quarta-feira, 18 de abril de 2018

Cooperativa Operária Portalegrense - 120 anos de vida



120 anos de vida ao serviço de Portalegre e das suas gentes

Portalegre era então um oásis industrial no coração de um Alentejo profundamente rural e fora de quaisquer rotas de progresso.
Num concelho com 18.500 habitantes a cidade de Portalegre contava então com 9.303 habitantes (censos de 1900) que exerciam os mais variados ofícios nas inúmeras oficinas espalhadas pela cidade: alfaiates e costureiras, carpinteiros, ferreiros e ferradores e nas fábricas existentes, particularmente corticeiros, tecelões, salsicheiros, alvanéus e padeiros.
A corticeira Robinson era a maior empregadora e foi a partir dela que se concretizaram a maioria dos projetos sociais e políticos que haveriam de marcar a cidade.
Da fábrica ou das famílias a ela ligadas haveriam de sair as ideias e por vezes “os capitais” que permitiram dotar a cidade e os portalegrenses com os instrumentos necessários ao crescimento e fortalecimento da cidade e da região.
O associativismo conheceu nessa época um enorme desenvolvimento: a Associação dos Artistas e os Montepios Fraternidade Portalegrense e Euterpe fundados entre 1895 e 1861 e com a última delas a chegar até aos dias de hoje.
Em 1888 nasce o Montepio Operário e Artístico Portalegrense que integra no seu seio uma grande maioria de operários corticeiros e oito anos depois é constituída a primeira associação não mutualista, com uma forte presença de operários – A Sociedade União Operária. Esta associação cuja sede inaugurada em 1905 chegou até nós obrigava a que os sócios ordinários (os que podiam votar e ser eleitos) fossem operários.
É nesta “Portalegre” que em 1898, quarenta e um trabalhadores da fábrica Robinson dos quais apenas um, Manuel Maria Ceia, não era operário, fundam a Cooperativa Operária Portalegrense com o objetivo imediato de dar combate à falta de pão e a sua carestia.
A Cooperativa diversifica a sua atividade e rapidamente se transforma numa referência económica e social da cidade. Em 1905 inaugura a sua sede – o grande edifício onde ainda hoje se mantem e é a partir dali que se consolida transformando-se na mais importante unidade comercial da cidade e num centro difusor dos ideias do republicanismo e do sindicalismo.
Na sua sede funcionava uma escola para os filhos dos associados e os seus salões eram um viveiro do associativismo sociocultural que se consolidava e o salão de festas da cidade.
Assim foi ao longo de décadas. A loja da Cooperativa era a referência comercial da cidade e os seus salões o palco privilegiado para festas fossem elas o bailarico, a festa de Natal ou o casamento dos associados ou familiares.
Os novos hábitos de consumo trazidos pelos supermercados, a maior oferta de espaços para a realização de eventos e as melhorias económicas dos portalegrenses que permitiram às famílias deixarem de serem elas a confecionarem e servirem os banquetes ligados ao casamento e batizado dos seus familiares, ditaram o definhar dos objetivos que haviam justificado a criação e o desenvolvimento da cooperativa e impuseram aos seus cooperantes a obrigação de alterarem o seu objeto.
 Assim se fez. Hoje, 120 anos depois, no mesmo edifício inaugurado em 1905, a Cooperativa afirma-se em cada dia como difusor cultural e sobretudo espaço de solidariedade inter geracional.
No próximo dia 29 de Abril, o seu imponente edifício/sede voltará a lotar-se com os cooperantes e os amigos que ali irão cantar-lhe os parabéns.
Estamos todos convidados porque a Cooperativa e Portalegre merecem esta festa.
Diogo Serra
(Publicado no Jornal Alto Alentejo de 18-04-18)

domingo, 8 de abril de 2018

Uma juventude "à rasca"!



Pra melhor está bem, está bem. Pra pior já basta assim!

No passado dia 28 de Março, milhares de jovens trabalhadores manifestaram-se nas ruas de Lisboa exigindo trabalho com direitos e o direito ao futuro.
Assinalavam o Dia Nacional da Juventude Trabalhadora exigindo o direito que têm a um futuro digno no país que é o seu/nosso.
A Comunicação Social dita de referência pouco viu dessa manifestação ou então mostrou-nos muito pouco do que viu, talvez por não ter percepcionado que não se tratava de uma qualquer manifestação de apoio ao governo, que por norma contesta não pelo que faz ou não faz mas por se apoiar numa maioria parlamentar onde a “sinistra” está presente.
Mesmo no nosso território poucos, para lá do mundo do trabalho, terão tomado conhecimento da jornada de luta que os jovens trabalhadores levaram a Lisboa e o facto de naquele rio de gente estarem a participar dezenas de trabalhadores do nosso distrito.
E isto, apesar das razões que, também por cá, todos somos a reconhecer como justas.
Na verdade, quais as famílias que não têm no seu seio jovens em desespero por não terem emprego, por terem emprego mas em situação de absoluta precariedade ou que apesar de estarem a trabalhar não usufruem os rendimentos necessários a tornarem-se independentes e poderem criar a sua própria família.
As estatísticas ultimamente reveladas apenas confirmam o que todos, também aqui, a cada dia constatamos.
O observatório da Igualdade da OCD veio recentemente informar-nos que:
·         Entre 2007 e 2015 um em cada dez postos de trabalho ocupados por jovens portugueses que trabalham foi destruído;
·         66,3% dos jovens portugueses que trabalham têm um contrato de trabalho a termo.
Já o INE constata que em 2017 o salário médio dos jovens foi de 621,05€ o que significa que baixou 31% em relação ao salário médio em 2007.
Está tudo dito!
Se a estas situações arrasadoras juntarmos a posição de classe assumida por quantos, na Assembleia da Republica chumbaram as propostas de lei que visavam reparar as “maldades” impostas aos trabalhadores pelos governos “vassalos” das troicas, somos obrigados a concluir que não só os jovens trabalhadores estão carregados de razão quando lutam  pelos seus direitos como é igualmente justo pensarmos que esta pouca divulgação na comunicação social de âmbito nacional (e também local) não se deve a “falta de vista” mas à clara e deliberada opção pelos poderosos e contra a classe trabalhadora e em particular contra a juventude trabalhadora.
É uma ilação demasiado dura? Claro que não. Não há qualquer outra razão que justifique que quem se indigna até ao extremo quando o governo nacional não alinha cegamente com as decisões belicistas do imperialismo e não tem uma palavra de condenação contra quem rouba aos nossos filhos e netos o futuro que temos o direito de lhes garantir.
E as coisas começam a encaminhar-se para rumos que a não serem travados podem vir a não ter retorno.
Mesmo em Portalegre, são cada vez mais os casos de regresso ao passado.
Ainda esta semana patrões aqui sedeados tentavam impor a jovens trabalhadoras a obrigatoriedade de eliminar o descanso semanal, (um dia) numa jornada diária de 10/12 horas e um salário de miséria, “pago por debaixo da mesa” para evitar o pagamento devido à segurança social.
É fundamental deixar de assobiar para o lado!
Talvez valha a pena reflectir no futuro que queremos!

Diogo Júlio Serra