sábado, 22 de agosto de 2015

 
Festa dos Artistas/festa de "artistas"

     Há hora em que escrevo, Campo Maior fervilha, estou certo, com a alegria dos homens e mulheres que mostram finalmente o resultado de milhares de horas de trabalho.
     A alegria da noite de enramar as ruas só é "travada" pelas dificuldades funcionais que a presença dos "mirones" acaba por impor. 
     A visão do que estará a ser essa noite faz-me retornar aos tempos em que, ainda criança, visitei pela primeira vez a Festa dos Artistas. Com os meus pais, junto a alguns outros arronchenses, envergando os fatos guardados para as grandes ocasiões, lá tomámos assento na "caminete da carrera" e rumámos a Campo Maior.
     Recordo o deslumbramento em que me colocaram quer a multidão onde me integrei, quer a beleza que emoldurava a vila que eu já conhecia mas despida de papel.
     Era um tempo em que a festa se realizava de sete em sete anos. Um interregno enorme mas que se justificava quer pelo custo das festas, em gente e em materiais, quer pela necessidade de não a banalizar.
     Por razões perfeitamente compreensíveis: a entrada em cena dos meios de comunicação que a proximaram do mundo, uma maior facilidade de angariar os meios económicos necessários, a afirmação do poder local democrático e a manutenção da vontade dos e das campomaiorenses entre outros, levaram à diminuição desse tempo de espera entre uma e outra edicção.
     Recordo algumas das sessões em que o mau tempo conseguiu num único dia destruir toda a ornamentação feita e a vontade inquebrantável daquele povo que teimava em repor nas ruas a beleza saída das suas mãos.
     Era esta a Festa dos Artistas. A festa feita pelo querer da população organizada rua a rua, a força da tradição e cultura de um povo de antes quebrar que torcer.
     Nos últimos anos a FESTA mantendo os mesmos níveis estéticos e artísticos, e o envolvimento das populações acabou por "mudar".
     A periodicidade que passou a estar ligada aos ciclos eleitorais e aos interesses partidários de quem pode decidir da sua realização, a "profissionalização" da sua gestão e promoção, começam a enredá-la em teias de interesses que extravasam a tradição e a cultura de um povo e, na minha modesta opinião, deixaram de ser a Festas dos Artistas para passarem a ser festas de "artistas".
     E no entanto, continuam lindas!

ds

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