Do(s)
Muro(s) da “Vergonha” À Vergonha dos Muros!
Quando em 1961 um povo foi “obrigado” a construir uma barreira contra
as investidas de “mau perdedor” que sempre caracterizaram o imperialismo, estava
longe de imaginar que esse mesmo imperialismo haveria de batizá-lo como o “Muro
da Vergonha”.
Mas fê-lo e nunca haveria de assumi-lo como vergonha sua. Vergonha de
quem não respeitou a vontade daquele povo materializada no resultado das
eleições gerais, não reconhecidas – o que é que isto vos faz lembrar – pelas
potências que ocupavam militarmente três quartos do território alemão e não
hesitaram em dividir o país.
O Muro, peça importante na chamada “guerra fria” viria a tombar em 1989
antecedendo a reunificação da Alemanha e a integração no bloco capitalista.
Caía o “Muro da Vergonha”, multiplicava-se a vergonha dos muros!
Na Palestina ocupada, nos guetos para onde teimam em empurrar os
“diferentes”: negros, hispânicos, ciganos, árabes, excluídos do mundo do
trabalho ou outros, mas todos tendo em comum o facto de serem pobres.
Por último a fixação de um Presidente (louco?) que chegado à Casa
Branca quer à força construir um MURO a separar terras mexicanas: a Republica
Mexicana e os estados que lhes anexou em 1850.
Claro que nenhum destes, novos e velhos muros são apelidados como o de
Berlim. Para o imperialismo e seus porta-vozes estes são “muros bons”.
E por cá, que muros temos no nosso território? São muros da vergonha ou
muros que nos envergonham?
Os muros são-no só quando se materializam em betão ou aramados ou
são-no também sempre que separam, isolam, marginalizam, mesmo que feitos de
leis, ações ou ideias?
Olhemos este Alentejo do Norte a partir de Portalegre.
As autoestradas que nos tocam, a nova via-férrea em construção, a
rodoviária entre Abrantes e a A23 são “pontes” ou são “muros”?
Para os restantes “alentejos”, para os poucos concelhos tocados e para
o país poderão ser pontes e progresso mas para nós serão tão só Muros que
aumentam o nosso isolamento.
Para o Distrito de Portalegre, para os que aqui vivem e trabalham, se
não conseguirmos inverter a situação, as infraestruturas anunciadas serão tão
só, mais e maiores barreiras ao nosso desenvolvimento serão novos Muros da
Vergonha.
Só há um caminho. Lutarmos em conjunto para TRANSFORMARMOS OS MUROS EM
PONTES!
Garantir o acesso das nossas empresas ao transporte ferroviário de
Mercadorias que nos ligará a Madrid; garantir aos portalegrenses o acesso
rápido e cómodo ao transporte ferroviário de passageiros e a ligação ao resto
do distrito, ao país e ao mundo por vias rodoviárias do século em que vivemos.
Só assim derrubaremos os Muros que nos isolam!
Estes já não usam o betão ou os aramados. Não são guardados por
milícias armadas mas são, na mesma, UMA VERGONHA DE MUROS!
Diogo Júlio Serra
Texto publicado no Jornal do Alto Alentejo de 30-1-19