domingo, 28 de outubro de 2012

A USNA na Luta em defesa dos serviços públicos


Intervenção de Diogo Serra
 
Hoje iniciámos no Norte Alentejano um processo de participação cidadã que procura na unidade da acção, a força capaz de alterar o que a débil densidade populacional e empresarial e a pouca influência eleitoral lhe tem imposto: o alheamento e mesmo as malfeitorias por parte do Poder que à distância nos olha como coisa que não tem préstimo, nem sequer eleitoral.

A Plataforma que criámos e que hoje aqui se apresenta não é ainda a resposta a todos os nossos problemas. Ainda está longe de incluir todos e todas que podem e a nosso ver devem, vir a integrá-la. Ainda não conseguiu esbater as hesitações, as desconfianças, a descrença de muitos, cidadãos e organizações, habituadas a assobiar para o lado, a ver só o seu umbigo, a acreditarem que ligadas ao poder colherão sempre algum fruto.

Há um longo caminho a percorrer, mas é já um instrumento que adiciona vontades, junta cidadãos e organizações disponíveis para trabalharem em conjunto em defesa do Estado Social construído a partir de Abril e da defesa do direito, que todos temos, de viver e trabalhar nos nossos territórios, com os mesmos deveres e direitos de quaisquer outros cidadãos e organizações que vivem em qualquer outro ponto do território nacional.

Caros/as companheiros/as

 Todos nós conhecemos o preço que o Norte alentejano e as suas gentes tem vindo a pagar por termos permitido que nos diferentes governos eleitos desde 1976 tenham estado presentes pessoas e políticas contrárias ao espírito da Revolução do 25 de Abril e à nossa Constituição e que agora são levadas ao extremo porque, como dizia com certa graça um deputado da oposição, o actual governo toca a mesma música dos anteriores mas… mais forte e em ritmo acelerado.

 O resultado é devastador:

- Destruição do nosso sector produtivo, desde as empresas ditas tradicionais, Lanifícios, corticeiras, agro-alimentares, rochas ornamentais foram destruídas e encerraram, outras, apresentadas como do futuro, seguiram o mesmo caminho: Delphi/Inlan, Subercentro, Johnson Control’s  e mesmo as ligadas ao turismo, considerada por muitos como a salvação do distrito, nascem e morrem ao mesmo ritmo que as restantes: veja-se a situação do Hotel de S. Mamede, das Pousadas de Sta Luzia e S. Miguel para citar apenas duas delas.

- Retirada, extinção ou encerramento de serviços:

Dezenas de escolas, centros de saúde e SAPs, postos de correio, transportes públicos.

 No que respeita ao transporte ferroviário. O distrito de Portalegre deixou de ser o único distrito que não era servido por um inter-cidades para ostentar hoje o título de único distrito que não tem serviço ferroviário de passageiros.

No que respeita aos transportes rodoviários a situação não é muito melhor. Que o digam os jovens que estudam em Coimbra e que tem como “estação mais próxima” o Perdigão.

 A situação quase trágica que vivemos seria ainda agravada se os deixarmos, encerrar as Juntas de Freguesia (muitas delas a única entidade que presta os serviços que outros deixaram de prestar: cobrança da energia, posto de correios, disponibilização de medicamentos, etc…) se permitirmos o encerramento dos tribunais, se reduzirem a capacidade dos municípios, se encerrarem mais serviços de saúde.

 Não podemos permiti-lo!

 Não podemos permitir que nos levem todos os serviços como não podemos permitir que através do roubo sistemático dos nossos parcos rendimentos nos obriguem a sair daqui.

 O Programa de Agressão a que alguns nos amarraram e que o governo actual tem como bíblia tem vindo a destruir a economia do país e a empurrar para a pobreza um número crescente de famílias.

