terça-feira, 11 de abril de 2017

A ver passar comboios...

Portalegre continua … a ver passar os comboios!*

 Na passada semana “Meia Ibéria  política” marcou presença na cidade de Elvas para com “pompa e circunstância” proceder ao lançamento da empreitada de modernização do troço da Linha do Leste que visa  ligar Elvas à Fronteira.
A nossa comunicação social (também a local) encheu  páginas e muitos minutos com fotos e números. As fotos e declarações dos senhores ministros, dos senhores autarcas e dos senhores empresários de um e outro lado da “fronteira” eram complementadas com números que nos falavam dos muitos milhões que hão-de vir:  “A empreitada contará com um investimento na ordem dos 38 milhões de euros, dos quais cerca de 23 milhões de euros advém do Orçamento de Estado e perto de 15 milhões de euros são comparticipados pela União Europeia”… “A obra integra-se no futuro Corredor Internacional Sul… A criação do Corredor Internacional Sul representa um investimento previsto em mais de 626 milhões de euros, dos quais, estima-se que cerca de 356,7 milhões de euros possam ser comparticipados pela União Europeia… blá,blá, blá.
Os menos atentos poderiam pensar, justamente, que chegara a hora da modernização da Linha do Leste ( a mais antiga linha de caminho de ferro portuguesa ) e que, finalmente o transporte ferroviário de passageiros seria de novo disponibilizado aos norte-alentejanos e aqueles que aqui residem, trabalham, estudam ou querem visitar.
Puro engano! Afinal, poderíamos recuperar a célebre frase do imperador quando perante a grandiosidade do tumulo de Jorge de Melo não resistiu ao desabafo “ tão grande gaiola para tão pequeno pássaro”, porque só onze quilómetros de linha irão ser intervencionados e tudo isto devido não à afirmação dos direitos de quem aqui vive e trabalha mas, porque não é possível ao governo central e aos mandantes da europa, ligar por terra, o litoral português a Espanha (Badajoz) rumo aos restantes membros da União Europeia sem tocar no distrito de Portalegre uma vez que Elvas se lhes atravessa sempre no caminho.
Mas será que eu sou contra este investimento, questionarão alguns? Claro que não. Entendo que qualquer investimento é bem-vindo e é sempre bom que diminuamos as distâncias que nos separam dos que nos rodeiam e hoje, sabemo-lo bem as distâncias medem-se em tempo.
Mas, para quem aqui vive e trabalha, para os norte alentejanos vitimas do acantonamento entre a A6 e a A23,  que os governos centralistas sempre nos impuseram já não chega esmagarem-nos com as tiradas demagógicas dos milhões que hão-de vir.
Para quem aqui vive e trabalha, para os que foram obrigados a partir mas não renegam as raízes, para os cidadãos e as empresas do nosso distrito e, particularmente para os portalegrenses o que importava mesmo era sabermos se vamos continuar a ir de carro apanhar o comboio a Abrantes, a Évora ou a Elvas e, sobretudo se vamos ter a Plataforma Logística do CAIA ou se, tal como aos comboios vamos vê-la passar para “o lado de lá”.
Será que o Senhor Ministro do Planeamento das Infraestruturas, que até foi deputado eleito por este círculo, nos pode dar essa garantia?  Ou teme que se nos fizer um agrado, possa ter o mesmo destino que o governo de que faz parte impôs ao Comandante da Escola Prática da GNR?

Diogo Júlio Serra

Membro da Assembleia Municipal de Portalegre
* publicado no Jornal Fonte Nova nº 2049 de 11 de Abril de 2017

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