Portalegre (distrito)
Merece!*
Portugal é hoje um
país profundamente desequilibrado territorialmente e nunca as desigualdades
entre a estreita faixa do litoral e todo o resto do território nacional foram
tão acentuadas.
Muitos anos e muitos
milhões de fundos comunitários depois, a coesão territorial não é mais que uma
miragem e não só permanecem as enormes desigualdades, como tende-se para uma
crescente concentração da população, do emprego, do tecido produtivo e da
criação de riqueza em poucos concelhos do litoral, com enormes custos para o
todo nacional.
Todavia, os custos
da interioridade não são iguais para todas as regiões nem sequer o são dentro
de cada uma das regiões.
O Distrito de
Portalegre é, no interior da Região Alentejo, o território que paga mais caro
os custos dessa interioridade. Fruto da sua debilidade económica e política que
a desindustrialização lhe trouxe e também, assumamo-lo, por deficiências
técnico-politicas dos líderes locais, muitas vezes mais interessados na gestão
dos seus quintais que na defesa desta parte da Região Alentejo.
Às assimetrias
existentes entre o Alentejo e as restantes regiões nacionais nós, os norte-
alentejanos, adicionamos-lhes as cada vez maiores diferenças entre os distritos
alentejanos e, em particular entre o Distrito de Portalegre e os outros
territórios que nos circundam e também entre o restante Alentejo: O Alentejo
Central, o Baixo Alentejo e o Litoral Alentejano.
Sem as
infraestruturas fundamentais ao desenvolvimento que todos merecemos e que
outros no Alentejo e fora dele conseguiram ver concretizadas, o Distrito de
Portalegre tem vindo a perder capacidade de gerar riqueza, atrair investimentos
e pessoas, vendo definhar a sua capacidade produtiva e reprodutora e entrando
numa “espiral de tragédia” que leva a que nós próprios e o país comecemos a
acreditar que quaisquer investimentos são aqui, pela baixa densidade destes
território, pouco mais do que despesa.
A par da, mil vezes
prometida e nunca iniciada, Barragem do Pisão persistem as
vias de comunicação obsoletas: sejam as rodoferroviárias, sejam as digitais.
Apesar de ter sido retomado recentemente o
trafego ferroviário de passageiros na Linha do Leste, a sua eletrificação entre
Abrantes e o Caia continua a ser tão só uma aspiração enquanto continuamos a
ter vastas áreas da nossa região onde o acesso à NET nos está vedado.
A situação é de tal ordem que mesmo algumas
conquistas do Alentejo e dos territórios circundantes são para o nosso distrito
barreiras em vez de pontes.
O caso das autoestradas que nos tocam a
Norte e sul e a anunciada linha ferroviária de alta velocidade para mercadorias
que irá ligar Sines a Badajoz são exemplos de infraestruturas de importância
para os territórios vizinhos que podem funcionar como travão ao nosso próprio
desenvolvimento.
A A23 e a A6 só deixarão de ser a fronteira
que nos condena se for finalmente assegurada a ligação entre elas com uma via
que atravesse o distrito de Norte para Sul e for terminado o IC13 entre Galegos
e Lisboa.
O caminho-de-ferro só será uma mais-valia
para o nosso distrito se a Linha do Leste for eletrificada em toda a sua
extensão e se a cidade capital do distrito passar a ser servida com uma estação
de passageiros e mercadorias na zona industrial. Também a nova Linha
Ferroviária entre Sines e Caia só terá para nós utilidade se, a Plataforma
logística do Caia for um investimento e uma infraestrutura transfronteiriça,
pois de outro modo, se a Plataforma logística for tão só um instrumento para
agilizar o trafego de mercadorias entre o Porto de Sines e a Europa, o nosso
território continuará a ser mero espetador e (contribuinte) do desenvolvimento
dos territórios que nos cercam.
Os problemas com que nos deparamos requerem
uma estratégia integrada e alargada – procurando responder às dificuldades nos
planos económico e social – ao mesmo tempo que se atenda às especificidades
concretas e às potencialidades do nosso território.
A estratégia de que necessitamos não pode
estar desligada do assumir da realização de investimentos públicos quer em
infraestruturas de que fomos arredados (transportes e mobilidades e
infraestruturas que potenciam a nossa capacidade produtiva) quer na valorização
e reabilitação urbanas, quer na melhoria da resposta dos serviços públicos,
nomeadamente nos setores da educação e da saúde, fundamentais para aumentar a
atratividade do território.
Não pode, sobretudo, estar desligada da
vontade e capacidade de mobilização do Alto Alentejo, das suas gentes e das
suas instituições.
Assim o queiramos!
Diogo Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de dia 17-1-2018