emprego e muitas centenas
ligados às 656 empresas em lay-off no distrito, com perdas significativas de
rendimentos se juntarem “as vítimas” em consequência dessa realidade: os que
não recebem atempadamente as rendas, os comerciantes que não conseguem receber
os seus créditos, os pequenos agricultores esmagados pelas políticas predadoras
das grandes superfícies comerciais, os restaurantes e cafés que não tem
clientes e por aí adiante…
Estaremos então mais necessitados que
nunca de verdadeiras políticas sociais e de investimento publico. Estaremos
ainda mais dependentes das infraestruturas que necessitamos, que há muito nos
foram prometidas e continuam por fazer como o são: A barragem do Pisão, a eletrificação
da Linha ferroviária do Leste e a sua aproximação à cidade de Portalegre.
Serão ainda mais necessárias as obras
que há muito reivindicamos, sejam o garantir que na nova linha ferroviária de mercadorias
que ligará Sines/ao Caia possam circular pessoas e que sirva o nosso distrito,
sejam as ligações rodoviárias que não temos e em particular as ligações em
traçado de autoestrada entre a A6 Elvas/Campo Maior e a A23 Nisa/Gavião, a nova
ligação entre Abrantes e Portalegre, e a ligação entre Nisa e Cedilho.
Para tanto, é necessário que tenhamos a
força necessária para as exigir e tenhamos por nós e ao nosso lado, os agentes
políticos, nos partidos, nas autarquias, na Assembleia da Republica, no Governo,
munidos do saber, da vontade e da coragem que de outras vezes lhes/nos tem
faltado.
Precisamos que a insígnia Trabalho,
Honestidade e Competência deixe de ser a consigna de alguns e passe a ser
bandeira desfraldada e respeitada por todos!
Diogo J. Serra
* Publicado no A.A. de 20-05-2020