sábado, 12 de novembro de 2016

Pão e Circo?







Na Roma Imperial calavam-se as bocas com pão e circo.
Em Portugal, no século XXI, basta o circo!

“O pão que sobra à riqueza
Distribuído pela razão                                          
Matava a pobre à pobreza
e ainda sobrava pão!”
(António Aleixo)

O país, a nossa cidade também, viveu mais um dia que os “ricos” decidiram dedicar à erradicação da pobreza.Um pouco por todo o lado foi visível a azáfama com que pessoas e instituições pretendiam assinalar a data.

Na nossa cidade foi possível ver com gente dentro, algumas das ruas que já foram movimentadas mas que agora são espelho da agonia que também a cidade vive.

Ruas e praças enfeitadas com corações e bandeiras, discursos e passeios coletivos centraram a atenção dos transeuntes e dos muitos, crianças, jovens, idosos institucionalizados ou altamente fragilizados que voluntariamente ou por indicação de quem “manda” estiveram, naquele dia, na rua.

Todos e todas, personalidades e instituições aproveitaram a data para repudiarem a situação de pobreza que se abate sobre um número crescente de famílias em Portalegre, no País e no mundo e para reafirmarem o seu empenho em combater tais situações.

Todos estavam sinceramente empenhados em tão nobre objectivo?

De entre os que discursaram (Presidente da Câmara, Presidente da Rede Anti pobreza, Diretor Distrital da Segurança Social) todos trabalhadores por conta de outrem, quais percebem “de verdade” o que é a pobreza de que falam?

Têm a noção do que é (sobre) viver com uma pensão de 245 euros, com o RSI (80 euros/mês), com o salário mínimo Nacional (485 euros mês) tantas vezes repartido por todo o agregado familiar?

Têm a noção do que é o estigma do estar desempregado e estar diariamente submetido à invisibilidade e/ou à humilhação?
Têm a noção da violência que sofrem os milhares de trabalhadores que também aqui sobrevivem com o salário mínimo ou veem em cada ano o seu salário contratual ser absorvido pelo salário mínimo?

Estão disponíveis para apoiar as justas reivindicações de quem trabalha no sentido de ser garantida a contratação coletiva e cumprida a decisão (antiga) de passar para 600 euros o Salário Mínimo Nacional?

Conseguem dormir sabendo que nas instituições que dirigem os trabalhadores auferem um salário que em média não ultrapassa os 500 euros (caso das IPSS) e muitos deles são desempregados “obrigados a trabalhar” pelo subsídio de desemprego mais umas moedas e o almoço? ou, no caso dos funcionários  públicos, terão este ano, de novo, um salário inferior ao que receberam em 2010?


Será que todos queremos mesmo erradicar a pobreza? Ou para alguns ela deve ser mantida e aumentada por ser ela (a pobreza) a garantir a continuação do seu Bem – estar?

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