sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

No IX Congresso das CC.OO de Extremadura


Participei ontem, dia 13-12-2012, em Mérida, no IX Congresso da União Regional das CC.OO. de Extremadura e intervi, a convite do Presidente do Congresso na sessão inaugural.

Essa honra foi igualmente concedida a mais  dos inúmeros convidados presentes: Leonor Nogales do Ayuntamento de Mérida, Pedro Escobar - Coordenador Regional de Isquierda Unida, Guilhermo Vara - Secretário Geral do PSOE de Extremadura, Francisco Pinilla - Secretário Geral da UGT Extremenha, Ignácio Fernandez Toxo - Secretário Geral das CC. OO e José António Monago - Presidente do Governo Regional.




Saudação ao IX Congresso das CCOO de Extremadura
Proferida por Diogo Serra em Mérida, 2012-12-13

      Um abraço fraternal aos companheiros e companheiras que conduziram até aqui esta organização de classe, que carrega as aspirações, a determinação e a coragem de milhares de Extremenhos e Extremanas e podem hoje, aqui neste seu IX Congresso, de cabeça levantada e de olhos nos olhos, reafirmar que as CC OO de Extremadura e os seus filiados, Não se Rendem!
     Saúdo, em nome da CGTP/Alentejo os delegados e delegadas ao vosso Congresso e por vosso intermédio, todos e todas que a uma só voz se têm batido por toda a Extremadura contra os que nos governos autonómico e nacional, na Comissão Europeia ou escondidos por detrás dos chamados mercados, têm procurado retirar direitos sociais, destruído o emprego, generalizar a pobreza e fragilizar a democracia.

Caros e Caras delegados e delegadas. Estimados/as Convidados/as.
     Permitam uma breve nota sobre a situação vivida na minha região e no meu país.
     Em Portugal e em particular no Alentejo vivem-se, como aqui, dias de grande dificuldade face às politicas que nos estão a ser impostas pelos que no país se assumem como capatazes do capitalismo internacional e procuram a pretexto da crise que eles próprios provocaram proceder ao “acerto de contas” com a Revolução de Abril.
     Um ano e meio depois de terem tomado posse e após inúmeras malfeitorias o governo central e a maioria de direita que o apoia fizeram aprovar um Orçamento de Estado que está objectivamente fora da Lei.
     Um Orçamento de Estado claramente inconstitucional porque esmaga os rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas e deixa incólumes os rendimentos do capital.
  • Inconstitucional porque impõe uma sobretaxa aos rendimentos do trabalho, enquanto isenta da mesma outros rendimentos, nomeadamente os patrimoniais.
  • Inconstitucional porque mantém o roubo dos subsídios que o Tribunal Constitucional já declarou ser ilegal,
  • Inconstitucional porque aposta na destruição do Serviço Nacional de Saúde universal e tendencialmente gratuito, porque quer impor a destruição da Escola Pública de qualidade e acabar com o ensino publico universal e gratuito.
  •  Inconstitucional porque aposta no desmantelar do Poder Local Democrático.
  • Inconstitucional porque ataca claramente as fundações do Estado Democrático ao reduzir drasticamente as funções sociais do Estado e em alienar instrumentos fundamentais para a soberania nacional passando para o capital privado e estrangeiro empresas e serviços fundamentais.
Caras delegadas, Caros delegados, estimados convidados.
     Num tempo em que os ventos do retrocesso percorrem a Europa e com maior intensidade os países do sul, onde se inserem as nossas regiões verifica-se que a imposição de mais sacrifícios à classe trabalhadora e outras camadas desfavorecidas só pode ser travada com a luta persistente e abnegada dos trabalhadores e trabalhadoras.
     Tem sido assim ao longo de todo o ano num e noutro lado da fronteira politica que durante séculos separou extremenhos e alentejanos.
     As dezenas de manifestações e protestos que têm inundado ruas e avenidas das principais cidades da Euro Região, as Greves Gerais que cumprimos e em particular a Greve Geral de 14 de Novembro com toda a carga simbólica de ter sido a primeira de dimensão ibérica aí estão a mostrar que os trabalhadores e o seu movimento sindical não se rendem.
     No lado português tem sido a CGTP-IN a assumir a resistência às malfeitorias que os capatazes do capital internacional tem procurado impor-nos.
     Ontem mesmo, o governo avançou com mais uma malfeitoria, procurando impor a passagem das indemnizações por despedimento para apenas 12 dias por ano de trabalho e num máximo de 12 anos. Mais uma a juntar a muitas outras.
     Num ano em que os Alentejanos assinalam o centenário da primeira greve geral por solidariedade com a luta dos rurais e os cinquenta anos da conquista da jornada de oito horas nos campos o governo procura retirar direitos, aumentar a carga horária, esmagar os salários e trocar direitos por medidas caritativas.
     Todas as malfeitorias vêm embrulhadas no fatalismo da necessidade de obedecer às imposições da troika estrangeira como se Portugal e os portugueses estivessem condenados à submissão e colonização financeira do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia.
     Para a CGTP-IN a submissão não pode ser o caminho. É preciso pôr termo à política da especulação, da agiotagem e da chantagem.
     É preciso renegociar a dívida, alargar os prazos para a redução do défice e pôr o BCE a emprestar dinheiro aos Estados, para pôr termo ao fomento da especulação financeira;
      É preciso investir na produção nacional para criar riqueza e emprego, reduzir as importações e a dívida;
      É preciso taxar o capital, as transacções nos mercados financeiros, os dividendos e as mais valias e atacar a fraude e a evasão fiscal;
     É preciso por termo à cartelização dos lobbies da energia, dos combustíveis e das comunicações, que exploram as famílias e as empresas, para aumentar os lucros dos grandes accionistas.
      É preciso acabar com os benefícios e isenções fiscais aos grandes grupos económicos e financeiros e com a rapina das PPP ao erário público.
      Lá, como cá, os trabalhadores e os seus sindicatos cumprem o seu papel. Resistem e lutam, propõem alternativas e soluções.
      Lá como cá, é preciso construir alternativas a estas políticas e aos governos que as impõem.
      E para isso, lá como cá, compete às forças políticas trabalharem e lutarem para que tal seja possível no mais curto prazo.
 