 Depois de terem arrastado o país e os portugueses para a quase indigência os governantes servem-se do programa de agressão que negociaram com a troika estrangeira como desculpa para apresentarem um orçamento que visa aumentar o roubo a todos os trabalhadores:

 Com este orçamento:

 Aumenta brutalmente os impostos sobre os rendimentos do trabalho;

 Corta na protecção social, na saúde e na educação;

 Reduz ainda mais as pensões de reforma impõe o endividamento às famílias e nega o futuro às novas gerações;

 Cria mais desemprego e aumenta a precariedade.

 Para percebermos isto não precisamos sair do distrito onde o desemprego em Setembro atingiu um novo record com 10.265 desempregados e uma taxa a aproximar-se dos 20% e crescem as situações de salários em atraso);

 Mas mais, agrava a recessão económica, aumenta a dívida do estado e projecta um destino de miséria para Portugal.

 O Governo, quer pôr os trabalhadores e o povo a pão e água. É preciso que todos nos levantemos contra o aumento da exploração e o empobrecimento generalizado das famílias e do país.

 É preciso que também aqui, afirmemos que estamos disponíveis para esse combate.

 E que ninguém se iluda. As políticas que esta gente procura aplicar não são o caminho que nos resta. Há outros caminhos que no Movimento sindical temos vindo a demonstrar e a defender:

 Agora, quando já não conseguem esconder que o dinheiro que banqueiros amigalhaços de quem está hoje no poder roubou da Banca, do BPN e de outros, é superior ao roubo que fizeram aos trabalhadores da Administração pública e aos reformados e pensionistas, tomaram medidas para os condenar?

Estão presos? Foram chamados a repor os montantes roubados? Claro que não.

Alguns deles fazem parte dos detentores das tais reformas milionárias que continuamos a pagar.

  Mas há mais.

 A CGTP-IN apresentou em sede de concertação social 7 medidas capazes gerar as receitas adicionais que o governo quer tirar aos trabalhadores e ás populações e que já integrou na sua proposta de orçamento.

 Vejamos as propostas que o Governo não quer:

1ª Taxação em 0,25% das transações financeiras (receita de 2,4 mil                                                                         milhõesde euros);

2ª Progressividade do IRC (escalão de 33,33%) para as empresas com             volume de negócios superior a 12,5 milhões ( receita de 1,1 mil

3ª Uma sobretaxa de 10% sobre dividendos distribuídos aos grandes                        accionistas (receita de 1,5 mil milhões de euros)

4º Combate à evasão fiscal (receitas de mil milhões  de euros)

5º Redução de 50% dos encargos públicos com as PPPs (poupança de                       769,2 milhões de euros,

6º Revogação de benefícios fiscais atribuídos ao sector segurador e financeiro e também às fundações privadas dos grupos económicos (poupança de 689,3 milhões de euros)

7º O banco Central europeu passar a emprestar aos Estados. À taxa de referência de 0,75% que usa para emprestar à banca privada, dinheiro que depois os Bancos usam para emprestar aos estados a 5,6,7,e mais & de juros (a poupança de 4.713,7 milhões de euros.

E aqui estão cerca de 12 mil milhões de euros.

Só que o governo não quer este caminho.

Procura conseguir os montantes que necessita nos bolsos de quem trabalha, dos reformados e pensionistas e aí está o seu Orçamento de Estado com a proposta de Lei que reduz sistematicamente os valores dos subsídios de desemprego, do rendimento social de inserção e do complemento solidário para idosos; com a suspensão do cheque dentista; com a taxação aos desempregados e aos reformados; .com a redução do salário mínimo nacional.

É absolutamente inaceitável.

É uma ofensa aos mais pobres dos pobres e um ataque sem precedentes ao Estado Social e é também uma profunda hipocrisia:

Este Governo de hipócritas diz com pompa que vai diponibilizar mais verbas para aumentar as Cantinas sociais ou seja, esta gente que rouba os salários e as pensões que atira em cada dia mais e mais famílias para a pobreza, está disponível para lhes garantir a sopa-dos-pobres como fazima alias em pleno fascismo.

