Vê(s) moinhos, são moinhos
Vê(s) gigantes, são gigantes!
A morte de
Fidel Castro, ocorrida 60 anos depois do dia em que com outros 81 valentes saiu
do porto mexicano de Tuxpan, com o objetivo de derrubarem o ditador Fulgêncio
Baptista, desencadeou, como era expectável, uma onda de comentários sobre El
Comandante, mais favoráveis ou mais críticos, conforme o posicionamento
politico-ideológico ou o conhecimento de quem os formulava.
Para uns,
onde eu me incluo, partiu o símbolo último do romantismo revolucionário e
sobretudo o dirigente que assumiu a hercúlea tarefa de garantir a um pequeno
país conquistar e manter a sua independência e ter conseguido enfrentar e
vencer o poderoso vizinho do norte.
Para outros,
prisioneiros do seu posicionamento politico-ideológico ou incapazes de se
demarcarem dos que os media do sistema lhes servem, alguém que manteve um poder
não legitimado por eleições ditas livres, que impunha ao seu povo uma pobreza
confrangedora, que prendia os seus opositores, etc…etc…
Depois nas
franjas os que o endeusavam e recusavam aceitar que não teria só virtudes e do
lado oposto a “brigada fascista” que repetindo os argumentos fabricados no
Estados Unidos e repetidos até à exaustão na “little cuba” inventam, fantasiam
e mentem tendo como objetivo supremo branquear o fascismo e exaltar o seu
supremo marco em Portugal, um tal António de Santa Comba Dão. Estes, de facto,
não contam.
É entre os
que veem diferente porque estão em posições diferentes mas querem com seriedade
ver “ a verdade” que vale a pena “conversarmos”.
Nos últimos
dias, pessoalmente ou através das redes sociais, tenho trocado argumentos com
alguns dos meus amigos: amigos de verdade não das redes sociais. Procurei
retirá-los das trincheiras para onde o preconceito ideológico ou tão só a
propaganda do sistema capitalista que nos tolhe, os tem empurrado.
Falam-me
que em Cuba não existem muitos dos bem de consumo que “temos” no Ocidente e é
verdade, mas esquecem os cinquenta anos de bloqueio imposto pelos Estados
Unidos de forma ilegal e condenada pela maioria dos países.
Contam-me
que Fidel, e agora Raul, são Chefes de Estado sem serem eleitos pelo voto direto
dos seus concidadãos, esquecendo ou fingindo não saberem que o Chefe de Estado
Cubano, como o Chefe de Estado dos Estados Unidos e muitos outros, é eleito não
por sufrágio direto mas por um colégio eleitoral. Esquecem inclusivamente que
aqui ao lado os últimos três Chefes de Estado chegaram ao poder não por voto
(direto ou indireto) mas pela vontade de “alguém”: o primeiro pela Gracia de
Deus, o segundo pela Gracia de Franco e o terceiro e atual, pela Gracia do pai.
Persistem
em elencar carências enquanto escamoteiam (porque não desconhecem) que Cuba
consegue hoje, e apesar do bloqueio, ser reconhecida pelos seus enormes êxitos:
a) Único país da América Latina sem
desnutrição infantil; (UNICEF)
b) Único país Latino-americano sem problemas
com drogas; (ONU)
c) Taxa de Escolarização:
Primária – 100%
Secundária – 99,7%
(UNESCO)
d) É o país latino que menos viola os direitos
humanos; (Amnistia Internacional)
e) É o único país do mundo com
desenvolvimento sustentável; (WWF)
f) Tem um sistema de saúde melhor que o dos
países mais ricos/”desenvolvidos do Mundo”.
Por fim,
esgotados os argumentos restam os factos e, contra factos não há argumentos. Afinal
há sempre mais um. Pois, conseguiram tudo isso, mas a que preço. Não são
livres…
E dizem-no
assim, como se eles/nós o fossemos.
Livres como
nós? Bem, de facto, alguns de nós (poucos) têm tudo. Os outros (a maioria) têm
tudo menos a possibilidade de o adquirir.
Diogo Serra
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