Na
Roma Imperial calavam-se as bocas com pão e circo.
Em
Portugal, no século XXI, basta o circo!
“O pão que sobra à riqueza
Distribuído pela
razão
Matava a pobre à pobreza
e ainda sobrava pão!”
(António Aleixo)
O país, a nossa cidade também,
viveu mais um dia que os “ricos” decidiram dedicar à erradicação da pobreza.Um
pouco por todo o lado foi visível a azáfama com que pessoas e instituições
pretendiam assinalar a data.
Na nossa cidade foi possível
ver com gente dentro, algumas das ruas que já foram movimentadas mas que agora
são espelho da agonia que também a cidade vive.
Ruas e praças enfeitadas com
corações e bandeiras, discursos e passeios coletivos centraram a atenção dos
transeuntes e dos muitos, crianças, jovens, idosos institucionalizados ou
altamente fragilizados que voluntariamente ou por indicação de quem “manda”
estiveram, naquele dia, na rua.
Todos e todas, personalidades e
instituições aproveitaram a data para repudiarem a situação de pobreza que se
abate sobre um número crescente de famílias em Portalegre, no País e no mundo e
para reafirmarem o seu empenho em combater tais situações.
Todos estavam sinceramente
empenhados em tão nobre objectivo?
De entre os que discursaram (Presidente
da Câmara, Presidente da Rede Anti pobreza, Diretor Distrital da Segurança
Social) todos trabalhadores por conta de outrem, quais percebem “de verdade” o
que é a pobreza de que falam?
Têm a noção do que é (sobre)
viver com uma pensão de 245 euros, com o RSI (80 euros/mês), com o salário
mínimo Nacional (485 euros mês) tantas vezes repartido por todo o agregado
familiar?
Têm a noção do que é o estigma
do estar desempregado e estar diariamente submetido à invisibilidade e/ou à
humilhação?
Têm a noção da violência que
sofrem os milhares de trabalhadores que também aqui sobrevivem com o salário mínimo
ou veem em cada ano o seu salário contratual ser absorvido pelo salário mínimo?
Estão disponíveis para apoiar
as justas reivindicações de quem trabalha no sentido de ser garantida a
contratação coletiva e cumprida a decisão (antiga) de passar para 600 euros o
Salário Mínimo Nacional?
Conseguem dormir sabendo que
nas instituições que dirigem os trabalhadores auferem um salário que em média
não ultrapassa os 500 euros (caso das IPSS) e muitos deles são desempregados “obrigados
a trabalhar” pelo subsídio de desemprego mais umas moedas e o almoço? ou, no
caso dos funcionários públicos, terão
este ano, de novo, um salário inferior ao que receberam em 2010?
Será que todos queremos mesmo erradicar
a pobreza? Ou para alguns ela deve ser mantida e aumentada por ser ela (a
pobreza) a garantir a continuação do seu Bem – estar?
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