O mesmo governo enche a boca com o facto de dizem irem garantir um aumento das pensões mínimas em 1,1%.

Ou seja vão aumentar em 6 a 9 centimos por dia quem tem pensões que não chegam aos duzentos euros.

Vêm agora, pela voz do CDS,  quando o Movimento Sindical em Portugal, em Espanha, na Grécia…  convocaram greve gerais para o próximo dia 14 de Novembro, defender o sonho fascista de acabar com o direito à greve e partir a espinha aos sindicatos. É um desejo antigo mas que já confirmaram de difícil concretização.

Mas quero daqui recordar-lhes  a sugestão a que o deputado Bruno Dias deu voz na Assembleia da Republica.

"Querem que as greves acabem? É simples - parem de roubar quem trabalha!

Quem luta, quem faz greve, não está a divertir-se numa festa: para além de perder o dia de salário, está a enfrentar a repressão, as ameaças, as chantagens... e também os insultos de quem desenterra bafientas diatribes de outros tempos.

E quero por fim convidar-vos a continuarem a dar os passos necessários na construção do caminho que nos há-de libertar desta tortura e anunciar-vos que também aqui iremos cumprir a greve geral e para ela contamos com todos e todas que não se rendem, todos e todas que apostam na luta para garantirmos aos nossos filhos e netos o direitos que todos temos de vivermos com dignidade.

domingo, 21 de outubro de 2012

Primeiro levaram os comunistas, não me importei!...


     Os jornalistas foram eles próprios notícia nos últimos dias.
     As greves decretadas e cumpridas pelos Jornalistas do Público e da Lusa trouxeram para a ribalta os problemas de uma classe profissional que nos traz a notícia mas que raramente a integra.
     Para os norte alentejanos estas notícias foram chegando através da comunicação social nacional e foram sendo acompanhadas com mais ou menos atenção um pouco por todos e todas os que trabalham ou são próximos da comunicação social seja ela local ou nacional.
     Para a classe não deixa de ser motivo de profunda reflexão tanto mais, que também aqui, já alguns profissionais perderam o posto de trabalho e a generalidade vive "o medo" de lhes seguir o exemplo uma vez que nesta região onde a vontade de uns poucos impõe que não tenhamos direito ao emprego, à saúde, ao ensino, a transportes dignos, a energia eléctica decente, a captações da TV... dispor de imprensa livre será sempre encarada pelos mandantes como  um luxo a que não temos direito.
     Mas o momento que atravessamos pode também (pelo menos) permitir-nos uma outra reflexão:      
     Será que vale a pena abdicarmos da missão que as democracias destinam à comunicação social e que uma citação de George Orwell agora em moda nas redes sociais, mostra com total clareza?
     Será que aquilo a que aqui, entendemos como notícia é a verdadeira notícia?
     Será que é por desconhecimento e distração que não vimos muito do que por aqui acontece?
 
Dois exemplos entre muitos que valerá a pena analisar.
  • Qual ou quais razões impuseram que apenas a LUSA tivesse reparado que, quando da visita do Ministro da Administração Interna a Portalegre, para o compromisso de honra dos militares da GNR, o aguardava uma manifestação exigindo que o Norte Alentejano não continuasse a ser discriminado?
  • Mais recentemente quando da Marcha contra o Desemprego, iniciativa que todos conheciam e noticiaram, nenhum órgão de informação regional tenha feito a cobertura da passagem da Marcha pelo Distrito e particularmente da Manifestação que às 8,30 da manhã do dia 9 de Outubro percorreu a vila de Avis?
Quando a classe luta, e faz muito bem, pelos direitos dos profissionais da comunicação social mas também pelo direito dos portugueses e da nossa democracia a disporem de informação livre, talvez valha a pena refletir do papel que deve assumir a comunicação social e os seus profissionais na resistência à extinção das condições para vivermos com dignidade em regiões como a nossa.
Diogo Serra
Outubro de 2012