     
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Há futuro?


Há futuro?

A greve geral de dia 14 de Novembro que a CGTP-in convocou e foi cumprida por muitos milhares de trabalhadores por todo o país, em todos os sectores de actividade, foi um momento alto da luta contra as políticas e o governo que a mando de interesses estrangeiros está a destruir a economia portuguesa e a impor o empobrecimento acelerado das populações e do país.

            Foi também um momento de viragem na percepção do que está em causa com as politicas e as birras que o governo vem assumido e, principalmente, de que há caminhos alternativos ao roubo organizado aos rendimentos das famílias e aos direitos dos trabalhadores e das populações.

 Mesmo em regiões como a nossa, onde a dimensão dos ataques costuma superar a nossa capacidade de reacção, foi possível colocar na opinião pública a existência de alternativas às políticas prosseguidas ao longo de décadas e agora brutalmente intensificadas.

 Digamos que também aqui, os trabalhadores e as suas organizações de classe, cumpriram com as suas responsabilidades mas, como todos verificamos isso não é suficiente.

            Em regiões como a nossa onde a ação política dos governos, deste e dos que o antecederam com políticas parecidas, tem vindo a desmantelar a nossa capacidade produtiva e a destruir empregos, a encerrar os serviços públicos e a impor-nos o mais completo isolamento, é preciso que outras camadas da população assumam a necessidade de irem, também, ao combate.

            O tempo que vivemos é um tempo de ação. Agora já não há mais tempo de fingir que não vemos, nem ouvimos e muito menos para continuarmos a eleger como inimigos os que são efectivamente os nossos aliados e a considerar amigos os que são, efetivamente, os carrascos das nossas condições de vida e de trabalho.

Hoje, no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode continuar a fingir que não percebe que se continuarmos a deixar que nos roubem o salário e nos atirem para o desemprego, aos vinte e sete estabelecimentos comerciais já encerrados na rua do Comércio, juntar-se-ão muito mais.

Hoje, no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode continuar a fingir que não percebe que se continuarmos a assobiar para o lado o nosso IPP encerrará nem que seja por falta de alunos, que ao Hotel de S. Mamede, ao Restaurante do Castelo, à Fabrica de Bolos do Alentejo e a tantos outros, juntar-se-ão muitos mais.

Hoje no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode fingir que não percebe que é a cidade e o distrito que estão em risco de continuarem a ter vida se permitirmos que continuem a encerrar serviços como já encerraram dezenas de escolas e centros de saúde, se aceitarmos o desmantelamento do serviço de transporte ferroviários, se deixarmos que continue o ataque ao poder local democrático, começando pelas freguesias mas visando os próprios municípios.

Faço parte daqueles que acreditam que o país e o distrito têm em futuro. Mas esse futuro só será possível se outros sectores seguirem o exemplo dos trabalhadores e da sua central sindical e se disponibilizarem para passar do queixume à ação. Se todos e todas passarmos a uma posição de proposta e de combate.

Não vão faltar, infelizmente, motivos e ocasião para nos encontrarmos em novas batalhas!

Diogo Serra
(publicado no Jornal Alto Alentejo de 5/12/2012